A participação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) nas discussões sobre ações para frear ou mitigar as consequências das alterações do clima, ocorridas durante a 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP26), realizada em Glasgow, Escócia, entre 1º e 12 de novembro, mostrou que o fator sustentabilidade está cada vez mais relevante para o setor se manter competitivo.
Um exemplo da necessidade de as empresas investirem em práticas ESG (a sigla em inglês para princípios ambientais, sociais e de governança corporativa adotados nas organizações) foi o posicionamento adotado pela Black Rock, maior gestora de ativos do mundo. Em carta enviada aos clientes em 2020, a gigante responsável por administrar cerca de US$ 9 trilhões informou que a sustentabilidade será seu novo padrão de investimento.
Nesse cenário, os investimentos em sustentabilidade deixaram de ser uma opção e viraram uma obrigação das empresas e organizações. Uma das áreas nas quais as empresas já entenderam a necessidade de atenção é a de gerenciamento de resíduos sólidos, ao lado de ações para economia de água e energia elétrica, conforme mostrou a pesquisa Industria e Sustentabilidade, divulgada pela CNI no final de outubro passado. Os dados revelaram que 91% das médias e grandes empresas já possuem práticas ligadas a essas três áreas.
O levantamento mostrou que a preocupação com a própria imagem e reputação é responsável por 41% das respostas sobre o porquê dos investimentos. Segundo o engenheiro ambiental João Carlos de Lima Gonçalves, com experiência de quase oito anos na área de gestão ambiental em grandes empresas, no caso do gerenciamento dos resíduos, além de preservar a reputação perante a sociedade, as empresas também miram em faturamento. “Quem não se organiza e não faz o gerenciamento correto, acaba gastando mais para conseguir fazer o devido tratamento, além de desperdiçar a oportunidade de gerar receita com os resíduos gerados”, explica.
Entre as oportunidades possibilitadas pelos resíduos estão as receitas obtidas com reciclagem. Segundo o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana de São Paulo, pelo menos R$ 5 bilhões são perdidos por ano, no Brasil, pelo não reaproveitamento de recicláveis. O engenheiro ambiental atesta que essas oportunidades são reais. “Nas empresas por onde passei, conseguimos gerar receitas para a companhia com o gerenciamento de resíduos. Receitas essas que eram utilizadas para mais investimentos na área ambiental e relacionamento com a comunidade, assim como o uso na modernização das fábricas e otimização de seus processos produtivos”, relata Gonçalves.
Além de garantir a destinação correta de resíduos recicláveis, as empresas também podem reaproveitar seus próprios produtos, quando estes perdem o uso e são trazidos de volta às fábricas por meio da logística reversa. No Brasil, segundo informações do Instituto de Logística Reversa, grandes empresas como Natura, Caldo Bom, McDonald´s e Coca-Cola já têm a estratégia de receber de volta os resíduos gerados por embalagens ou os produtos em si. Essa medida está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Resíduos sólidos no topo da preocupação ambiental das médias e grandes empresas
O levantamento realizado pela CNI poucos dias antes de representantes da entidade participarem da COP26 mostrou que do total das empresas que investem em ações sustentáveis, 42% colocam o gerenciamento de resíduos sólidos no topo das medidas sustentáveis adotadas. Em segundo lugar, com 38% das respostas, estão ações para evitar desperdício de água, seguido da utilização de fontes renováveis de energia elétrica, com 36%. Em quarto lugar, 32% dos os executivos listaram ações para evitar o desperdício deste recurso.
Ainda assim, a pesquisa mostrou que os executivos entrevistados possuem pouco conhecimento sobre a sigla ESG, que já virou febre no mundo corporativo e virou a nova referência quando se fala em sustentabilidade. 72% deles admitiram estar pouco familiarizados com o termo, apesar de o considerarem importante.
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