Segundo a Women in S&P 500 Companies de 2020, mais de 95% dos CEOs das maiores empresas são homens. Vive-se em uma sociedade patriarcal com um discurso estruturado a partir do homem branco e heterossexual, em que ele fala sobre tudo, é sempre ouvido e a opinião importa.
Partindo desse processo de construção da sociedade, tudo passa a ser observado através da racionalidade branco-normativa, ou seja, do entendimento ou conceito sobre qualquer assunto visto por esse único ângulo. É como se o homem branco fosse um ser universal, dono da razão, enquanto os demais apenas ramificações com visões limitadas. E quando se busca formas de ampliar esse espectro, para que se percebam todas as vozes, é que depara-se com o polêmico e famoso termo lugar de fala.
“O lugar de fala desconstrói a ideia de um ponto de vista universal sobre o que é normal. As pessoas são diferentes e têm experiências de vida completamente distintas. Aqui, se é para incluir todas as vozes, é preciso abrir o debate, ou seja, uma pessoa ou um grupo não deve falar pelo todo, pois assim exclui qualquer possibilidade de integração e evolução a partir do debate e do pensamento crítico”, comenta Ronaldo Ferreira Junior, CEO da um.a.
Privilégios são concedidos com base na opressão de outras pessoas ou grupos, por isso, antes de mais nada, o homem branco precisa entender quais são os privilégios que possui, se questionar e assumir a responsabilidade na luta para uma sociedade mais justa. A fala a partir do local de privilégio deve ser como a de um aliado, sem tirar o protagonismo de outras pessoas ou grupos, ajudando a fortalecer e amplificar as vozes.
Por mais que haja boa vontade em entender como é ser parte de um grupo minorizado, não há como vivenciar essa realidade de fato. O homem hétero branco jamais vivenciará o sentimento de ser vigiado em uma loja por conta da cor da pele. Ele não sentirá medo ao andar de mãos dadas com a pessoa que ama, por conta da homofobia. Raramente irá planejar com qual roupa se vestir para evitar assédio de outros homens assim que sair portão afora. Entender essas realidades é exercitar a empatia. A conscientização precisa ser diária e deve ser praticada à exaustão, mas isso não coloca uma pessoa privilegiada no lugar de quem sofre qualquer tipo de preconceito ou violência por não estar dentro dos padrões normatizados.
A mudança não é uma atitude simples, principalmente quando pode-se continuar em uma zona de privilégio e conforto. Por isso, quando entende-se a importância de ocupar o lugar de fala, o que se faz com a consciência de que é necessário nutrir as pessoas de informação, para que os privilégios sejam transformados em mais oportunidades para todos.