Mais de 40% dos brasileiros usam meios digitais para realizar pagamentos. Além disso, as compras feitas por meio de aplicativos cresceram 30% no país durante a pandemia.
Os dados foram apresentados pelo diretor de Tecnologia do Banrisul, Jorge Krug, em uma palestra sobre o futuro dos meios de pagamentos no Mesas TI, evento realizado pelo SEPRORGS. Conforme o palestrante, as informações levantadas mostram a crescente mudança nos modelos de negócios e a importância de se olhar para o processo disruptivo e para o protagonismo da tecnologia no mundo.
Para o presidente do SEPRORGS, Rafael Krug, o tema da palestra é de suma importância para qualquer empresa de TI, pois é o que vai determinar o futuro dos negócios. “E como a tecnologia é o alicerce para entregar as soluções que o momento atual exige, o SEPRORGS escolheu um especialista para trabalhar o assunto junto ao público”, comentou o dirigente.
Segundo Krug, o meio de pagamento mais utilizado ainda é o cartão de crédito, muito embora já exista esse movimento de disruptura voltado aos pagamentos com créditos e moedas digitais. “Faz alguns anos que essa mudança já começou em alguns ecossistemas específicos, como é o caso do PayPal. É importante ressaltar também a relevância do avanço dos smartphones para pagamentos de estacionamentos, transporte público, entre outros”, disse.
O diretor explicou que uma característica comum no momento é que os gestores das soluções criem uma espécie de carteira eletrônica, onde o consumidor insere créditos em moeda corrente a partir de um cartão ou transferência de conta-corrente. Evidentemente, esses modelos ganharam notoriedade com a proliferação de apps de chats e Big Players, que começaram a oferecer para usuários e ecossistemas conveniados o uso de carteiras eletrônicas vinculadas a esses contatos.
“Um exemplo disso é o tamanho disso”, explanou Krug, que ainda acrescentou: “na Ásia e na China temos um tamanho que passa do bilhão de usuários em cima dessas plataformas”. Além disso, também é preciso olhar para a questão dos pagamentos instantâneos. “O Brasil é um percursor no assunto, visto que começamos a fazer transferências em minutos enquanto outros países levavam semanas para realizar esse movimento”, completou.
Com o PIX foi dada a partida para uma grande mudança. “Com a entrada do Facebook e WhatsApp nesse ecossistema, podemos afirmar que transformações rápidas ocorrerão quando todos adotarem o modelo de pagamento oferecido por esses grandes players”, revelou.
Ademais, o Digital Market Place, que já é uma realidade há anos, vem fazendo com que os bancos trabalhem para gerar uma plataforma onde suas APIs são distribuídas para parceiros de negócios, agilizando e facilitando a criação de um ecossistema em torno de seus produtos, serviços e clientes.
O Central Bank Digital Currencies – CBDC – também é uma moeda eletrônica, mas diferentemente das criptomoedas, é regulada pelos governos dos países emissores. Na prática, o CBDC provê todos os benefícios de uma moeda eletrônica, porém é regulada. “Em geral, é considerado como uma nova forma de emissão de uma moeda já existente, por exemplo: você pode ter o dólar, real ou libra em papel e/ou eletrônico, sendo os dois emitidos pelos bancos centrais dos respectivos países”, contou. Krug explicou que já existe um grupo mundial discutindo o CBDC. O Bacen, aliás, também está debatendo o assunto atualmente.
O executivo apresentou o cenário atual de alguns países e deu uma visão geral da África, que considera um grande quebra-cabeças, com culturas distintas e dificuldades muito específicas. “Nigéria, Quênia, Marrocos, Egito e África do Sul são os principais mercados da região e possuem o e-commerce em ascensão, impulsionado pela força das empresas de Telecom, que criaram uma infraestrutura de pagamentos e transferências bastante eficiente”, explica.
No Quênia, e em alguns países da África subsaariana, não se utiliza mais dinheiro comum, o povo gosta mesmo é de usar o celular. Não falando de aparelhos cheios de funcionalidades, mas basta um serviço de SMS para fazer transferências. Só no Quênia mais de 10 milhões de pessoas contam diariamente com sistemas de pagamentos móveis.
Sem bancos credenciados internacionalmente, e com um sistema financeiro em que caixas eletrônicos são um conceito distante, duas empresas privadas, a Zaad e a e-Dahab, lançadas nos últimos oito anos, criaram uma economia virtual. Valores são depositados nas contas das companhias e convertidos em créditos para telefones celulares, o que permite as transações eletrônicas. “São necessários 9 mil shillings para comprar um único dólar”, completou.
O diretor também falou sobre os grandes projetos no mundo e citou a Índia como criadora de um sistema inovador. “O Unified Payments Interface – UPI – é muito semelhante ao nosso PIX, mas possui um sistema de pagamento integrado. Em quatro anos, o modelo já processou 2,2 milhões de transações. Em compras online, por exemplo, o usuário escolhe o pagamento UPI, informa seu nome e recebe no dispositivo uma solicitação de autorização. Em compras físicas, o funcionamento é semelhante”, explicou durante o evento, que tem patrocínio de DBC Company e Dinamize.
Entre outros exemplos, Krug citou a Zona do Euro como um grande projeto, ainda sendo implementado, onde o ECB CBDC – projeto do Banco Central europeu para a criação do Euro Digital, não é considerada outra moeda, mas um novo método de disponibilizar o euro. Como regra, deve ser confiável tanto quanto as outras formas emitidas. O processamento intermediário será feito por cada país, mas o final está no ECB.
O Brasil é considerado um mercado em evolução com olhares bem abertos para novas estruturas, inovação em produtos, serviços e aumento da competição entre os sistemas e modelos financeiros. Com mais competitividade, novos produtos e a potencial batalha por preços movimentam o mercado.