Segundo artigo do 21º USP International Conference in Accounting, no ano de 2022 esperava-se que a economia global se recuperasse do caos desencadeado pela pandemia do COVID-19. A guerra na Ucrânia e as subsequentes sanções do Ocidente contra a Rússia alimentaram as tensões geopolíticas, elevaram os preços da energia e dos alimentos a níveis recordes e interromperam as cadeias de abastecimento, lançando um golpe na recuperação global.
À medida que a inflação atingiu máximos de vários anos, os bancos centrais foram forçados a apertar as torneiras do dinheiro em um ritmo frenético, aumentando as taxas de juros diante de uma economia já em desaceleração, aumentando as perspectivas de uma recessão em 2023.
Uma recessão iminente
Espera-se que 2023 seja o terceiro pior ano para o crescimento econômico global neste século, atrás de 2009, quando a crise financeira global causou a Grande Recessão, e 2020, quando os bloqueios da COVID-19 paralisaram a economia global, segundo dados da The World Bank.
A zona do euro, em meio a uma crise de energia, à medida que procura abandonar sua dependência dos combustíveis fósseis russos, e o Reino Unido provavelmente testemunharão uma recessão mais profunda, conforme fontes da Deutsche Welle (DW).
“A gravidade do próximo impacto no PIB global depende principalmente da trajetória da guerra na Ucrânia”, escreveram analistas do Instituto de Finanças Internacionais em uma nota, acrescentando que o conflito pode se tornar uma ‘guerra eterna’.
O consolo é que qualquer recessão provavelmente não será tão severa quanto se temia inicialmente, causando apenas um aumento modesto no desemprego. “Como a inflação agora parece estar diminuindo em todo o mundo, os bancos centrais devem conseguir tirar os pés do freio em pouco tempo, permitindo que uma recuperação comece no final do próximo ano [2023]”, afirmaram analistas da Capital Economics em dezembro.
Inflação teimosa
Os aumentos de preços serão provavelmente moderados em 2023, ajudados pelo enfraquecimento da demanda, queda nos preços da energia, diminuição dos problemas de oferta e queda nos custos de frete. No entanto, a inflação permanecerá acima das metas do banco central, levando a novas altas nas taxas de juros. Isso significa mais dor para a economia que corre o risco de piorar a crise da dívida global, ainda segundo informações da DW.
A inflação na zona do euro deverá cair mais lentamente do que nos EUA. Na Alemanha, o motor econômico da zona do euro, a inflação deve cair graças a medidas como um teto para os preços do gás e da energia. Mas o núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, pode permanecer teimosamente alto como resultado das transferências de dinheiro do governo para ajudar as famílias a lidar com custos de vida mais altos.
“A resiliência da economia [da zona do euro], e particularmente do mercado de trabalho, sugere que a inflação pode ficar mais alta por mais tempo do que esperamos”, disse Luis Felipe Campos, especialista do mercado de logística e Trade Brasil-Europa, acrescentando que o núcleo da inflação cairá mais lentamente à medida que o crescimento dos salários mantém a inflação no setor de serviços elevada.
“Existem vários riscos óbvios para essa previsão. ‘Incógnitas conhecidas’ incluem o que acontece com os mercados de energia, que por sua vez depende do curso da guerra na Ucrânia e do clima, e como os fabricantes alemães lidam com os altos preços da energia”, disse ele.
Caos da COVID na China
Poucas semanas antes do início de 2023, a China anunciou a saída de sua controversa política de COVID zero. O rápido pivô deixou o sistema de saúde do país sobrecarregado em meio a um aumento alarmante nos casos de COVID, como conta o jornal The Guardian.
Seguindo a experiência de outros países, espera-se que o dilúvio de infecções cause perturbações de curto prazo na segunda maior economia do mundo. Isso pode ser um golpe na frágil recuperação das cadeias de suprimentos globais. Há também o risco de uma nova variante do coronavírus surgir e se espalhar para outras partes do mundo.
Embora as perspectivas de curto prazo pareçam sombrias, os analistas esperam que a economia chinesa termine 2023 com uma nota mais positiva “A recuperação chinesa, combinada com a reabertura regional, significa que a Ásia pode ter um bom 2023”, disse Christian Nolting, diretor de investimentos do Deutsche Bank, em nota aos clientes. A recuperação poderia “estabilizar as economias dos países vizinhos e muitos exportadores de commodities (como os da América Latina), dado que a China é o consumidor dominante de commodities”.
Uma crise de energia
A precária situação energética, especialmente na Europa, continuará dando dores de cabeça aos governos em 2023.
Após de gastar centenas de bilhões de euros no ano passado procurando alternativas à energia russa e protegendo os consumidores, a Europa pode ter dificuldades para mais uma vez encher suas instalações de armazenamento. A competição pelo gás natural liquefeito será especialmente acirrada com a reabertura da China e compradores asiáticos tradicionais, como Japão e Coreia, que começam a buscar mais fontes de energia.
Tensões geopolíticas, guerra tecnológica
As tensões militares e políticas continuarão entre os maiores riscos para a economia, assim como em 2022. Embora não haja fim à vista para a guerra da Rússia na Ucrânia, atritos EUA-China sobre Taiwan, o maior fabricante mundial de semicondutores, e tensões crescentes na Península Coreana em meio aos testes de mísseis da Coreia do Norte provavelmente manterão os investidores em alerta este ano, conforme perspectivas do The New York Times.
A batalha pela supremacia tecnológica entre os EUA e a China pode ficar mais intensa em 2023. No ano passado, Washington proibiu a transferência de tecnologia avançada de semicondutores dos EUA para a China, segundo informações da própria Casa Branca.
“Um conflito comercial agora se transformou em um esforço para definir os padrões aplicáveis de longo prazo em campos altamente importantes, como 5G, inteligência artificial e chips”, disse Luis Felipe Campos. “O sucesso expandirá a base de poder do país no longo prazo. Portanto, ambos os lados não vão querer ceder terreno facilmente.”
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