Mesmo com toda a incerteza econômica desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, o mercado de carros usados e seminovos teve motivos para celebrar em 2021: o crescimento registrado bateu recordes e movimentou o segmento. De acordo com a Federação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), só até os primeiros sete meses do ano, o setor já havia apresentado crescimento de 54,7% em relação ao período anterior. Foi o melhor resultado desde o início da série histórica da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em 2003.
Os números da entidade vão além: em 2021 foram vendidos, em média, cerca de 54.802 veículos usados por dia, registrando um aumento de 7,8% em comparação a 2019, antes da pandemia.
A preferência do consumidor por não utilizar transportes públicos durante a crise sanitária, juntamente com a crise de suprimentos para a fabricação de novos veículos, são alguns dos fatores importantes para explicar esse crescimento na demanda por automóveis usados e seminovos.
Neste ano, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria BCG, o mercado mundial deixou de ser abastecido por 10 a 12 milhões de veículos novos, que não chegaram às lojas porque tiveram suas produções paralisadas; só no Brasil, são 300 mil unidades de carros que não foram fabricados. A previsão para 2022 não é das mais positivas, porém apresenta uma melhora: estima-se que 5 milhões de veículos deixarão de ser produzidos globalmente; por aqui, o número cai para 150 mil.
A escassez fez com que o preço dos veículos zero quilômetro aumentassem de forma agressiva, levando os consumidores a optarem pelos veículos usados, de preferência com 1 a 4 anos de uso. Com a alta na procura por carros usados baratos, foi inevitável que o preço desses veículos também sofresse um aumento. Alguns modelos tiveram uma valorização de 20%, enquanto o movimento natural esperado no mercado de seminovos é que o veículo sofra uma desvalorização de 15% a 20% após um ano de uso. Essa valorização não era vista desde o Plano Cruzado, na década de 80.
Uma pesquisa realizada pela KBB, referência em análise de preços de veículos novos e usados no país, mostra que todos os modelos usados entre 2011 e 2017 tiveram um aumento de 10% nos valores. No mercado de seminovos, os modelos de 2018 foram os que mais tiveram reajuste, de cerca de 12%.
Segundo Gustavo Braga, Diretor Executivo da startup Carupi, uma plataforma de compra e venda de carros online, a valorização do seminovo deve ser aproveitada. “Este é um ótimo momento para vender um seminovo e aproveitar enquanto estão em alta. Essa valorização agressiva que alguns modelos sofreram não deve se manter por muito tempo”. Para o executivo, o mercado de seminovos teve esse “boom” por conta da crise econômica e pela falta de estoque de carros zero quilômetro nas concessionárias. “Ainda não há uma previsão certeira de quando as produções devem se normalizar, mas a carência de semicondutores e outros recursos para a indústria automobilística deve avançar até metade de 2022”, diz o especialista.
Na Carupi, Braga conta que esse movimento em busca de usados e seminovos foi sensível: a autotech registrou crescimento na casa dos três dígitos em 2021, e alguns dos modelos mais procurados pelo clientes nesse período, segundo o executivo, foram Renault Kwid, Ford Fiesta, Ford Focus, Nissan Sentra e Peugeot 308.
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