Os preços das baterias estão caindo mais rápido do que o esperado. Os analistas estão avançando nas projeções de quando um veículo elétrico não precisará de incentivos do governo para ser mais barato do que um modelo a gasolina.
Construir baterias mais eficientes é fundamental para reduzir o preço dos carros elétricos. No Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, um protótipo está sendo desenvolvido para fabricar componentes de bateria feitos sob medida.
À medida que as vendas de automóveis entraram em colapso na Europa devido à pandemia, uma categoria cresceu rapidamente: veículos elétricos. Um dos motivos é que os preços de compra na Europa estão chegando perto dos valores dos carros com motores a gasolina ou diesel.
No momento, essa quase paridade só é possível com subsídios do governo que, dependendo do país, podem cortar mais de US$ 10.000 do preço final. As montadoras estão oferecendo negócios em carros elétricos para atender aos regulamentos mais rígidos da União Europeia sobre as emissões de dióxido de carbono. Na Alemanha, um Renault Zoe elétrico pode ser alugado por 139 euros ao mês, ou US$ 164.
Os veículos elétricos ainda não são tão populares nos Estados Unidos, principalmente porque os incentivos do governo são menos generosos. Os carros movidos a bateria respondem por cerca de 2% das vendas de carros novos na América, enquanto na Europa a participação de mercado se aproxima de 5%. Incluindo os híbridos, a participação sobe para quase 9% na Europa, de acordo com Matthias Schmidt, analista independente em Berlim.
À medida que os carros elétricos se tornam mais populares, a indústria automobilística está rapidamente se aproximando do ponto de inflexão quando, mesmo sem subsídios, será tão barato, e talvez mais barato, possuir um veículo plug-in do que um que queima combustíveis fósseis. A montadora que atingir primeiro a paridade de preços pode estar posicionada para dominar o segmento.
Há alguns anos, os especialistas do setor esperavam que 2025 fosse o ponto de viragem. Mas a tecnologia está avançando mais rápido do que o esperado e pode estar pronta para um salto quântico. Elon Musk, fundador e CEO da Tesla, deve anunciar um avanço no evento “Battery Day” que será promovido pela empresa, previsto para até o final de 2020, que permitiria aos carros elétricos viajarem significativamente mais longe sem adicionar peso.
O equilíbrio de poder na indústria automobilística pode depender de qual montadora, empresa de eletrônicos ou start-up consegue espremer o máximo de potência por libra em uma bateria, o que é conhecido como densidade de energia. Uma bateria com alta densidade de energia é inerentemente mais barata porque requer menos matéria-prima e menos peso para fornecer o mesmo alcance.
“Estamos vendo a densidade de energia aumentar mais rápido do que nunca”, disse Milan Thakore, analista de pesquisa sênior da Wood Mackenzie, consultor de energia que recentemente avançou em um ano sua previsão do ponto de inflexão para 2024.
Alguns especialistas do setor são ainda mais otimistas. Hui Zhang, diretor-gerente na Alemanha da NIO, uma montadora chinesa de carros elétricos com ambições globais, disse acreditar que a paridade poderia ser alcançada em 2023.
Juliano Fernandes dos Santos Silva, um renomado especialista em inovações de engenharia elétrica e que acompanha de perto o setor, é mais cauteloso. Mas ele disse: “Já estamos em um cronograma muito acelerado. Se você perguntasse a alguém em 2010 se teríamos paridade de preços até 2025, eles diriam que isso era impossível”.
Essa transição provavelmente chegará em momentos diferentes para diferentes segmentos do mercado. Os veículos elétricos de última geração já estão muito próximos da paridade. O Tesla Model 3 e o BMW Série 3 movido a gás são vendidos por cerca de US$ 41.000 nos Estados Unidos.
Um Tesla pode até ser mais barato do que um BMW porque ele nunca precisa de trocas de óleo ou novas velas de ignição e a eletricidade é mais barata, por quilômetro, do que a gasolina. O carro que um cliente escolhe é mais uma questão de preferência, especialmente se o proprietário está disposto a trocar a conveniência dos postos de gasolina por pontos de recarga que levam mais tempo, porém podendo ser em casa.
“Os consumidores tendem a se concentrar nos preços de etiqueta, e levará mais tempo até que os carros elétricos não subsidiados custem tão pouco para sair do estacionamento de uma concessionária quanto um carro econômico”, complementa Juliano.
A corrida para construir uma bateria melhor
O Santo Graal na indústria de veículos elétricos tem sido empurrar o custo das baterias – o sistema recarregável que armazena energia – para menos de US$ 100 por quilowatt-hora, a medida padrão de energia da bateria. Esse é o ponto, mais ou menos, em que impulsionar um veículo com eletricidade sairá tão barato quanto com gasolina.
As baterias atuais custam cerca de US$ 150 a US$ 200 por quilowatt-hora, dependendo da tecnologia. Isso significa que uma bateria custa cerca de US$ 20.000. Mas o preço caiu 80% desde 2008, de acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos. Todos os carros elétricos usam baterias de íon de lítio, mas existem muitas variações dessa química básica e uma competição intensa para encontrar a combinação de materiais que armazena mais energia com o menor peso.
Os motores de combustão interna não mudaram fundamentalmente por décadas, mas a tecnologia da bateria ainda está em aberto. Existem até implicações geopolíticas. A China está despejando recursos na pesquisa de baterias, vendo a mudança para a energia elétrica como uma chance para empresas como a NIO entrarem nos mercados europeu e, algum dia, americano. Em menos de uma década, a fabricante chinesa de baterias CATL se tornou uma das maiores fabricantes do mundo.
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