Referência no Hipercentro de Belo Horizonte, o complexo predial do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial em Minas Gerais (Senac BH), localizado na rua dos Tupinambás e que atualmente abriga o Centro de Educação Profissional (CEP), é um ícone da capital mineira. Os dois blocos do edifício, construídos na década de 1970, totalizam 10,1 mil metros quadrados de área construída e comportam quase 1,5 mil alunos por turno dos cursos livres e técnicos, além de graduação e MBA da instituição integrada ao Sistema Fecomércio-MG.
Com importância histórica e afetiva para os belo-horizontinos, os edifícios vão passar, em breve, por uma completa requalificação, cujo processo se encontra em fase de escolha para o projeto, por meio de um concurso realizado em parceria com o Instituto dos Arquitetos de Minas Gerais (IAB-MG). No desafio de melhoria da infraestrutura interna e externa (o programa arquitetônico vai contemplar os ambientes educacionais do local, como cozinhas didáticas, laboratórios, salas de aula, estúdio, entre outros), um outro desafio se impõe: obter como resultado um espaço que se aproxime ainda mais dos cidadãos que transitam diariamente pelo Centro da cidade.
Para o arquiteto e urbanista Fabiano Sobreira, sócio da GSR Arquitetos e coordenador do site Concursos de Projeto, modernizar o antigo e inserir novas funcionalidades, materiais e equipamentos, além da valorização do patrimônio, do aumento da sua vida útil e da melhora na qualidade de vida dos usuários do espaço “retrofitado”, garantem dinamismo aos centros urbanos. “Acredito que se pode destacar a importância de requalificação de um edifício histórico na área central de Belo Horizonte para abrigar atividades de educação e encontro”, diz. “É preciso promover espaços que estimulem a vida nos centros urbanos e acredito que esse seja um dos desafios desse projeto”, completa.
O também arquiteto e urbanista Alvaro Puntoni, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-SP), complementa: “Podemos imaginar uma expansão, um adensamento, mas no sentido inverso, de fora para dentro, para essa área dotada de significados e infraestruturas”, diz.
Além da atualização geral das instalações da unidade e da aproximação do local com o público em geral, o retrofit do conjunto de edifícios visa propiciar o conceito de “anytime, anywhere learning” (a qualquer hora, em qualquer lugar, aprendendo), introduzindo modernidade ao antigo, com abertura para mudanças que virão com o passar do tempo. A biblioteca, o restaurante e o bar, sendo espaços de acesso livre ao público, serão o elo do cidadão do entorno ao espaço interior do Senac de forma natural.
Para os arquitetos, o retrofit deve permitir flexibilidade e atemporalidade, tornando a edificação mais resiliente, adaptável às mudanças que o futuro pode trazer e estabelecendo um diálogo entre a edificação e a sociedade. “É preciso compreender o que é o espaço de aprendizado do presente e do futuro para que o ambiente a ser projetado possa abrigar as dinâmicas contemporâneas de aprendizagem. Em um contexto em que o acesso ao conteúdo é cada vez mais virtualizado e descentralizado, o espaço de aprendizado tende a se transformar cada vez mais em um lugar de encontro e de trocas; portanto, um espaço ativo, e não apenas o ambiente passivo, de recepção de informações”, afirma Sobreira. “Um projeto de retrofit dessa magnitude, de dois edifícios integrais, é uma oportunidade rara. Trata-se de uma ótima oportunidade para que possamos caminhar juntos, estabelecer um diálogo e podermos colaborar com o avanço da nossa arquitetura”, destaca Puntoni.
As inscrições para o concurso público nacional de anteprojeto de arquitetura para seleção da melhor proposta de requalificação do complexo de edifícios da unidade central do Senac de Belo Horizonte (blocos 1 e 2) se encerram no dia 15 de fevereiro. O prazo para envio dos trabalhos foi estendido para o dia 18 do mesmo mês. As bases do edital estão disponíveis no site. Podem participar profissionais, individualmente ou na qualidade de responsável técnico de sociedade ou empresa, de prestação de serviços de arquitetura e urbanismo.
Essa é a primeira vez que o Senac em Minas lança edital, na modalidade de concurso, para requalificação arquitetônica, uma oportunidade para os profissionais da área. “Os concursos de arquitetura são os meios mais democráticos (tanto na perspectiva da profissão quanto da sociedade) para a escolha de projetos. Além disso, permitem a antecipação e o debate sobre as respostas potenciais a um problema complexo. O concurso dá transparência e debate público ao processo, além da qualidade do projeto resultante. Não vejo outro meio de alcançar a qualidade esperada pelo Senac: o concurso público de arquitetura é o caminho mais apropriado sempre”, afirma Sobreira. “O concurso de arquitetura é um instrumento de acesso ao trabalho público; deveria ser sempre assim: defender o concurso de arquitetura é, neste momento delicado em que vivemos, defender a democracia”, destaca Puntoni.
A presidente do IAB-MG, Maria Elisa Baptista, avalia a relevância de um projeto dessa grandeza ser escolhido por meio de um concurso público nacional. “O IAB tem refletido bastante nos últimos anos sobre os concursos, porque, sem dúvida alguma, trata-se de uma das formas mais interessantes e democráticas para propor, projetar e alterar qualquer coisa em um edifício ou em uma cidade. Além disso, sabemos que existe toda uma equipe comprometida em escolher, com muito cuidado, alternativas que se encaixem no programa arquitetônico, com propósitos muito bem desenhados, esclarecidos e articulados. Do outro lado, temos um júri, que também tem papel preponderante de escolher aquilo que será o melhor projeto”, destaca. “Contar com projetos de colegas de todo o Brasil é uma riqueza para Belo Horizonte e uma troca de conhecimentos extraordinária”, finaliza.
Website: https://www.concursoarquiteturasenacbh.com.br/site/1