A pandemia da Covid-19 pode ser considerada um divisor de águas no setor condominial. Em notório declínio – muito embora pairem no horizonte dúvidas sobre a possibilidade de controle absoluto ou eliminação total da ameaça – esse cataclisma que assola a humanidade provocou e ainda irá provocar mudanças na sociedade dentro de um quadro que alguns descrevem como “novo normal”. Isso inclui o mundo dos condomínios, que, mais amadurecido, prosseguirá suas trajetórias. Afinal, aquilo que não mata, fortalece.
Acostumados a lidar principalmente os 5 Cs problemáticos – cano, criança, cachorro, carro e calote – os síndicos passaram a se defrontar com a Covid-19 e seus efeitos, como barulho excessivo, fechamento de áreas comuns, comportamento agressivo de condôminos e mais. Muita coisa não estava em livros ou manuais, mas é fácil constatar que chegam a ponto de ocupar as páginas de uma cartilha de A a Z. “Na etapa em que nos encontramos, às vésperas de 2022, já é possível vislumbrar alguns dos contornos do cenário que virá”, afirma Maurício Jovino*.
A tecnologia, encabeçada pelos aplicativos condominiais, estará no centro dos holofotes. Mesmo com a possibilidade de volta das assembleias presenciais, já é possível perceber a consolidação do modelo híbrido, presencial/virtual. Isso porque há gosto para tudo. Os mais idosos preferem o modelo tradicional, enquanto os mais jovens ficam com o computador e smartphone. É preciso registrar que as assembleias virtuais têm mais quorum, um fator positivo. Essa tecnologia permite também que os proprietários de imóveis de veraneio participem das reuniões sem necessidade de deslocamentos.
Na questão da higiene, mesmo que se abandone o álcool em gel e a prática de colocar sapatos do lado de fora das portas, com o abrandamento da Covid-19 é fácil vislumbrar condomínios mais asseados. Isso inclui não só a intensificação no trabalho da equipe de faxina interna, como também a contratação de empresas especializadas, muitas delas criadas durante a pandemia. Afinal, várias são as doenças contagiosas que aparecem e desaparecem de tempos em tempos. Não se deve baixar a guarda.
Mudanças radicais no comportamento das pessoas são algo imponderável. Só os historiadores do futuro dirão se aprendemos a conviver melhor com nossos vizinhos depois dessa catástrofe sanitária. Seria muito arriscado dizer hoje que a paz prevalecerá. Isso porque, se for feito um paralelo com as guerras, muita gente que sobreviveu aos horrores de um conflito armado já deve ter imaginado: este é o último. No entanto, a violência prossegue.
Tarefas
Mas há muito a fazer. Aí entram as tarefas do síndico e seu papel de liderança. A palavra de ordem é: educação. No caso, capacitação específica. Síndicos são profissionais multifacetados. Suas funções exigem conhecimentos nas áreas trabalhista, tributária, relações humanas (mediação e conciliação), técnica (manutenção de equipamentos) e outras. As novidades têm chegado com frequência inusitada. É a LGPD, stalking, obrigação de relato sobre violência doméstica e mais. Não se pode parar no tempo: atualização.
Jovino defende a exigência de certificações emitidas por cursos técnicos para síndicos, sejam eles moradores ou profissionais. “Não há mais lugar para amadorismo.” Esses cursos, segundo ele, devem ser regulamentados e monitorados pelo MEC. Vale lembrar isso agora que se aproxima o 30 de novembro, Dia do Síndico. Quem sabe, diante de um mercado condominial cada vez mais complexo e exigente, as autoridades se sensibilizem já no próximo ano para essa matéria criando uma legislação abrangente.
*Síndico profissional e diretor do Centro de Capacitação de Síndicos, entidade que atua em parceria com a ACRESCE (Associação dos Condomínios Residenciais e Comerciais).
Website: http://www.acresce.org.br