Brasília, março de 2014 – Desde sábado (22) está no Brasil a convite da Agência Espacial Brasileira (AEB) o pesquisador da Universidade Politécnica da Califórnia (Cal Poly), Jordi Puig-Suari, apontado como uma das maiores autoridades internacionais no desenvolvimento de satélites de pequeno porte – os picossatélites.
Puig-Suari é, ao lado de Bob Twiggs, o inventor dos nanosatélites. Professor de engenharia aeroespacial ele vem ao país para fazer a revisão crítica dos satélites de pequeno porte que estão em construção e que, a partir de junho, serão colocados em órbita: o NanosatBR1, o AESP-14, o Projeto Serpens, o ITASat, e o UbatubaSat.
Nesta segunda-feira (24), ele visita os Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ambos em São José dos Campos (SP). No ITA, o engenheiro também profere a palestra A Importância dos Satélites de Pequeno Porte: passado, presente e futuro.
Com peso entre um e cinco quilos, os nanosatélites têm diversas aplicações. Em geral, são usados para sensoriamento remoto por meio de fotografias de alta resolução, para a coleta de dados meteorológicos e hidrográficos, de desmatamento, de irradiações atmosféricas e também para várias experiências científicas.
Os pequenos satélites têm vantagens em relação aos satélites de grande porte, disse Puig-Suari à Agência Brasil. “Antes de tudo, têm menor custo e, pela menor dimensão, é mais barato, fácil e rápido colocá-los em órbita. São mais fáceis de serem operados e, o mais importante: têm uma engenharia de sistema mais integrada”, explicou.
Apesar de pequenos, os nanosatélites incorporam todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. “A diferença é que todas elas estão em apenas um compartimento”, destaca o engenheiro.
Esse modelo de satélite pode fazer de tudo, tanto para fins comerciais, como científicos e industriais. A agência espacial norte-americana Nasa e o setor agropecuária do país usam bastante esse tipo de tecnologia. “E a tendência é que esse uso seja cada vez maior [nessas e em outras áreas]. Até porque as tecnologias estão cada vez menores”, explica Puig-Suari.
Vantagens – Geralmente, os nanosatélites são mais baratos também por não usarem equipamentos específicos para satélites, e sim aqueles que são encontrados com mais facilidade no mercado. Eles não são feitos para durar muito mais tempo do que os satélites de maior porte, mas apresentam melhor custo-benefício.
“Esses satélites tornam o acesso ao espaço mais simples. São mais fáceis de serem construídos e é mais rápido lançá-los. Com isso, o projeto avança mais rapidamente e, no caso do Serpens [Sistema Espacial para Realização de Pesquisas em Experimentos com Nanossatélites], isso ajudará na capacitação de estudantes”, acrescenta o pesquisador.
O estímulo a estudantes é o que mais empolga o coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da AEB, Jean Robert Batana. “O Projeto Serpens vai desmistificar a cultura espacial das universidades que têm o curso de engenharia aeroespacial. Os resultados e conhecimentos estimularão mais instituições, fazendo com que o Brasil entre em um novo patamar da atividade espacial”, ressalta Batana.
A velocidade com a qual as tecnologias são desenvolvidas é outro ponto que favorece os satélites de pequeno porte, podendo, inclusive, diminuir as diferenças com outros países já que, com elas, novos pontos de partida surgem a todo momento.
Empreendedorismo – “Vislumbramos, em um futuro próximo, vários jovens criando pequenas empresas para fornecer componentes e estruturas ao mercado. E vamos recuperar um pouco da inteligência perdida em Alcântara”, acrescenta Batana se referindo aos técnicos e engenheiros mortos em 2003 no acidente com o Veículo Lançador de Satélite (VLS). Segundo ele, esse projeto envolve mais de 100 estudantes de diversas universidades federais do país.
O satélite do Projeto Serpens está sendo produzido na AEB e tem custo de R$ 3 milhões – valor que inclui os gastos com o satélite, quatro estações em terra (postos de comando) e 20 sensores que enviarão dados e se comunicarão com o satélite a partir de diversos pontos espalhados pelo país. A verba inclui também a instalação de um laboratório de pesquisa na AEB.
“Começamos com esse projeto em agosto de 2013, e o lançamento será feito em um intervalo menor do que um ano”, comemora a professora da Universidade de Brasília (UnB), Chantal Cappelletti, especialista em projetos de sistemas espaciais e coordenadora do Projeto Serpens.
Dos nanosatélites em desenvolvimento no país, o primeiro a ser lançado é o NanosatBR1, programado para 19 de junho, por um foguete russo. Ele testará o comportamento de placas e circuitos eletrônicos em ambiente espacial, fará experimentos científicos de medição da ionosfera para auxiliar estudos sobre meteorologia e telecomunicações, entre outros.
Os demais satélites serão colocados em órbita a partir de setembro, por meio de uma parceria com o Japão, a partir da Estação Espacial Internacional (ISS). Todos estão em fase de produção em diversas universidades e institutos de pesquisa como a Federal de Minas (UFMG), de Santa Maria (UFSM), UnB, Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o ITA e o Inpe.
Fonte: CCS com Agência Brasil (EBC) – Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Jordi Puig-Suari fala sobre a tecnologia dos picos satélites da sede da AEB.