O economista e professor Marcelo Portugal foi o palestrante desta tarde de segunda-feira, no último evento do ano do SEPRORGS, e os associados lotaram o auditório para ouvi-lo. Bem-humorado, Portugal começou citando as previsões que fizera em março, no primeiro Mesas TI de 2015. Falou sobre como chegamos ao momento atual, de recessão com inflação, e analisou o cenário econômico e político que se aproxima, abordando as perspectivas para 2016. Destacou que o setor de TI é um dos poucos a apresentar crescimento e índices positivos. Ao final, discorreu sobre o impasse político do impeachment, cujo resultado, para ele, vai determinar se teremos ou não chance de recuperar a economia nos próximos três anos. “Estamos numa situação muito complicada do ponto de vista econômico. A missão número um das empresas é sobreviver. Um dia a situação melhora, e se você ainda estiver vivo, poderá crescer”, afirmou.
Portugal disse que chegamos à situação atual em virtude de excessos monetários e, principalmente, fiscais no período de 2010-2014. “A crise foi criada por nós, não é fruto de recessão internacional: em 2015, os EUA crescem 2,6%, a Zona do Euro 1,5% e a China 6,8%”, lembrou. Nos últimos quatro anos, houve a introdução de fortes doses do que ele chamou “anabolizante monetário” (juros baixos) e “anabolizante fiscal” (aumento de gastos públicos com programas como Mais Médicos, FIES, Minha Casa Minha Vida, Pronatec e outros, aumento de salários, subsídios via BNDES, mais gastos correntes, etc). Os juros já subiram, mas apesar das promessas recorrentes, não conseguimos ainda nos livrar do anabolizante fiscal – e para Portugal o principal problema do Brasil é fiscal.
“A cada sinal de revisão na meta de superávit primário, a taxa de câmbio respondeu com desvalorização, o que estimula a inflação”, explicou. E esta falta de definição fiscal cria um círculo vicioso que prejudica a economia: o déficit primário gera aumento da dívida pública, ampliando o risco de insolvência futura. O aumento do risco causa a perda do grau de investimento, acarretando a desvalorização cambial excessiva, que gera mais inflação, o que reduz a confiança das famílias. Renda menor e menos confiança inibem o consumo, o que leva à queda na produção. E o crescimento lento da economia não impulsiona a arrecadação.
Ao falar da inflação, Portugal citou vetores que aceleraram o índice em 2015: realinhamento de tarifas, principalmente no início do ano; as condições de clima adversas; a desvalorização cambial de 42% e o excesso de gastos públicos. O Banco Central perdeu a credibilidade em relação à meta de inflação (que era de 4,5%), e com isso os formadores de preço tentam remarcar sempre acima da meta. A recessão atual é a mais longa desde que começaram a existir os dados trimestrais, em 1991. Portugal demonstrou que só a agropecuária tem um desepenho positivo neste ano, o que não deve se repetir em 2016 de acordo com dados do IBGE. “A boa notícia é que parte desse quadro talvez não se repita. A energia elétrica não vai subir 50% novamente, por exemplo, recomeçou a chover, então mesmo que não caia, nao vai ser tão pressionante. O choque de tarifas será menor no ano que vem. E provavelmente não teremos outra desvalorização tão grande” afirmou, batendo a seguir três vezes na mesa de madeira.
Perspectivas para 2016 e o impeachment
Para o ano que vem, a expectativa é que a inflação seja um pouco mais baixa do que a deste ano, por volta dos 7%, e certamente não os 4,5% da meta, projetou o professor. E ao falar em perspectivas, abordou a questão do impeachment, sob o ponto de vista dos seus efeitos econômicos. Para Portugal, durante o processo o país sofre com aumento de gastos públicos e paralisia legislativa e econômica. “Um pouco pior que o cenário atual mas não muito diferente”, afirmou.
A seguir, temos o cenário pós-impeachment. Sem a presidente Dilma, na opinião de Portugal, há uma chance de se montar um governo de união nacional com PSDB, PMDB e DEM, agregando depois outros partidos. “É um grupo com quadros técnicos para tocar a máquina e ter votos no congresso”, avaliou. Assim, haveria a possibilidade de reformas econômicas e com isso a melhoria da economia viria mais rápida e mais forte.
Com a permanência da presidente Dilma, Portugal citou a “hipótese Tiririca”: pior do que está, não fica. Como ela teria que reconstruir o governo e uma base de apoio no congresso, a situação econômica continuaria ruim até o fim de 2018. “Se ela ficar, estamos fadados a três anos patinando desse jeito, com inflação alta e pouco crescimento. Sem ela, para 2016 não muda muito, mas para 2017 e 2018, a situação econômica melhora muito mais rápido”, resumiu.