Historicamente, o rádio no Brasil é um veículo de comunicação de grande audiência, mas pouco reconhecido pelo mercado publicitário, o que lhe rendeu o apelido de “primo pobre” entre as mídias, uma referência ao quadro com Brandão Filho e Paulo Gracindo, na Rádio Nacional do Rio (Primo pobre e Primo rico). No dia 25 de setembro, é comemorado o “Dia do Rádio” em homenagem ao dia de nascimento do Edgard Roquete Pinto, professor que junto com Henrique Morize, trouxe o rádio para o país oficialmente. Porém o assustador é que o rádio, enquanto meio de comunicação, está em agonia profunda, sem verbas, sem criatividade e sem profissionais. Embora as pesquisas demonstrem que ainda é o veículo de maior audiência das oito da manhã as seis da tarde, a grande maioria das emissoras não consegue o mínimo de investimentos para manter suas programações. A história do rádio no Brasil tem início com uma injustiça, pois o padre gaúcho Landel de Moura inventou o primeiro equipamento para a transmissão de voz humana a distância sem fio, mas acabou sem o reconhecimento devido, vindo a falecer sem que sua história fosse contada aos ouvintes brasileiros. Ou seja, de saída, o inventor já foi premiado com o ostracismo. A morte do rádio foi anunciada com a chegada do cinema, da TV e, mais recentemente, da Internet e, mesmo após 90 anos de serviços prestados, ainda se fala nisso. Mas, uma pesquisa do Grupo de Profissionais de Rádio de SP, com os criativos das agências de publicidade, mostra que o veículo é o que melhor se adapta as novas plataformas digitais. Então o que deu errado para que o meio seja tão desprestigiado? Vários motivos podem ser listados. O primeiro, e mais assustador, é que as emissoras não conseguiram profissionalizar a gestão e muitas ainda não conseguem se reconhecer como empresas de comunicação, não têm planejamento, nem organização, nem fluxo de caixa. Dentro deste aspecto, também não há uma política de gestão de talentos. É comum perderem profissionais formados nas rádios para outros veículos que pagam mais e oferecem alguns benefícios considerados básicos, como plano de saúde. Muitas vezes, não há bons gestores nem profissionais qualificados na produção de conteúdo. Com isso, a qualidade e a criatividade do que vai ao ar cai e não se encontra traços mínimos de um produto diferenciado. Para os gestores, tem de haver mais cortes, para os conteudistas tem de haver mais investimento. E quem sofre é o ouvinte que não reconhece nenhuma diferença entre as programações das emissoras. As empresas estão perdendo um ótimo momento e boas ferramentas digitais para interagirem com seus ouvintes e fidelizá-los por meio de uma participação muito mais ativa. A internet veio para ficar e com ela um novo perfil de ouvinte, mais rápido e seguro de suas necessidades. O rádio não morre, mas tem de se reciclar, se reinventar, levando uma nova programação para a internet. Não adianta aguardar uma solução mágica que levará o veículo a uma nova era de ouro. O tempo passa e as pessoas mudam, os veículos também têm de mudar. *Alvaro Bufarah é jornalista e pesquisador do meio rádio na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), mestre em comunicação e mercado pela Faculdade Cásper Líbero (FCL), pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e professor do curso de Rádio e TV. Atuou mais de 20 anos no mercado de rádio nacional e internacional. | ||
Sobre o Mackenzie A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. |
A agonia do rádio no Brasil
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