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Especialista comenta dificuldades e afeto no mundo invisível da periferia

por Carlos Augusto Queiroz

Moradora da periferia, Samanta Lopes recebe relatos que mostram as dificuldades vividas por populações vulneráveis durante o isolamento. Há muita gente em risco por conta da aglomeração de pessoas em espaços confinados e com pouco acesso a possibilidades de higienização – muitas casas não têm água, esgoto ou energia. Há até o relato de um líder comunitário de Paraisópolis, para a BBC Brasil, de que haveria vários casos de covid-19 no local.

Para aumentar o quadro de dificuldades, algumas pessoas relatam que tentaram usar os serviços de SUS e AMA, mas os atendentes mandaram-nas para casa. Dizem, também que falta medicação, médicos e há poucos leitos. Em meio a esse quadro difícil, recebeu dados preocupantes, informando que o número de agressões nas residências subiu. E sente relatar que a incidência tem crescido entre as famílias mais pobres. O uso de bebidas alcoólicas, misturado à fome e inércia, gera péssimos resultados.

Não é de estranhar que Samanta tem recebido pedidos de socorro vindo de comunidades, de serviços comunitários e de coletivos que estão tentando minimizar as dores dos mais desassistidos. Nesse grupo de “invisibilizados” há moradores de rua, pessoas trans sem teto e até prostitutas. Mas também aqueles que moram em áreas sem nenhuma infraestrutura e vendem coxinha, chocolate e bala e agora não podem sair, nem vender nada para comprar comida ou água. Nessa situação há, ainda, trabalhadores informais, pessoas que prestam serviços domésticos, aqueles que dirigem carros para terceiros, entre outros, que estão reclusos em casa sem dinheiro e sem nenhuma perspectiva de receber, porque estão parados. Até a comunicação é prejudicada, já que muitos não têm celular ou moram em áreas em que não há nem mesmo sinal.

Contraponto

É nessas horas que reconhece a situação privilegiada em que está, mesmo vivendo na periferia. Vive em uma casa própria, com acesso a água encanada, energia e internet. Mercados, farmácias e padarias estão abrindo. A empresa onde trabalha se organizou para poder manter as atividades a partir de casa, via internet. Mas e quem está ainda mais longe nas periferias ou nas ruas? Muitos nem têm celular e a internet muitas vezes nem chega.

Um contraponto a toda essa situação é algumas famílias que estão usando esse tempo dentro de casa para jogarem juntas, cozinharem juntas e dialogarem. Sim, nesses momentos de isolamento é hora de dizer não a tudo que a sociedade cobra: não é necessário focar em resultados, correndo contra o tempo, sempre ocupados e sempre desumanizados, quase surdos, cegos e mudos.

Samanta, coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, comenta que tem tirado um tempo para jogar com os filhos, fazendo algumas maratonas de filmes e jogando juntos. Estão testando algumas receitas mais econômicas, tentando usar os alimentos de maneira mais saudável e, de vez em quando, pedem pizza e comem juntos. Para evitar contágio, fazem tudo o que podem pela internet ou aplicativos: doações, compras de itens para consumo, exceto frutas e verduras. Tudo para não sair, porém em alguns momentos procuram o sol no quintal e ouvem um grande silêncio!

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