O CTWeb foi inaugurado pela Universidade Federal de Minas Gerais na semana passada e pretende estreitar a relação entre universidade e mercado
Em cartaz nos cinemas brasileiros, o filme O lobo de Wall Street retrata o conturbado mercado financeiro dos Estados Unidos na década de 1990. Na história, nem mesmo o fraudador e boa vida Jordan Belfort, interpretado pelo astro Leonardo DiCaprio, se salva do estresse da profissão. Hoje, nos Estados Unidos, 70% das negociações da bolsa de valores são automatizadas. Imagine no Brasil, onde há três anos esse valor era de apenas 2%. Para dar uma mãozinha ao investidor da bolsa brasileira, a startup mineira S10I lançou em janeiro deste ano, durante a Campus Party Brasil, a Smartt (smartt.s10i.com.br) – plataforma para o desenvolvimento de estratégias automatizadas de investimento. Os empreendedores acabaram de firmar parceria com o Centro de Tecnologia da Web (CTWeb), inaugurado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na semana passada. O CTWeb pretende estreitar a relação universidade e mercado, desenvolvendo negócios e produtos a partir dos resultados de pesquisa web.
A startup foi fundada em 2011 por alunos e ex-estudantes da UFMG. Parte do trabalho começou como projeto de pesquisa dos criadores e pela própria experiência profissional deles. O sócio-fundador Leonardo Conegundes Martinez, de 27 anos, explica que o uso de softwares no mercado financeiro do país cresceu bastante – chegando a 10% – mas que ainda é muito inferior ao norte-americano. Com a Smartt, o próprio computador faz a análise de risco, predição do mercado e execução das ações. “Só os grandes bancos e fundos de investimento têm acesso à esse tipo de ferramenta. Tentamos fazer com que essa automatização democratize por aqui”, afirma Leonardo.
Tal qual os observatórios já existentes na UFMG sobre dengue, eleição e futebol, a startup também criou, em parceria com a universidade, o Observatório do Investimento (http://bit.ly/1gy2BWv), que será lançado oficialmente em maio. Programas de computador monitoram tudo o que sai na internet sobre o tema. “Com ele é possível saber quais são as notícias das empresas que estão sendo mais compartilhadas, qual o sentimento do público em relação à Petrobras, por exemplo, se essa ação está positiva ou negativa… Cria-se um mapa de como cada empresa está sendo vista pelos usuários da web. Essa tecnologia leva uma informação mais valiosa para o investidor brasileiro”, destaca Leonardo. Segundo ele, o objetivo é gerar é integrá-la a um portal do investidor.
Ao todo, são sete pessoas trabalhando no projeto. Apesar dos computadores facilitarem o trabalho de coleta dos dados, é preciso fazer um processamento das informações. “Se a pessoa gosta de investir em siderurgia, ela conseguirá ver notícias no site sobre o setor. Na época do estouro da crise do empresário Eike Batista, pipocaram notícias sobre a OGX”, exemplifica Leonardo.
Segundo o empreendedor, por meio do Observatório a startup conseguirá atingir um público maior – já que a informação pode interessar qualquer pessoa. “O desenvolvimento desse projeto envolve muita pesquisa. Sem a parceria com a universidade seria inviável lançar esse produto. A UFMG consegue levar para o mercado a pesquisa de ponta e, em contrapartida, a empresa consegue usar o conhecimento da instituição de ensino para fazer o produto”, afirma Leonardo.
Troca
Se a S10I ganha conhecimento prático da universidade, a UFMG recebe royalties que podem ser reinvestidos nas pesquisas. Wagner Meira Junior, de 46 anos, professor do departamento de ciências da computação da UFMG, lembra que antes do CTWeb o conhecimento gerado dentro da universidade perdia o vínculo com a instituição para chegar ao mercado. “O que estamos propondo é um processo intermediário. Você tem uma estrutura onde esses resultados de pesquisa podem ser amadurecidos ou estendidos. É um modelo interessante porque as empresas conseguem estimar melhor o valor de seus produtos, impactos e potenciais aplicações”, afirma. Para ele, o centro poderia ser comparado a uma aceleradora, mas no aspecto tecnológico, que poderá ser validado e expandido.
Segundo o professor, há vários exemplos de startups que surgiram na UFMG e foram adquiridas pelo setor privado. O mais famoso deles é da Akwan, adquirida pela Google em 2006. Além da S10I, outras duas empresas já fecharam parceria com o CTWeb: a Módulo Security Solutions, empresa de gestão de risco, e o projeto Combinando, criado para explorar o mercado da moda e estilo. “Com o Centro não tem aquela pressão de que o aluno foi embora e a tecnologia se perdeu”, ressalta Wagner.
Veiculação Colaborativa por Shirley Pacelli