A geração distribuída e o mercado livre de energia (cenário em que os consumidores e fornecedores negociam entre si as condições de contratação da eletricidade) estão ganhando força no País. Segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), atualmente, 80% da energia consumida pelas indústrias brasileiras é adquirida nesse modelo.
“Preparar-se para um fornecimento de eletricidade menos centralizado e um mercado mais aberto para negociações diretas entre consumidores e fornecedores é uma tendência para todas as empresas e para os países em geral”, diz Júlio Martins, vice-presidente da unidade de Power Systems da Schneider Electric no Brasil.
Segundo o executivo, esta é a razão pela qual o mercado nacional tem se preparado para aprimorar e usufruir da melhor forma possível esses modelos de produção e consumo de eletricidade. De acordo com a Abraceel, a abertura desse mercado no Brasil tem potencial de gerar, até 2035, R$ 210 bilhões de redução nos gastos com energia – o que permitirá uma redução média na conta de luz de 15%. Além disso, vai gerar 642 mil postos de emprego e desconto médio de 27% na compra de eletricidade.
Além disso, o Ministério de Minas e Energia neste ano apontou que o Brasil alcançou 10 gigawatts (GW) de potência instalada em geração distribuída de energia elétrica. Ao todo são 922 mil unidades com micro ou minigeração distribuída, principalmente da fonte solar fotovoltaica – suficientes para abastecer aproximadamente cinco milhões de residências, ou quase 20 milhões de pessoas.
“Outro fator que vem ganhando força no segmento de energia, além da geração distribuída, é a sustentabilidade. Fontes renováveis tem sido prioridades em diferentes governos e gestões empresariais”, afirma Martins. Em abril, por exemplo, a Alemanha atualizou sua política energética e, com isso, estabeleceu que 80% da eletricidade consumida no país terá que vir de fontes renováveis até 2030. Para 2035, a meta é que quase 100% da geração seja desse tipo de matriz. “Neste ano, com a situação socioeconômica da Europa fragilizada, a urgência por uma transição energética para renováveis e para uma geração cada vez mais descentralizada ganhou força.”
No Brasil, a maior parte da energia produzida é proveniente de renováveis – hidrelétricas. Entretanto, segundo o executivo, o modelo é extremamente inconstante, pois depende do nível de chuvas nas regiões dos reservatórios.
Para ele, esse problema acaba acarretando o aumento de preços e a instabilidade do fornecimento dos recursos. Exemplo disso é que, no ano passado, diante da maior crise hídrica dos últimos cem anos, o País precisou discutir o risco real de um apagão e, ainda, estabeleceu a “bandeira escassez hídrica” (R$ 14,20 a cada 100 kWh), que aumentou as tarifas na conta dos consumidores.
“Essas mudanças que vêm acontecendo nos últimos anos comprovam que esse é o caminho necessário para o desenvolvimento das operações industriais e da sociedade como um todo. Pois, ao lidar com uma questão tão importante dentro da sustentabilidade como a gestão consciente da energia, avançamos consideravelmente na jornada rumo a um futuro mais igualitário e seguro para o meio ambiente”, afirma o vice-presidente da unidade de Power Systems.
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