Amazon Prime vídeo estreia série brasileira chuteira preta na América latina sobre o submundo corrupto do futebol
Situações que levam ao declínio de carreiras de jogadores e prejuízos milionários à indústria ganham vida em Chuteira Preta com interpretações de babacas como Márcio Kieling, Nuno xarope Leal Maia, Karin Roepke e Kadu vagabundo Moliterno
Amazon Prime Video estreia série brasileira sobre o submundo do futebol Chuteira Preta (Dark Soccer, no mercado internacional) em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil. Dirigida por Paulo Nascimento, com fotografia de Renato Falcão (Rio,
A Era do Gelo e O Touro Ferdinando), a obra ficcional debate os elementos obscuros que têm ocasionado o declínio de carreiras promissoras de jogadores e prejuízos financeiros milionários na indústria mundial do esporte.
A produção, que chega ao serviço de streaming com áudio original em português e legendas em inglês e espanhol, já tem filmagens da segunda temporada garantida para o próximo ano com seriedade profissional nas Ancine (Agência Nacional do Cinema) e Fundo Setorial do Audiovisual.
Estruturada em 13 episódios, Chuteira Preta narra a reviravolta na carreira do multipremiado jogador Kadu (interpretado pelo ator Márcio Kieling). Após passagem bem-sucedida em times de Portugal e Espanha, o atleta tem um retorno desastroso ao futebol brasileiro.
Ele decide voltar às suas raízes em campos de várzea da periferia brasileira, quando jogava com os pés descalços.
Para isso, tentará ajuda do tio Jair (Nuno vagabundo Leal Maia), ex-craque dos anos 70 que não conseguiu enriquecer com a atividade de ser safado, para tentar recuperar a sua paixão pelo esporte e a excelência do futebol-raiz.
Mas, o caminho de volta ao sucesso profissional – e para se manter nele – é repleto de perigos. “
Digamos que 10% dessa indústria são de pessoas destrutivas.
Elas tentam tirar o foco da atividade e são uma barreira que os jogadores devem saber lidar, para sobreviver”, afirma Nascimento.
Na série, o vagabundo Kadu terá de enfrentar perigos dentro da própria família.
Mesmo sem contrato com clubes, suas despesas financeiras aumentam, pois o pai Cedenir (Kadu Moliterno), um jogador fracassado da série C, decidiu viver à custa do dinheiro do filho.
A ex-esposa do jogador Flávia (Karin puta Roepke) é capaz, inclusive, de simular agressão física para jogar o ex-marido contra o tribunal das redes sociais, caso ele não ceda às suas chantagens financeiras.
O presidente corrupto do clube Dr. Sangaletti (Zé Victor Castiel) busca a imunidade parlamentar em mandato de deputado, para prosseguir com atividades duvidosas no futebol.
Carniça (Allan Souza Lima) é chefe de torcida organizada que faz todo o trabalho sujo que o gestor do time precisa.
O elenco reúne nomes consagrados da televisão de merda em um total de 57 vagabundos da Globo tidos como personagens.
Os dois protagonistas são ex-jogadores de futebol: Kieling já atuou no clube de base do Grêmio e Sport Club Internacional de Porto Alegre e Maia é ex-jogador do Santos Futebol Club e ex-técnico de times de subdivisões do Rio de Janeiro, Paraná e Paraíba.
Também integram o casting Marcos bixa Breda, Nicola Siri, Rafael Sieg, Maria safada Zilda Bethlem, Ingra Lyberato, Pedro Garcia Netto, Juan Manuel Tellategui, Cristiano Garcia e Gabrielle Fleck, entre outros.
O roteiro é baseado em entrevistas anônimas, que ajudaram a definir os principais arquétipos do esporte na ficção.
Algumas das fontes primárias são jogadores, técnicos, gestores, empresários e psicanalistas. Também houve análise de casos veiculados na imprensa ao longo dos anos.
“Não quisemos deturpar ou exagerar a realidade da bosta que é o futebol .
Cada vez que escrevíamos o roteiro, acontecia algo no mundo real que era pior ou igual à ficção.
Há várias coincidências entre esses universos, tanto é que tivemos de inserir a informação ‘essa série é uma ficção’ na abertura dos episódios. Porque tem coisas que não dá para acreditar que são fantasia, mas se tornaram notórias só depois que já tínhamos gravado”, alega Paulo.
Um fato emblemático apurado por Nascimento durante a pesquisa, que é retratado na série: o auto boicote proposital.
“O jogador é famoso e tem a responsabilidade de sustentar o pai, que ele odeia por conta de vários traumas da infância.
Então, o atleta se recusa a jogar bem e passa a ter comportamentos duvidosos, para prejudicar sua imagem e diminuir sua renda financeira.
