A ambição das empresas por resultados miraculosos leva a grandes percalços. O mais comum é o estabelecimento de metas surrealistas e sua extensão a todos os funcionários da empresa. Ao passar objetivos que, expostos ao bom-senso, mostram-se inatingíveis, o gestor compromete sua credibilidade perante todos na corporação. Já os executivos sentem-se desestimulados, pois, cumprir ou não as metas que não têm sentido não faz diferença. Há desestímulo geral, o que compromete o planejamento estratégico da empresa como um todo.
Parece absurdo, mas esta é justamente a realidade com que temos nos deparado como consultores e fica evidenciada em recente pesquisa realizada pela Qualitin com gestores de grandes e médias empresas de nove estados brasileiros. Apesar de a maioria dos executivos concordarem com suas metas e as acompanharem constantemente, 21% dos gestores entrevistados acreditam que os objetivos não são alcançáveis.
Quando questionamos se as metas eram ou não reais, a resposta mais comum foi “às vezes”, pois a maioria lida diariamente com metas dentro do possível de serem realizadas e outras totalmente fora de controle. Ora, a inconsistência entre o que é viável e o que é desejado prejudica a gestão como um todo. Qual o estímulo que um executivo tem ao “tentar alcançar o inalcançável”?
Os dados que obtivemos no levantamento mostram ainda que, um a cada cinco executivos criticar o realismo de suas metas, a maior parte deseja participar da definição e dos objetivos traçados. Desta forma, fica clara a necessidade de um maior engajamento do alto nível da empresa, que deve observar o que pode ou não ser realizado em determinado período.
Após se estabelecer algo razoável – até ambicioso, mas necessariamente razoável –, as metas devem ser repassadas aos níveis gerencial e operacional. Somente com o envolvimento de todos, é possível ir à frente, mesmo que o objetivo pareça inalcançável num primeiro momento.
O quadro torna-se mais desafiador quando olhamos a conjuntura atual, em que a retração econômica força as empresas a demitirem funcionários. A ordem no momento é aumentar a produtividade e cortar custos. Mas para que isso ocorra, sem perda de confiança por parte dos funcionários ou sob o risco de tomar decisões equivocadas, é preciso ter o controle das metas e de como atingi-las.
O momento atual exige um plano de contingência que garanta a sustentabilidade dos negócios. Dessa forma, torna-se essencial que empresas de todos os portes busquem ter uma gestão de indicadores que contemple o corte de supérfluo e garanta metas reais. A conjuntura já impõe desafios demais para que as equipes sintam-se perdidas na busca pelo inalcançável.
* Américo Predebon
Engenheiro Mecânico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) com pós-graduação em Engenharia de Segurança no Trabalho, na PUC/RS, (1989) e em “Administração de Marketing” (FGV/SP), é diretor Comercial na Qualitin desde 2011.