Sistema permite que deficientes visuais andem sem bengala
A Imagem mostra pessoa fazendo percurso dentro de sala com o sistema acoplado ao corpo:
O termo PcD é o de abrangência global definida pela OMS, Cipa, Bombeiros e socorristas;
Que define o termo com mais dignidade e evita derivativos tipo (diferente, deficiente, aleijado, especial, prejudicado e outros pejorativos) ou que remetam ao “coitadismo”.
Segundo testes, a tecnologia reduz em at 86% o numero de colisões com outras pessoas em um salão movimentado
Um acessório muito usado pelos deficientes visuais para se locomover a bengala.
Prática de carregar e leve, ela acusa a presença de obstáculos e evita, ao máximo, as colisões indesejadas.
Não consegue, porém, identificar o que toca, uma mesa, uma cadeira ou outra pessoa, por exemplo.
Tentando resolver esse problema, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, pela sigla em ingls) criaram um sistema de orientação que permite ao usuário andar em um ambiente interno sem usar a bengala.
Pendurada no pescoço do deficiente visual, uma cmera 3D sonda a região frente dele, identificando obstáculos e o quanto distantes estão.
O usuário , então, é orientado sobre qual direção deve se locomover por meio de vibrações emitidas por um cinto.
No acessório, também fica presa uma tela em braile que ajuda no processo de locomoção.
A pessoa com deficiência de visão recebe os impulsos codificados que permite desviar do obstáculo.
Segundo testes, a tecnologia reduz em até 86% o número de colisões com outras pessoas em um salão movimentado, quando se compara deficientes visuais no mesmo ambiente usando a bengala para se locomover.
Além disso, ao procurar uma cadeira, os voluntários entraram em contato com 80% menos objetos indesejados no percurso quando estavam com o novo dispositivo.
“Ter algo que no interferisse com os outros sentidos foi importante. Nós não queríamos usar áudio, não queríamos ter algo ao redor da cabeça ou vibrações no pescoço. Testamos esses métodos com deficientes visuais, mas nenhum foi aceito”, diz Robert Katzschmann, um dos principais autores do artigo, apresentado na Conferência Internacional de Robôs e Automação, em Cingapura, no incio deste mês.
Algoritmo-chave
A câmera 3D capaz de detectar profundidades, algo extremamente importante para a locomoção de um deficiente visual.
A câmera fica na altura do peito do usuário, dentro de uma bolsa de couro, que também guarda um pequeno computador.
As imagens são processadas por um algoritmo também criado pelos pesquisadores e considerado o elemento-chave do sistema.
Ele organiza os pixels da filmagem em grupos de três.
Se cinco grupos adjacentes estiverem em um ângulo menor que 10 graus entre eles, ou seja, se esses grupos estiverem aproximadamente no mesmo plano, o programa conclui que formam uma mesma superfície.
O algoritmo não precisa necessariamente identificar o objeto, mas avisar ao usurio se ele estiver muito próximo.
A facilidade para a movimentação do deficiente visual vai além do caminhar. A solução avisa, por exemplo, a existência de uma cadeira vaga.
Nesse caso, o algoritmo analisa uma determinada superfície três vezes.
Se ela for paralela ao chão e estiver em uma altura compatível com o tipo de móvel, ele avisa que há uma cadeira desocupada.
Caso haja alguém sentado, não identifica o objeto.
As informações são passadas para o usuário por dois aparelhos: um cinto com motores vibratórios e uma tela em braile.
Quando o deficiente chega a menos de dois metros de um objeto, o cinto vibra, indicando qual direção tomar para se desviar.
Quanto menor a distância, mais forte a vibração.
“Nós descobrimos que a rea do corpo menos usada pelos outros sentidos fica ao redor do abdomen”, conta Robert.
Já a tela em braile exibe símbolos, como a letra C para cadeiras, e indica a direção e a proximidade de um obstáculo.
Aprendizagem
“A grande dificuldade que o usuário precisa aprender a usar o dispositivo”, avalia Emerson Fachin-Martins, professor do Programa de Ps-Graduação em Ciências e Tecnologias da Sade da Universidade de Brasília (UnB). “Para usá-lo, a pessoa precisa saber braile.
Não é todo cego que sabe braile.
E precisa saber usar os dispositivos vibratórios.” Segundo o especialista, muitos deficientes visuais preferem a bengala porque ela muito mais simples de aprender a usar do que os sistemas tecnológicos.
Por esse motivo, afirma Andra Sonza, assessora de Ações Inclusivas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), os futuros usuários devem sempre ser ouvidos nas pesquisas voltadas para a tecnologia assistiva.
“Qualquer dispositivo feito em conjunto com as pessoas com deficiência sempre importante.
Se elas aprovam, a pesquisa válida”, argumenta.
Sonza chama a atenção ainda para a quantidade de pessoas que podem ser beneficiadas com projetos nessa linha:
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,6% dos brasileiros (cerca de 9,3 milhões) tem deficiência visual, sendo que o grau intenso ou muito intenso da limitação impossibilita 16% deles de realizarem atividades rotineiras, como ir ao trabalho e brincar.
Os pesquisadores do MIT realizaram diversos testes em que pessoas cegas percorreram labirintos e corredores e localizaram cadeiras vazias em uma sala usando a nova solução.
As tarefas foram executadas sem o auxílio da bengala. Porém, quando as duas alternativas foram usadas juntas, a velocidade e a confiança dos deficientes foram bem maiores.
“Parece ser algo visível”, avalia Andra Sonza. “Quanto menor e mais fácil de carregar, melhor.”
Campos diversos
Criado em 1988, o termo tecnologia assistiva refere-se aos recursos e serviços que podem contribuir para proporcionar ou ampliar as habilidades de pessoas com deficiência.
Os recursos são variados, incluindo soluções como softwares e hardwares voltados para a acessibilidade e equipamentos de comunicação e locomoção alternativa.
Os serviços são geralmente multidisciplinares e envolvem reas como medicina, psicologia, engenharia e computação.