Paris – Os telescópios não param de descobrir exoplanetas “potencialmente habitáveis”, mas como ter a certeza de que realmente comportariam vida?
Os astrônomos desenvolveram uma nova técnica para obter, a partir da Terra, traços de água e de outras moléculas vitais. Desde o início da década de 1990, cerca de 900 planetas que orbitam outras estrelas que não o Sol foram descobertos, de acordo com os números mais recentes da agência norte-americana de aeronáutica e espaço (Nasa). Estatisticamente, recentes estudos estimam que eles poderiam totalizar bilhões em todo o Universo.
A maioria dos exoplanetas descobertos até agora é maior do que a Terra. Mas alguns são rochosos e localizados em áreas consideradas potencialmente habitáveis, nem muito longe nem muito perto de sua estrela. Uma área que não é nem muito quente nem muito fria para ser incompatível com a presença de água em forma líquida, condição necessária – mas não suficiente – para a existência de vida.
“Potencialmente habitável” não significa “habitado” e os meios de observação atuais são insuficientes para analisar a presença de água ou outras moléculas complexas que estão a anos-luz de distância de nós. Mas isso talvez não dure muito tempo. Não de acordo com pesquisadores que vão apresentar hoje seu mais recente estudo na conferência anual da British Royal Astronomical Society em St. Andrews, Escócia.
Uma equipe liderada pela universidade holandesa de Leiden conseguiu detectar o rastro deixado no espectro luminoso por moléculas de água, sem a necessidade de telescópios ultra-poderosos. Normalmente, os astrônomos analisam os exoplanetas medindo quanto sua gravidade influencia a estrela em torno da qual giram. A equipe de Leiden, por sua vez, reverteu o processo ao estudar a influência gravitacional de uma estrela sobre o planeta.
E graças ao espectrógrafo de alta resolução (Crices) equipado com o supertelescópio do Observatório Europeu Austral (ESO), eles conseguiram ler os traços extremamente tênues deixados pela água de um exoplaneta (HD 189733b, localizado a 63 anos-luz e onde a temperatura é superior a 1.000° C) em sua atmosfera. A técnica permitiu recentemente detectar moléculas de monóxido de carbono nesse exoplaneta, mas nenhuma molécula mais complexa.
“Sabíamos que isso funcionaria para moléculas simples, em comprimentos de onda mais curtos. Mas para encontrar a água, tivemos que explorar comprimentos de onda maiores, onde a atmosfera realmente começa a bloquear os sinais que nós procuramos”, explicou Jayne Birkby, astrofísica que liderou o estudo. “Não tínhamos certeza que iríamos encontrar alguma coisa. E ficamos muito felizes quando o sinal apareceu! Isso significa que ainda podemos fazer muito mais com essa técnica”, acrescentou.
Se a água pôde ser identificada, os cientistas acreditam que isso abre caminho para rastrear outras moléculas intimamente relacionadas com a vida, tal como o oxigênio e metano, especialmente quando o telescópio gigante (E-ELT) da ESO no Chile entrar em serviço a partir de 2020. “Na próxima década, nosso trabalho ajudará os astrônomos a refinar suas buscas por planetas semelhantes à Terra – e possivelmente por vida – em órbita em torno de outras estrelas do que a nossa”, explica Jayne.
BATISMO Esta semana, depois de uma consulta on-line, a União Astronômica Internacional (UAI), responsável por definir os nomes de corpos celestes, nomeou a quarta e quinta lua de Plutão como Kerberos (Cérbero, em referência ao cão de três cabeças que guardava o mundo dos mortos na mitologia grega) e Styx (Estígia, o rio que, de acordo com a mesma mitologia, separava os reinos dos vivos e dos mortos).
Até então, os satélites que orbitam o planeta-anão eram chamados simplesmente de P4 e P5. A UAI tomou uma decisão que acabou criticada na internet, uma vez que o nome mais votado foi Vulcan, sugerido pelo ator William Shatner, que interpretou o capitão Kirk em filmes da série Jornada nas estrelas. Vulcan é o nome do planeta fictício do personagem orelhudo Doutor Spock. As outras três luas de Plutão são Caronte, Nix e Hydra.