A necessidade cada vez maior de investimento em práticas sustentáveis por parte de empresas de todo o mundo tem gerado novos conceitos, tendências, ferramentas e compromissos no mercado. A chamada Governança Ambiental, Social e Corporativa, conceito definido pela sigla ESG (“Environmental, social and corporate governance”, em inglês), já se configura como uma indústria grandiosa, visto que as empresas do setor logístico estão visando uma estrutura com pilar ESG e foco no modal de transporte rodoviário.
Em âmbito global, de acordo com estimativa da CBI (Climate Bonds Initiative), estima-se que tenha sido emitido, em 2020, um montante de US$ 257,5 bilhões (cerca de R$ 1,35 trilhão) em títulos de dívidas voltados ao ESG, um crescimento de 36% em comparação ao resultado de 2019. Em um enfoque local, também é possível notar a alta de tal tendência: segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos de ações baseados em sustentabilidade e governança acumularam mais de R$ 543 milhões em 2020.
Além disso, segundo dados do ano passado divulgados pelo bloomberg.com em uma matéria de fevereiro, 2021 visa uma expectativa positiva. Organizações entre governos e outros grupos investiram US$ 347 bilhões voltados para o ESG, batendo um recorde histórico. Neste ano, a expectativa é de que a emissão de dívida sustentável chegue a US $650 bilhões e o foco em ESG permaneça em aumento.
Dentro das práticas de sustentabilidade ambiental feitas por empresas está a chamada neutralização de carbono, técnica utilizada no âmbito da compensação de emissão de gases do efeito estufa (GEE). Trata-se de uma alternativa que busca evitar as consequências das mudanças climáticas a partir de um cálculo geral de emissão de carbono ou carbono equivalente – para atingir as metas, as empresas podem reduzir suas emissões ou comprar créditos de carbono.
Os créditos de carbono são cotas de emissão de gases que podem ser compradas e vendidas por empresas e governos, sendo considerados certificados que comprovam a redução das emissões de gases de efeito estufa de um projeto. Por convenção internacional, cada crédito de carbono que for gerado corresponde a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida na atmosfera.
O mercado de carbono regulado surgiu no âmbito do Protocolo de Kyoto, em 1997, em decorrência do debate sobre as mudanças climáticas. Alguns dos principais países responsáveis pelo aquecimento global se comprometeram em atuar na redução das emissões de gases de efeito estufa, criando obrigações legais para empresas dentro de seus territórios. O Brasil, porém, como país em desenvolvimento, não assumiu a meta em Kyoto. Sendo assim, os projetos aqui baseados atuam no fornecimento de créditos de carbono do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, chamados Reduções Certificadas de Emissões.
Processo de neutralização de carbono
Inicia-se com a coleta de dados das emissões de gases de efeito estufa (GEE) que não puderam ser evitadas no frete. Realiza-se o cálculo de emissões baseado no uso de método reconhecido no mercado, como GHG Protocol, para converter todas as emissões GEE em CO2 equivalente. Compensa-se as emissões calculadas em etapa anterior através da aquisição de créditos de carbono de projetos ambientais certificados (preservação de florestas, tecnologias limpas, entre outros) e com benefícios comprovados (ESG). Registra-se o certificado de rastreabilidade, garantindo a não duplicidade do crédito de carbono, lastro registrado e auditado. Ainda sobre os créditos de carbono vale a pena lembrar que 1 crédito de carbono é igual à 1 tonelada de CO2 equivalente, e que 6 árvores adultas em 20 anos sequestram 1 tonelada de CO2 eq, ou seja, a importância de se manter as florestas em pé é mais do que vital para todos os seres humanos do planeta Terra.
Mercado de carbono voluntário
Há, também, o mercado de carbono voluntário, muito em voga no Brasil, que surgiu de forma paralela ao Protocolo de Kyoto, com as Reduções Voluntárias de Emissões. Nele, qualquer empresa, pessoa, ONG ou governo pode gerar ou comprar créditos de carbono voluntário. E, dentro deste contexto, diversas iniciativas têm surgido no país. Além disso, esse mercado apresenta diversos benefícios para o meio ambiente, empresa e sociedade, como o estímulo de consciência ambiental, melhora da imagem da empresa na sociedade e benefícios financeiros, entre outros.
Uma das iniciativas é o Neutralize iTrack, desenvolvido pela iTrack Brasil – startup de tecnologia especializada em soluções logísticas para monitoramento, comprovação e gestão de entregas e/ou coletas até a última milha -, e que consiste na quantificação e na compensação de carbono provenientes das operações de transportes das empresas de diversos segmentos e tamanhos de operação através de uma logística sustentável. Em decorrência destas ações, projetos ambientais exitosos têm sido desenvolvidos em território nacional.
Daniel Drapac, CEO da startup, explica que a startup já oferecia um serviço de rastreamento para gestão de rotas e transparência das entregas que, por si só, já auxiliava na redução de emissão de CO2. Porém, com a oferta de neutralização de carbono, foi possível viabilizar toda uma operação sustentável, com o apoio a projetos de preservação ambiental e tecnologia limpa.
“Há uma grande complexidade envolvendo o mercado de créditos de carbono. Executivos têm dificuldades em implementar corretamente os pilares de sustentabilidade em suas empresas sem terem uma consultoria end-to-end”, diz Drapac, destacando que existem diversos nichos de atuação no setor de neutralização de carbono por meio de uma “logística verde”. Recentemente, o Neutralize iTrack recebeu o Troféu Frotas e Fretes Verdes, o qual visa aprimorar o uso de combustíveis, melhorar as práticas e evitar o desperdício de recursos, através do frete neutro.
“É muito interessante poder observar a crescente adesão de embarcadores, operadores logísticos e transportadoras a práticas sustentáveis, com gestores desses segmentos apostando cada vez mais em ESG. O planeta agradece!”, conclui Drapac.
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