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Grandes empresas podem impulsionar o desenvolvimento de startups brasileiras hoje

por Agência Canal Veiculação

O ecossistema de empreendedorismo e venture capital no Brasil é recente e vem se desenvolvendo, de maneira mais acentuada, nos últimos 10 anos. Diferentemente dos EUA e Israel, onde há um ambiente mais maduro de empreendedorismo e modelos de investimento de capital de risco, além de grande quantidade de universidades de excelência, incentivo fiscal e uma cultura de assumir riscos, o Brasil ainda está dando os primeiros passos para encontrar seu próprio modelo.

A diferença entre esses países se deve ao tempo de maturação do mercado. Nos EUA, por exemplo, os investimentos de capital de risco tiveram início na década de 1950, enquanto o Brasil contava com uma cultura sedimentada em commodities e investimentos diretos do Estado e internacionais para acentuar o processo de industrialização. Porém, o cenário brasileiro mudou. Além da participação direta em grandes empresas, em 2007 o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) passou a disponibilizar recursos para venture capital via editais do Criatec e linhas de crédito como Capital Inovador e Apoio à Micro, Pequena e Média Empresa Inovadora. Além dele, a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) voltada ao fomento da ciência, tecnologia e inovação, também desempenha um papel importante de subvenção econômica para projetos de inovação e programas focados em startups emergentes, como o Prime e o Inovar Semente. Isso sem falar nos programas mais estruturantes, como o Startup Brasil e InovAtiva Brasil, e iniciativas das agências de desenvolvimento locais.

No entanto, além do incentivo do governo, as empresas também possuem um papel importante na formação desse ecossistema, principalmente as grandes corporações. Para isso, elas precisam identificar diferentes ações que possam ser tomadas junto ao setor público, visando alavancar o surgimento de novas startups e contribuir com o desenvolvimento delas. Juntas, essas organizações têm ainda mais força para estimular o governo em prol da desburocratização do processo de abrir e fechar uma empresa e de um ambiente de negócios mais confiável.

Além desses fatores, a alta carga tributária, o risco de descaracterização de personalidade jurídica e o baixo acesso à formação orientada à gestão de negócios, dificultam o desenvolvimento da cultura de empreendedorismo e inovação. Porém, embora estejamos em um cenário desafiador, a chegada das novas gerações tem contribuído positivamente para uma mudança. Segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), 60% das pessoas que saem da universidade hoje querem ter a sua própria empresa, diferentemente do passado, em que a maioria dos estudantes buscavam carreiras corporativas e empreendedorismo era uma opção de necessidade.

É por isso que as grandes corporações podem influenciar positivamente o ecossistema de startups e fazer a diferença por meio de investimentos financeiros e geração de novos negócios. O Corporate Venture Capital é um dos modelos que pode ser adotado pelas organizações. Porém, esse mecanismo de inovação exige um nível de maturidade consolidado das companhias para que elas vejam a startup como uma parceira que poderá complementar os seus esforços de Pesquisa & Desenvolvimento, além de apoiar na expansão em mercados emergentes e obter acesso a tecnologias e modelos de negócios disruptivos. Movimento bastante frequente nas indústrias de tecnologia e farmacêutica.

Para se ter uma ideia, atualmente, mais de 750 companhias ao redor do mundo contam com uma unidade de venture capital em sua operação ou mantém investimentos de risco, de acordo com a publicação Global Corporate Venturing (GCV). Desta forma, as empresas conseguem aproveitar os recursos de uma grande corporação e, ao mesmo tempo, operar com velocidade e agilidade, característica das startups.

Fundada em 1991, a Intel Capital é um dos mais antigos Corporate Venture Capital do mundo e já investiu cerca de US$4 bilhões em aproximadamente mil empresas em diversos países. Outros exemplos são a Qualcomm Ventures, que há cerca de quatro anos, iniciou sua operação no Brasil, e a brasileira TOTVS Ventures, criada há três anos para fomentar o desenvolvimento de empresas de tecnologia B2B com sinergia de negócios com a companhia e potencial de internacionalização.

As empresas que desejam contribuir para o crescimento desse mercado no Brasil também podem atuar por meio da modalidade chamada Aceleração Corporativa, cujo objetivo é ajudar a desenvolver as startups pela troca de conhecimento e de experiências e também gerar negócios. A Wayra é uma iniciativa de grande consistência do grupo Telefônica e hoje está presente em 12 países. Há ainda a modalidade de Fundos Multicoporativos que, por meio de gestoras de venture capital, reúnem diversas organizações públicas e privadas como investidores em prol do mesmo objetivo, como os brasileiros Brasil Aceleradora de Startups e o Fundo Aeroespacial.

Porém, para adotar uma dessas modalidades, as grandes corporações precisam identificar não só a melhor forma de investir nesse mercado, como também empresas que façam sentido diante de seus direcionamentos estratégicos. Além disso, essas corporações podem ainda fomentar o setor por meio de incentivos aos seus executivos para que se tornem mentores de pequenas startups e as apoiem com os seus conhecimentos de negócio.

Nosso mercado ainda é muito incipiente e está se desenvolvendo aos poucos. Porém, enquanto não há uma definição de qual é o modelo de inovação brasileiro, as grandes empresas já podem e devem agir para impulsionar o ambiente de negócios nacional e estimular o empreendedorismo.

 

Por Marcelo Cosentino, Chief International and Sales Officer da TOTVS

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