Expandir os negócios para a Europa deixou de ser um sonho distante para os empreendedores brasileiros. Com amplos incentivos à inovação e processos desburocratizados, a Estônia tornou-se uma opção vantajosa para iniciar o processo de internacionalização das empresas. Esse ambiente inovador fez com que Raphael Fassoni deixasse o Brasil para empreender no território estoniano. Especialista em consultoria estratégica em Harvard, ele migrou em 2018 e iniciou o processo de criação da Estônia Hub, empresa focada em gerar novos negócios e parcerias entre brasileiros e estonianos nos setores público e privado.
Situada ao norte da Europa, a Estônia é considerada o país mais digital do mundo, segundo o portal Wired, e, atualmente, sedia unicórnios -, startups de alcance mundial -, como Bolt, Skype, Wise, a antiga Transferwise, e Pipedrive. A tecnologia também está incorporada à gestão pública, que disponibiliza 99% dos serviços em plataformas online e tem um arrojado programa de incentivo à abertura de novas empresas, principalmente, na área de tecnologia da informação. O site oficial e-Estônia reúne esses e outros dados de como a política de digitalização do país ocupa lugar central no desenvolvimento estoniano.
Segundo Fassoni, o ambiente inovador no país é bastante produtivo. Como exemplo ele cita os resultados alcançados pela Estônia Hub nestes três primeiros anos de existência: ao todo apoiou-se o estabelecimento de dez startups na Estônia, organizou-se delegações, 15 missões digitais e mais de 100 encontros que conectaram mais de mil pessoas. “Nosso objetivo inicial era apoiar um grande projeto por ano, estamos atingindo uma média de dois em maiores escalas e superando todas as demais metas”, diz.
As potencialidades da Estônia também chamaram a atenção dos brasileiros Thiago Huver e Renato Martins. Sócios da Martins Castro Consultoria, empresa portuguesa com atuação em sete países, eles viram no ambiente digital estoniano uma oportunidade de expandir a atuação da empresa na área de mobilidade internacional e serviços jurídicos para o país. Segundo Thiago Huver, que é especialista em Direito Internacional Privado, a Estônia se apresenta como uma oportunidade que se alinha com o propósito da Martins Castro de conectar pessoas em uma abordagem 360° que envolve desde o planejamento, documentação até a realocação em um novo país. Ele destaca ainda o fato de o ambiente estoniano ter sido apontado como o mais empreendedor da Europa pelo Fórum Econômico Mundial.
Outro fator que pode ser positivo para empresas e empreendedores, de acordo com o cofundador da Estônia Hub, Raphael Fassoni, é que estar na Estônia significa estar integrado ao mercado da União Europeia e ter acesso comercial aos demais países do bloco. Ele explica que o país não é o único alvo comercial, mas sim o lugar para se ter uma base de atuação. “A empresa e o empreendedor vão poder fazer testes, buscar investidores, mentores e identificar outros mercados na Europa. Para isso, é preciso se manter relevante e inovador porque aqui tudo é bastante dinâmico. Basicamente, essa tem sido a fórmula de atuação das startups que estão alcançando sucesso”.
Esse contexto de constante movimento e inovação foi também observado por Thiago Huver. Em visita ao país ele observou de perto os processos de gestão digital estabelecidos que transformaram a Estônia num hub altamente atrativo para novos empreendimentos. “A evolução tecnológica experimentada pelos estonianos é impressionante, eles são o terceiro da Europa em número de startups per capita e têm atraído talentos de forma constante”, diz ele ao reforçar que, atualmente, 25% dos trabalhadores das empresas de tecnologia da informação são estrangeiros, segundo o governo estoniano.
Ao mapear mais de 250 empresas locais, o especialista em Direito Internacional Privado percebeu que há uma abertura dos estonianos para os brasileiros. “Hoje, o Brasil é visto como celeiro de talentos na área tecnológica e de inovação, a Estônia sabe disso e tem facilitado o acesso para empreendedores e profissionais liberais”. Aos interessados em investir ou trabalhar no país, Huver diz que o primeiro passo é definir o tipo de vínculo que será estabelecido.
Ele explica que, se for empreender de forma remota sem migrar para a Estônia, é necessário abrir uma atividade pelo sistema e-residency ou cidadania digital. Caso a opção seja por se mudar para o local, é preciso visto de negócios e residência. “Assim como todo país europeu, a Estônia tem regras para que estrangeiros se instalem em seu território. Com serviços especializados, em menos de dois meses, a situação tende a estar resolvida”.
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