O agricultor tem à disposição um software inédito para auxiliá-lo a fazer uma pulverização eficiente, com orientações práticas para cada etapa. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, lança o programa chamado DropScope, tecnologia que orienta passo a passo os profissionais do campo na aplicação de agrotóxico, auxiliando desde o posicionamento e a organização dos papeis hidrossensíveis até a indicação de melhorias, quando necessárias. Por enquanto, os recursos do software são compatíveis para uso em lavouras de grãos, fibras e cana-de-açúcar. Os estudos estão sendo continuados para adequar o sistema para uso em pulverizações de árvores e arbustos, como citros e café.
O IAC desenvolveu a tecnologia em parceria com a empresa Ablevision Sistemas Computacionais e apoio do Instituto Matogrossense do Algodão. A ferramenta serve de apoio também para a condução de estudos na área de tecnologia de aplicação de agrotóxicos, por meio da geração de dados que auxiliam os pesquisadores científicos.
Está é mais uma ação inovadora do Instituto Agronômico, que neste dia 27 de junho completa 128 anos de existência. A cerimônia de aniversário será no dia 26, a partir das 15h, na Sede do IAC, em Campinas.
O DropScope avalia a qualidade da pulverização nas plantações. Com o uso de um notebook, o procedimento pode ser feito no campo, durante a aplicação de produtos químicos. “A ferramenta atua como um consultor virtual, o sistema faz perguntas aos agricultores para indicar a melhor forma de utilização dos defensivos agrícolas. Os produtores possuem dificuldade nessa área, daí a importância do DropScope”, afirma Hamilton Humberto Ramos, pesquisador do IAC e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da ferramenta.
O sistema, que começou a ser desenvolvido em 2004, funciona da seguinte forma: o produtor instala o software no computador e conecta um scanner de papel hidrossensível. O programa questiona o agricultor sobre o tipo de produto que será aplicado — herbicida, inseticida ou fungicida —, indaga a respeito do tamanho da planta que será tratada e também se a praga ou doença ocorre na haste, fruto ou folha. As informações técnicas sobre o produto, encontradas na embalagem, também são solicitadas pelo software.
Após o preenchimento do questionário, que é todo ilustrado, o DropScope inicia o processo de avaliação da pulverização. Para esta etapa, o sistema instrui o usuário da tecnologia sobre como utilizar os papeis hidrossensíveis. Segundo Ramos, para avaliar a pulverização, o produtor coloca o papel hidrossensível no scanner, conectado ao computador, que aponta se a qualidade da pulverização é ruim, regular ou boa, por meio das cores vermelho, amarelo e verde. “Quando o programa identifica que o produtor está fazendo uma aplicação errada, ele aponta o problema e sugere o que deve ser feito para alcançar uma aplicação adequada”, explica Ramos.
“Os diferenciais do DropScope estão na credibilidade, pois toda a ferramenta foi desenvolvida com embasamento científico e aplicações práticas, e na simplicidade de adoção, que viabiliza seu uso diretamente no campo, bastando o acesso a um notebook”, avalia o pesquisador do IAC.
O investimento para adquirir o DropScope é de R$ 6.500,00, aproximadamente. O valor pode ser recuperado apenas com a economia de água usada em uma safra. Ressalta-se que a adequação da aplicação de agrotóxicos traz grande economia de água. Em uma cultura com ciclo de 200 dias, como a soja, em que são feitas cinco pulverizações, são consumidos 200 litros de calda, por hectare. Em uma área de 1000 hectares, a economia é de R$ 2.500,00, somente por reduzir o volume de água aplicado. No Mato Grosso, há vários cotonicultores recorrendo ao sistema para alcançar eficiência nas pulverizações.
O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, destaca que a inovação tecnológica é fundamental no campo, pois possibilita produzir com mais eficiência. Para ele, por isso são fundamentais as pesquisas desenvolvidas pelos Institutos da Secretaria. “Neste caso, como nos recomenda o governador Geraldo Alckmin, é uma tecnologia que ajuda ter mais eficiência na utilização da água, o que é fundamental”, afirma.
Apoio à ciência
Além de auxiliar os produtores rurais, o DropScope é uma ferramenta importante para pesquisadores científicos da área de pulverização. O programa oferece a opção de busca avançada, em que é possível obter parâmetros relevantes sobre a aplicação, como o tamanho da gota da calda a ser aplicada às plantas e a área de cobertura do produto. “A ferramenta também fornece um gráfico com a análise da pulverização por número de gotas ou volume. Essas informações são importantes, pois quanto maior a porcentagem de gotas pequenas, maior será a evaporação do produto, diminuindo sua eficiência”, explica o pesquisador do IAC.
O software está sendo comercializado pela empresa Ablevision Sistemas Computacionais, os contatos podem ser feitos pelo e-mail [email protected] e telefones 16-3372-9868 e 16-99223-5519.
Qualidade da pulverização
Segundo o pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, Hamilton Humberto Ramos, um dos erros mais comuns na atividade de aplicação de defensivos agrícolas é a quantidade de água adotada. “O produtor acredita, equivocadamente, que ao usar grandes volumes de água, vai ter melhor eficiência na aplicação de agrotóxico, quando na verdade, é o contrário”, explica.
Ramos esclarece que a eficiência está relacionada à precisão em acertar o alvo da aplicação, isto é, colocar o produto químico onde é realmente necessário. “O uso de menor volume de água, além de mais eficiente, reduz desperdício”, resume.
Pesquisa do IAC comprovou que a quantidade de 100 litros da água para diluir o produto químico em pulverizações é suficiente para a aplicação em um hectare de cana-de-açúcar. Em geral, nesta área, são utilizados de 250 a 300 litros. O IAC mostrou que é possível alcançar a mesma eficiência com até um terço deste volume.
Com essa tecnologia, já adotada por grande número de usinas paulistas, é possível economizar de 100 a 200 litros de água, por hectare. A redução do volume adotado na aplicação aumenta a capacidade operacional dos equipamentos em 17%, em média, e preserva os recursos hídricos.
Os trabalhos do IAC permitem economizar cerca de 600 milhões de litros de água, por ano. A quantidade é suficiente para abastecer uma cidade como Campinas, com cerca de um milhão de habitantes, por três dias.
Nos pomares citrícolas, o Instituto Agronômico conseguiu reduzir de oito mil a dez mil litros o volume da calda usada no tratamento fitossanitário, para dois mil litros a três mil litros, sem qualquer prejuízo na eficácia da aplicação ou período de controle de pragas. Os trabalhos do IAC continuam, em parceria com o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), e já estão sendo realizadas avaliações com uso de 500 a mil litros, por hectare.
A tecnologia IAC em tratamento fitossanitário de citros pode economizar 35 bilhões de litros de água doce, por ano, no Estado de São Paulo. Esta redução seria suficiente para abastecer uma cidade com 960 mil habitantes, por 365 dias.