De acordo com o relatório mais recente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), publicado no início deste ano, em 2019 o Brasil investiu cerca de 89,5 bilhões de reais no setor de ciência e tecnologia. Valor que correspondeu a apenas 1,21% do PIB. Para efeito de comparação, países como Alemanha e Estados Unidos investiram mais de 3% do PIB no mesmo ano.
Na distribuição percentual de dispêndios dos governos estaduais, o estado que mais apresentou investimentos na área foi São Paulo, seguido por Rio de Janeiro e Paraná. Ainda segundo o relatório, os estados com menores índices para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Ciência e Tecnologia (C&T) são Tocantins, Rondônia e Acre.
O baixo nível de investimento foi pauta de debate em reunião promovida pela Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado, no dia 14 de julho. Segundo informações da Agência Senado, diversos participantes do debate ressaltaram que a atual cúpula do Ministério da Ciência e Tecnologia tem compromisso com a área, mas também alegaram que esse compromisso não existe nos demais setores do governo.
O ministro da pasta, Paulo Alvim, declarou durante a reunião que o objetivo é ampliar os investimentos na área para 2% do PIB, mas, para que isso ocorra, são importantes a nova Política Nacional de Ciência e Tecnologia e o novo Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), que ainda serão apresentados.
O especialista em investimentos e inovação e sócio da Macke Consultoria, André Moro Maieski, comenta que o país pode desenvolver melhor o seu potencial científico e de inovação, que, segundo ele, ainda é muito pouco aproveitado. “O relatório do MCTI aponta que a iniciativa privada representa metade dos investimentos em P&D no Brasil, mas se refletirmos que muitos empresários enxergam com receio investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia devido aos seus riscos inerentes e a possibilidade deles não performarem tão bem quanto investimentos mais conservadores, tais como os realizados em máquinas e equipamentos nos projetos de modernização fabril e logística, temos uma imensa parcela de organizações que acabam optando por uma política de maiores certezas, deixando de lado a oportunidade de se desenvolver tecnologicamente, aumentar sua produtividade e maximizar ganhos”, comenta Maieski.
A Unesco, em seu relatório mais recente sobre o tema, também identificou essa necessidade quando afirma que o investimento do Brasil em P&D caiu nos últimos anos, e que empresas estão registrando menores números de patentes. Na publicação, aspectos relevantes como pesquisas sobre Zika, ascensão de energia eólica e outras tecnologias são reiterados, mas, por outro lado, afirma-se que os planos estratégicos e integrados para inovação contêm poucas metas socioeconômicas, e nenhuma ambiental – algo que já foi considerado ponto forte das políticas do Brasil. André comenta que essas percepções aconteceram devido aos reflexos dos baixos números da economia, que impactaram no aporte de entidades públicas que viabilizam investimentos em inovação no país, como: CAPES, FINEP e mesmo o BNDES, pois essas tiveram seu orçamento reduzido por conta dos desafios fiscais existentes no país”.
Com o intuito de entender a percepção dos cidadãos e promover a interação entre a sociedade e a gestão pública, o MCTI disponibilizou uma consulta pública para a população, que permite que opiniões sobre os temas de Ciência, tecnologia e Inovação sejam dadas e possam contribuir para esse setor no país. A expectativa, de acordo com Maieski, é que com a participação da população, nos próximos quatro anos, o investimento em tecnologia e ciência possa aumentar, chegando a pelo menos 1,5% do PIB. “A tecnologia é um forte indutor de crescimento econômico em um país, por isso, é preciso investir em frentes sensíveis aos anseios da população e contar com o apoio da população pode ser um fator determinante para que esses investimentos sejam cada vez maiores e bem direcionados”, finaliza André.
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