Pelo menos 71% das indústrias extrativas e de transformação relataram aumento dos custos de insumos e matérias-primas no mês de março, conforme mostra pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no último dia 1º de junho. Na indústria da construção civil, o aumento foi sentido por 73% das empresas deste segmento.
Já entre as empresas que dependem de insumos e matéria-prima importados, 58% das ligadas aos setores extrativista e de transformação relataram aumento de preço acima do esperado. No setor da construção civil, o aumento foi de 68%. De acordo com analistas da CNI, a alta dos preços coincide com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, deflagrada no dia 24 de fevereiro.
A guerra no Leste Europeu também é o motivo apontado pelo aumento, ainda maior, segundo produtores, do custo de insumos, especialmente de fertilizantes utilizados na agricultura. A Rússia é o principal fornecedor desse insumo para o mercado brasileiro. Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), entre janeiro de 2020 e março de 2022, os preços nominais dos principais fertilizantes usados por produtores locais tiveram alta de 288%.
De acordo com a administradora Caroline Janguez Fernandes, as empresas precisam estar cada vez mais preparadas para a volatilidade do cenário internacional e adotar estratégias para se protegerem de oscilações no mercado nacional e internacional, ora por causa de desvalorização do real, conflitos entre países, ora por emergências em saúde, como a causada pela pandemia da Covid-19, que ainda afeta o abastecimento em todo o mundo.
“O segredo está em planejar antecipadamente e conseguir prever o mercado para reagir o mais rápido possível. Com a alta do dólar e a desvalorização do real, uma das estratégias para driblar o alto custo ou a falta de matérias-primas é investir no planejamento a longo prazo”, explica.
A profissional comenta que grandes empresas já investem em tecnologias que permitem prever e acompanhar mudanças no mercado e em seus concorrentes, por meio de sistemas que permitem visualizar o negócio de ponta a ponta e acompanhar a evolução por meio de métricas previamente estabelecidas.
“Uma alternativa é construir uma boa ferramenta que se encaixe no modelo de negócio. O ciclo de planejamento de vendas e operações, também conhecido por S&OP, traz foco para atingimento de metas e de forma objetiva. Um modelo customizado de S&OP conecta os times de planejamento, manufatura e vendas, além de ajudar na tomada de decisão, evitando ruídos no processo e fazendo com que a organização coloque foco na meta a ser atingida”, aconselha a administradora.
Para o problema de falta de insumos e matérias-primas no mercado, Caroline Fernandes também aconselha às empresas a investirem em diferentes fontes de compras, evitando ao máximo depender de um único fornecedor. “Uma estratégia é não focar somente no menor custo no momento da cotação e sim tentar criar parcerias com fornecedores a longo prazo, que podem trazer benefícios e uma qualidade assegurada para produção do produto final”, ressalta a profissional, que tem 11 anos de experiência na área de Supply Chain e comercial, principalmente em mercados ligados ao agronegócio.
O planejamento da produção e de demanda é essencial para não ser surpreendido com aumento de custos
De acordo com a administradora Caroline Fernandes, planejar a demanda de produção e a demanda de vendas é essencial para ser menos impactado por mudanças no mercado. Se a demanda cresce, a empresa consegue ser mais aderente e ofertar uma maior disponibilidade aos seus clientes, além de possuir maiores chances de conquistar novos mercados. Porém, existe um risco que deve ser avaliado, pois se a demanda diminui, a empresa corre o risco de ficar com estoque parado até a próxima safra.
“No agronegócio, por exemplo, grandes produtores de grãos lidam com esta situação de forma recorrente. O plantio das sementes acontece a céu aberto e, muitas vezes, o clima prejudica a colheita, pois produtores precisam lidar com geadas ou secas que impactam diretamente a janela de plantio e colheita das sementes, resultando em um rendimento não esperado. Quanto mais assertivo é o planejamento versus demanda, maiores são as chances de evitar estoque obsoleto e altos-custos posteriormente”, explica.
Outra estratégia citada pela profissional para se preparar para a alta de preços de insumos ou até conseguir redução de custos, principalmente quando se depende de compras externas, é fazer um estoque de matéria-prima, em vez de estocar o produto final. Nas agroindústrias, essa foi uma das estratégias adotadas durante a pandemia da Covid-19 com resultados positivos e que continua a ser adotada pelas empresas, segundo Fernandes.
“Ter a matéria-prima ‘em casa’ permite às empresas terem uma margem para garantir as produções caso tenham problemas ou atrasos com os fabricantes nas importações. Além disso, garante uma economia de custos na oscilação do dólar. As empresas do agronegócio tiveram esta sacada e foi uma boa estratégia adotada, pois a demanda cresceu e eles conseguiram reagir a esta oportunidade. Já a produção do produto final passou a ser conforme demanda de vendas, evitando assim um custo elevado de armazenagem nos centros de distribuição”, concluiu.
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