Novas regras do YouTube para coibir publicidade para público infantil abusiva afeta influenciadores digitais
O órgão regulador comercial dos Estados Unidos, a FTC, em 2019 anunciou com base na investigação de privacidade do público infantil e crianças on-line, que iria aplicar uma multa de US$ 170 milhões ao YouTube.
O episódio não só está determinando mudanças globais no serviço do Google, como também deve ter amplo impacto em plataformas digitais de modo geral, criadores de conteúdo e anunciantes.
Por essa razão, muitos criadores de conteúdo em vários países têm se mostrado contrários às novas diretrizes.
De acordo com os dados da Tubelab, empresa especializada em métricas e análise de conteúdo digital, conteúdos infantis postados na plataforma tem tido audiências muito superiores a conteúdos adultos no Brasil,
até 300% mais altas que a média dos demais vídeos.
Hoje o público infantil representam um terço da audiência mundial.
O que dizem os especialistas
Os especialistas Fred Furtado, Felipe Pacheco Borges e Sérgio R. R. Vieira opinam sobre a nova política de proteção infantil do YouTube, que tem pode resultar em menor arrecadação para os criadores de conteúdo na plataforma.
Fred Furtado, CEO da Tubelab, revela alguns pormenores desta nova política do YouTube:
“A plataforma está sofrendo uma profunda transformação no que tange ao público infantil e agora solicitará aos criadores que classifiquem cada um de seus vídeos direcionados a crianças menores de 13 anos, com o objetivo de gerenciar seus conteúdos de acordo com a lei americana, considerada o padrão da indústria no que tange a proteção de crianças na internet.”
No que tange ao mundo fora da internet, Felipe Pacheco Borges, sócio institucional do escritório Nelson Wilians & Advogados Associados, aponta que estas mudanças são importantes para a sociedade:
É necessário que o debate sobre a publicidade infantil seja realizado com base em duas premissas basilares:
Por um lado, a proteção inexorável dos interesses indisponíveis da criança e, por outro lado, a consideração dos aspectos econômicos envolvidos em tal modalidade, já que há geração de empregos, renda;
Muitas vezes até familiar – e, do ponto de vista da utilidade, ainda pode ser utilizada apenas com finalidade educacional, sem lucro.”
No campo jurídico
No campo jurídico, na opinião do Dr. Sergio R. R. Vieira, Sócio Diretor da Nelson Wilians Advogados, a legislação deve se moldar a realidade:
“O fato é que as redes e mídias sociais são a realidade atual e não é viável tentar aplicar uma legislação de uma outra época e outro contexto ao presente momento;
Devemos sim preservar direitos fundamentais, individuais e indisponíveis, contudo, estando sempre atentos as mudanças sociais, culturais e tecnológicas”.
Debate com a sociedade
O especialista Felipe Borges também aponta que muito além da opinião dos influenciadores digitais e da própria plataforma digital, este é um debate mais amplo que contempla toda a sociedade;
“Um exemplo claro da necessidade de debate sobre o tema é a consulta pública promovida durante todo o mês de fevereiro de 2020 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A questão que está sendo posta à sociedade é justamente a criação de ferramentas para maior controle desta modalidade de publicidade, sem que haja a necessidade de uma proibição total pura e simples.
Neste ponto, as plataformas digitais serão o maior desafio”.
A Publicidade digital terá novas regras
Segundo Fred Furtado, agora quando um criador classificar seu vídeo como “adequado para crianças”;
Ele sentirá algumas mudanças que afetam diretamente a forma como poderá trabalhar com aquele material:
“Anúncios personalizados (com base em dados comportamentais) são removidos, os comentários estarão desativados, likes ou dislikes também não estarão disponíveis;
O canal não poderá receber doações e os seguidores não receberão mais notificações.
O impacto dos novos regulamentos do YouTube é de extrema importância devido ao estreito relacionamento que existe entre as crianças e a plataforma.”
O lado dos criadores de conteúdo
Desde que as mudanças, diversos criadores de conteúdo se mostraram insatisfeitos;
Publicando vídeos em seus próprios canais e redes sociais, devido a significativa queda na receita gerada pelos seus vídeos que essas mudanças podem acarretar.
Eles até entraram com uma petição no Change.org com e esperam alcançar 1 milhão de assinaturas.
O que diz o YouTube
O YouTube também anunciou a criação de um fundo global de US$ 100 milhões para ajudar a criar uma programação mais apropriada ao público infantil:
“A ideia é incentivar a produção conteúdo de qualidade, principalmente num panorama em que a fonte de renda de criadores deve diminuir, tanto para o YouTube como para os criadores de conteúdo. “