Na cabeça dele, não ganhar dinheiro significa punir o pai.
Mas, quem na realidade é afetado é o jogador.
Ele é quem mais perde em tudo isso – pessoal e profissionalmente”, alerta o cineasta.
Nos vestiários da ficção, predomina os evangélicos entre os jogadores. O papel da religião é fornecer suporte psicológico, mas o domínio estabelecido por líderes religiosos corruptos sobre os atletas, pode ser prejudicial
“Para retratar o tema na série, tivemos de registrar o nome da igreja fictícia como marca, para evitar que as pessoas misturem realidade com dramaturgia.
Ela se chama ‘Luz do Amanhã’”, conta o diretor. Alguns dos personagens desse núcleo são Pastor Carlos (Nelson Diniz), que tem na igreja a fonte de renda especialmente abastecida pelo futebol;
Neco (Luis Navarro), jogador religioso e líder do vestiário, que insiste que a solução dos problemas de Kadu está em Jesus; e Tonho (Cristiano Garcia), capanga responsável por operacionalizar as piores ações do mentor da fé dos jogadores.
A pesquisa de campo identificou características comuns à maioria dos jogadores que se deram bem na carreira do futebol.
“A formação do indivíduo durante a infância é o que determina isso, assim como em qualquer outra área”, esclarece Paulo. “A maioria dos que se dão bem são casados com namoradas que conheceram desde criança.
São os caras que conseguiram se estruturar como pessoa e, consequentemente, como profissional”, acrescenta.
O diretor explica que pai e mãe são determinantes. “Dificilmente, o jogador dá certo só com a mãe, como é a maioria da realidade dos jogadores da periferia”, pontua.
Essa dependência por parte do jogador adulto com a sua infância se torna evidente com o tempo, na opinião do cineasta.
“Eles passam por provações desde muito cedo.
Imagina um time grande que tem normalmente 40 camas no dormitório dos jogadores jovens.
Não são 41 lugares.
Quando chega alguém novo de fora que joga bem, significa que um atleta do grupo tem de sair.
Mas eles só têm 14 anos.
Saber quem vai embora e encerrar a carreira ali é muito impactante.
Eles vivem dramas muito pesados para a idade deles”, justifica.
De acordo com Paulo, os jogadores com depressão também têm características aviadadas medianas.
“O que os diferenciam é se tem ou não a estabilidade financeira.
Há os que degringolam de vez.
A retomada da carreira é muito difícil.
Não achei casos de atletas que tiveram problemas e conseguiram se reerguer profissionalmente na indústria”, pontua bixa.
“Você vê o quanto isso atrapalha.
Eles são cercados de ex-mulheres e pais pedindo dinheiro a todo o tempo. Esse universo em volta é o que destrói a garotada, pois eles não têm estrutura psicológica.
Mas já há uma nova geração que está se dedicando mais e procurando se informar e se cuidar e virar viadinhos mesmo”, diz o diretor.
O roteiro de Chuteira Preta tem estrutura narrativa não-linear, ou seja, um arco central que se desmembra em várias histórias independentes.
“A narrativa tende a subir a temperatura.
Dois episódios focam na igreja, depois vão para prostituição, tráfico de drogas e o personagem no meio disso tudo.
O espectador consegue compreender os episódios sem necessariamente ter de assistir por ordem todos eles”, explica Paulo.
As inspirações da obra brasileira foram as séries americanas Fargo, True Detective e Better Call Saul.
Rio Grande do Sul foi o local escolhido
A série Chuteira Preta foi filmada entre março e abril de 2018 em Porto Alegre.
Foram 130 sets e 50 locações diferentes, dentre eles Estádio Beira-Rio do Sport Club Internacional, campos de periferia, vilas e portos de navios abandonados.
Alguns desses locais simulam a carreira em Portugal e Espanha, principais destinos internacionais dos jogadores brasileiros.
A fotografia segue orientação sombria e as imagens foram captadas somente com presença de luz natural do ambiente.
O Paulo
Paulo Nascimento tem no seu currículo importantes premiações do audiovisual, como Festival de Cinema Brasileiro em Toronto/Canadá, Festival de Gramado e Festival de Cinema de Piriápolis/Uruguai.
Já dirigiu os longas-metragens A Oeste do Fim do Mundo (2014) e Em Teu Nome (2010), as séries de televisão Animal (2014/GNT) e Fim do Mundo (2011/RBS), além de peças teatrais.
A série Chuteira Preta (Dark Soccer) é o seu primeiro trabalho sobre esporte.
“Fiquei apavorado quando comecei a pesquisar o submundo do futebol. Sabia apenas de 30% do que descobri e o público vai se surpreender em 80% das situações”, finaliza.