A névoa e a falta de nitidez presentes em muitas das cenas do filme chileno “O Clube”, uma das estreias da semana nos cinemas, diz muito sobre para onde a narrativa quer apontar, ao abordar a polêmica questão da pedofilia na Igreja Católica.
A produção de Pablo Larraín, um dos melhores realizadores de seu país na atualidade, está longe de clarificar o papel dos padres excomungados na trama, que começa quase redimindo-os e, logo depois, os joga num processo de linchamento moral.
Mas não há céu ou inferno para eles, um aspecto que acaba inquietando o espectador à medida que o filme avança. Eles próprios não sabem o que fazer de suas vidas a não ser esperar – pelo castigo, pela salvação ou pela continuidade em seu longo purgatório.
Harmonia arranjada
Confinados numa casa litorânea de paisagem idílica, os padres guardam em silêncio os pecados do passado, criando um curioso contraste, no qual a cidade (praticamente não se vê pessoas) ganha um quê fantasmagórico, sublinhado pela fotografia enevoada.
A chegada de uma perturbada vítima e de um padre representante da nova Igreja só faz botar tudo para fora, desestabilizando a harmonia arranjada, mas, ao final, não tiram nada do seu lugar. Pode-se fazer uma leitura humanizada desses clérigos que caíram em tentação, mas também de uma luta por sobrevivência, custe o que custar.