Há alguns anos, numa época em que a tecnologia ainda não permitia acesso à internet com um simples deslizar de dedo pelo smartphone, uma grande montadora solicitou ao CIEE que realizasse o processo seletivo para seu programa de estágio. Uma das primeiras perguntas aos candidatos, estrategicamente feita para delinear o perfil de quem almejava a vaga, era sobre hábitos de leitura. “Quem folheou ao menos um jornal hoje?” e apenas um levantou a mão. Se fosse formulada hoje é possível imaginar que talvez nem o mesmo solitário se manifestasse.
Apesar de vivermos na chamada Era da Informação, contraditoriamente, raros são os jovens que buscam conhecimento, por mais acessíveis que sejam. Há, claro, as notícias que vez ou outra são compartilhadas pelas mídias sociais, mas que – pela afinidade entre amigos ou pelos algoritmos que selecionam automaticamente quais posts serão visualizados ou não – tendem a transmitir visões parciais de fatos ou restringem a variedade cultural que a internet oferece.
Um rico repertório cultural faz a diferença na forma de encarar o mundo e, de quebra, impacta diretamente o desempenho do jovem no mercado de trabalho. Um estagiário ou aprendiz mais informado tem mais jogo de cintura para encontrar soluções para desafios propostos ou mesmo mais confiança para participar de reuniões ou para se expressar verbalmente, competência que se tornou um verdadeiro diferencial.
O jovem, como bem destacou o visionário Steve Jobs – um dos fundadores da Apple – precisa se manter curioso. O mundo está repleto de fontes ou de inputs – para manter a linguagem da computação – de informações, muitas delas gratuitas e enriquecedoras. Nessa fase da vida – e em todas as outras, a bem da verdade – é imprescindível despir-se de preconceitos e privilegiar não só a quantidade, mas também a qualidade do que se absorve de conhecimento.
E vale tudo: de shows musicais a palestras gratuitas; de livros clássicos aos sucessos literários instantâneos e, talvez, passageiros; dos filmes cults aos arrasa-quarteirões do verão norte-americano. Esse caldeirão cria uma alquimia de influências que se interconectam, ampliando a visão de mundo, a capacidade criativa e mudanças de comportamento. A hora de investir em formação cultural é agora.
* Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp