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O projeto da rede municipal de ensino de Recife (PE), que permitirá a alunos com deficiência na fala se comunicar em sala de aula, por meio do Livox, é uma das tendências em tecnologia inclusiva, que será apresentada na conferência mundial Google I/O. O evento, que acontece no próximo dia 28, nos Estados Unidos, exibirá a história do estudante, personagem do piloto da ação, Jonathan Lins, de 17 anos, bem como de Carlos Pereira, que desenvolveu o software especialmente para sua filha, Clara Pereira, de sete anos. Estudante do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal do Engenho do Meio, Grande Recife, Jonathan não fala e tem severas limitações motoras e cognitivas. Há um ano, o jovem toca a tela de um tablet com o Livox instalado, que recebeu da Secretaria de Educação do munícipio, para expressar suas emoções, necessidades e desejos de se alimentar e tomar banho, por exemplo, entre outras coisas. O software contém um catálogo de 20 mil imagens que podem ser utilizadas em conjunto com textos e também permite o acesso a atividades culturais, como filmes, desenhos e músicas. Por meio dessa tecnologia, Jonathan consegue aprender a ler e adquirir vocabulário, bem como estudar matemática, em uma rotina diária de sala de aula, acompanhado por professores e colegas. Até 2016, o projeto pretende beneficiar outros cinco mil estudantes com o acesso ao Livox para educação e convívio social. De acordo com a mãe de Jonathan, Ginny Giuliana, o software melhorou o convívio do filho com as pessoas, pois antes a comunicação se restringia aos parentes próximos, por meio de sinais criados no contexto familiar. “Hoje meu filho consegue se expressar e dizer o que ele quer para mais pessoas. Com isso, o círculo de amizade dele aumentou. Jonathan leva o Livox para todo lugar que vai”, explica Ginny, que trabalha como coordenadora de uma autoescola. O caráter inovador do projeto que promove inclusão social e acesso à educação de pessoas com e sem deficiências despertou o interesse de executivos do Google, nos Estados Unidos. Uma equipe americana foi à Recife para produzir um documentário sobre o Livox, que será exibido na conferência anual da empresa. “A ideia é mostrar um bom exemplo de como as tecnologias do Google estão sendo usadas para melhorar a vida das pessoas”, explica Carlos Pereira, que também é CEO da empresa Agora Eu Consigo Tecnologias de Inclusão Social, focada soluções para viabilizar a inclusão social de pessoas com deficiências no convívio familiar e social. Algoritmo inteligente O Livox (Liberdade em Voz Alta) é baseado em algoritmos inteligentes, com destaque para o IntelliTouch, que identifica e se ajusta a diferentes graus de deficiência motora, cognitiva e visual, sendo capaz de corrigir o toque impreciso na tela do tablet da pessoa com deficiência ao selecionar uma imagem ou palavra do aplicativo. O teclado virtual da ferramenta fala automaticamente por comando de voz palavras ou frases que estão sendo digitadas, o que tornar possível a comunicação do usuário com outras pessoas. O software permite a criação de pranchas com imagens personalizadas e o compartilhamento do conteúdo entre tablets com a ferramenta instalada. A decisão de criar o Livox em 2011 atendeu a uma necessidade de superar as dificuldades de comunicação do pai Carlos Pereira com a sua filha Clara Pereira, portadora de paralisia cerebral em decorrência de parto e a primeira criança brasileira a fazer tratamento com células-troncos, em 2009, na China. Antes, a comunicação com a garota era feita por meio de um catálogo de “falas”, ditas em voz alta quando selecionadas por ela. No caminho até achar uma solução viável, o analista de sistemas pediu auxílio a desenvolvedores internacionais para criar uma solução em português que promovesse autonomia à Clara, mas não conseguiu, e implantou uma clínica de fisioterapia no Recife, onde reside e da qual ainda é diretor, para beneficiar sua filha e a população local, com apoio de investidores estrangeiros. O Livox foi eleito o melhor aplicativo de inclusão social do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a inovação tecnológica de maior impacto em 2014 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Atualmente, se comunica em 25 idiomas e atende 10 mil usuários pelo mundo, entre famílias e instituições de assistência, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). A ferramenta é o objeto de estudo científico na área de cabeça e pescoço e UTI do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o maior da América Latina. |