A nanotecnologia não é mais apenas um tema em alta. Na prática, a ideia vem de fato ganhando destaque ao redor do mundo. O mercado abraçou a tecnologia de um modo geral e, atualmente, quase todas as áreas da indústria possuem inovações que surgiram a partir da utilização de nanotecnologia. Só no Brasil, já existem cerca de 1.030 patentes depositadas, nas mais diversas áreas de produção.
O professor Ado Jório, nanocientista e membro do Conselho Técnico Científico do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) explica que nanotecnologia vem da palavra nanômetro – uma unidade de medida que corresponde à escala de tamanho das moléculas, equivalente a um bilionésimo de metro. “São tecnologias capazes de dominar processos em escala molecular, desde processos relacionados à saúde, como reações químicas do corpo, a questões ligadas a engenharia, como a extração de petróleo da camada do pré-sal”, explica.
Capaz de interagir com a matéria em um nível profundo, a nanotecnologia oferece um grau de controle muito mais amplo. Na área da saúde, tendo em vista que as reações relacionadas ao corpo acontecem em nível molecular, a ferramenta é capaz de aperfeiçoar procedimentos de uma variedade ilimitada. Como exemplo, o professor cita a engenharia de tecidos, na qual tecidos sintéticos são fabricados para substituir os biológicos. “Nesse tipo de procedimento, a rejeição do tecido é um problema a ser considerado. Quando o controle da operação pode ser feito em nível molecular, abre-se a capacidade de aperfeiçoamento de forma concreta”, explica.
Outros exemplos estão na área de tratamentos e diagnósticos. Nanodispositivos desenvolvidos nos últimos anos são capazes de modificar tratamentos invasivos, como o do câncer, direcionando a aplicação de drogas apenas para a área afetada. Uma outra tecnologia é capaz de detectar no organismo vírus em uma quantidade reduzida, tornando mais eficiente o diagnóstico precoce de doenças.
Minas é referência
Em Minas Gerais, também não faltam trabalhos na área da saúde que usam da nanociência para desenvolver soluções, sobretudo na área de prevenção. No departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG estão em fase de desenvolvimento carreadores (uma espécie de nanoestrutura) que carregam um RNA capaz de modificar a capacidade de reprodução de um vírus – no caso, o da dengue. Os testes trouxeram resultados animadores, aumentando as chances do desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a doença.
Investimento ainda é barreira
Para Ado Jório, apontado como um dos cientistas mais influentes do mundo pelo levantamento The World’s Most Influential Scientific Minds, feito pela Thomson Reuters, o Brasil tem uma produção importante em tecnologia, embora não possa ser comparada com gigantes da Europa e Estados Unidos. Para ele, o país precisa investir em desenvolvimento de instrumentação para vislumbrar um futuro mais promissor. “A nanotecnologia depende de instrumentação específica, e no Brasil, acabamos ficando reféns de importação de tecnologia externa. Estamos fazendo o dever de casa, temos fomento e conhecimento adquirido, mas ainda enfrentamos essa barreira”, completa.