Estamos em mais uma época de eleições. Em um tempo em que a temperatura aumenta consideravelmente, podemos assistir aos mais diversos embates entre os candidatos em sua busca pelo poder, ou também pelo desejo de se perpetuar nele, dando o tom do que vamos encontrar por aí. A cada ação sempre teremos uma reação em intensidade igual ou maior, é assim que funcionam as coisas no mundo que conhecemos.
No passado tínhamos apenas a televisão. Era o único divertimento para muitas famílias e, até então, o fato de ocorrer apenas uma comunicação unidirecional parecia não incomodar muita gente. O meio de informação para as massas era difundido em escalas continentais trazendo para nós, seres humanos em que nos foi negada a onisciência e a onipresença, o conteúdo tido como verdadeiro. Pelo menos este deveria ser o compromisso.
Não temos ciência de todas as coisas, tampouco temos a capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, com isso delegamos esta tarefa para os profissionais da área, que podem estar nos lugares em busca de informação e trazê-las para nós, sempre assumindo como premissa de que a informação é passada da maneira mais confiável possível.
Com o passar do tempo e com o surgimento da Internet, novas formas de comunicação começaram a surgir. A rede possibilitou a criação de recursos que hoje parece que não conseguiríamos mais viver sem. Cria-se uma necessidade que até então não era necessária, mas como a lei da natureza exige a adaptação para preservação de cada um de nós e da nossa espécie, surfamos nas novidades e nos adaptamos com a situação, tomando a sua forma. A rede ainda vai criar muitas coisas que hoje talvez não sejamos capazes de enumerar.
Então, a passagem da era da TV para a da Internet rompeu o pensamento da época e antes, a comunicação que era unidirecional, passou a ser bidirecional. Não só um grupo de profissionais, que passaram (e passam) estudando por muito tempo é capaz de gerar conteúdo, mas agora qualquer um de nós também é capaz de fazê-lo. Neste ponto, parece existir uma mística no imaginário da população (ou, trazendo para o contexto da Internet, o usuário) de que o meio então passa a ser democrático em seu estado da arte. No imaginário coletivo surge a ideia de que a voz agora é dada para todos, cumprindo o desejo de ser ouvido em tudo àquilo em que se quer dizê-lo.
Temos, a partir daí, o sucesso da rede e, consequentemente, a televisão parece entrar em declínio. Mas, talvez a história não seja muito bem esta, pois como dito acima, nós, seres humanos, por nossa própria natureza temos condições de nos reinventarmos constantemente e com a televisão isso não seria diferente, pois também é feita por seres humanos, seja no conteúdo gerado, seja na tecnologia empregada, seja na sua gestão.
O fato é que hoje percebemos que a televisão também está dando mais voz para as pessoas, sejam nas participações em programas, no auditório, em reportagens, entrevistas, etc., inclusive a televisão também tem se apropriado da Internet para fazê-la mais próxima do público, visto que mensagens no Twitter, postagens no Facebook, fotos no Instagram e vídeos no Vine tem sido utilizados pela televisão para a geração do seu próprio conteúdo e, melhor ainda, sem ter de gastar um dinheiro considerável com royalties ou pagamento pela autoria. O simples fato de ser reconhecido por um veículo de comunicação ao ter o conteúdo publicado já nos dá a sensação de quitação do débito pendente e o reconhecimento da televisão pode ser o passaporte para o desenvolvimento de uma carreira. As trocas são voluntárias e o empresário ganha com a massa de dados gerada para a produção do conteúdo e o usuário recebe o seu pagamento através do reconhecimento com a publicação. Nada mais justo.
O fato é que agora, principalmente nesta época de eleição pelo crescimento em volume de dados gerados, a televisão alimenta a opinião pública e as redes sociais alimentam a televisão, num constante processo de retroalimentação. E isso ainda vai influenciar muito, não só este processo, mas todos os outros que fazem parte do nosso dia a dia. Talvez enganam-se alguns que creem na morte da TV em detrimento da Internet. E no futuro, o que irá sepultar a Internet? Nem sempre o processo criativo se dá em constantes etapas de criação e destruição, mas o processo criativo se dá principalmente na necessidade que temos de nos reinventar a todo momento, para que seja cumprida em nós a nossa própria natureza, que é a adaptação e a preservação.
O paradigma da televisão já mudou há muito tempo e vai continuar mudando graças a Internet, como se ambos fossem amigos muito próximos que dão subsídio um ao outro para o crescimento dos dois. A TV e a Internet são muito mais amigos um do outro do que a gente imagina.
*Gabriel Perazzo é Consultor em Redes pela empresa CYLK.