A crise gerada pela pandemia de COVID-19 abarca todos os setores da economia, entre eles o da Educação, que afetou milhões de estudantes em todo o mundo. Toda a cadeia do setor passou por ajustes para se adaptar à nova realidade e, um dos ensinamentos unânimes é o de que a crise fez muita gente entender que o ensino online é possível. Esse e outros pontos foram debatidos em webinar do banco ABC Brasil no final de maio com a presença de Daniel Infante, sócio-fundador da Educa Insights, Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica, Sara Pedrini Martins, VP acadêmica do grupo Laureate, Aldemir Drummond, Vice Presidente Executivo da Fundação Dom Cabral (FDC), com mediação de Roberto Dumke, Head de Research do Banco ABC Brasil.
Os executivos concordaram que, para além da dificuldade de conduzir a adaptação de professores e alunos, muitos dos quais ainda relutantes ao ensino online, um grande desafio para as instituições e empresas de ensino, de pequeno a grande porte, é o gerenciamento do fluxo de caixa e o possível abalo na liquidez. Com relação às operações, 80% das empresas realizaram o processo de migração para o ambiente digital em cerca de 40 dias, segundo estudo da Educa Insights. Já no âmbito financeiro, a dificuldade econômica enfrentada pelo país com o distanciamento social ocasionou a dificuldade de alguns alunos permanecerem e seguirem adimplentes, mas também não houve uma perda tão grande devido à procura pelos cursos durante a pandemia: 66% dos alunos garantiram a continuidade dos estudos, também de acordo com dados do estudo da Educa Insights.
“Atender ao novo mundo que se desenhava foi essencial, o que incluiu a readequação de portfólio e cursos para o pós-pandemia, a adaptação e flexibilização para o ensino híbrido, que acreditamos que irá se firmar como grande tendência nesse cenário pós-COVID-19”, diz Roberto Dumke, Head de Research do Banco ABC Brasil. A mudança de comportamento social foi outro fator levantado, com a confiança no ensino à distância aumentando substancialmente. Uma tendência levantada no Webinar é que se deve começar uma procura maior dessa modalidade como a primeira opção em vez de só como a “mais barata”. A mudança de comportamento também pode ser vista na digitalização dos processos de vestibular, outro dado do Educa Insights mostra que 92,5% dos estudantes fariam o vestibular no formato on-line.
O debate contou com integrantes de três elos da cadeia de ensino: descomplica (ENEM); Laureate (Ensino Superior); FDC (Educação Executiva). “É interessante que as mudanças chegam rápido nas gerações mais jovens (caso Descomplica). Enquanto na FDC, há aspectos como networking e compartilhamento de experiências, que são mais difíceis de absorver num ambiente puramente digital. Ou seja, há quem fale que o futuro é só digital. Há também quem fale que é híbrido. Vejo que a tendência é mais o segundo caso, principalmente quando você chega em programas de pós-graduação”, conclui Dumke.
Debatendo os cenários de recuperação, a flexibilização foi a palavra-chave unânime. Entre as grandes chances para o setor foi colocada a construção de produtos que hoje não existem no modelo acadêmico e da utilização da tecnologia em termos de eficiência em custo (menos espaço físico, menos aluguel). A crise acabou acelerando também a habilidade de gestão e a democratização da educação, outra grande tendência que deve prevalecer, segundo os participantes, que concordaram também no ponto da educação ser essencial para a recuperação socioeconômica, no momento crítico como este, sendo então uma oportunidade para reinventar e aprofundar como se faz educação no país.
Outro aspecto que chamou a atenção é que no cenário pré-covid o país contava com 60 milhões de pessoas aptas ao ensino superior. Metade desses poderia investir até R$ 450 em uma mensalidade, segundo a Educa Insights. “Com a crise, a evolução do desemprego e dificuldade econômica, esse número tende a aumentar. Para os que estão na fase de adequação e flexibilizando a oferta, será válido analisar bem as duas variáveis de custos (docentes e infraestrutura física), para não sofrer com a sensibilidade dos alunos a mensalidades relativamente altas. Com a pandemia derrubando preconceitos e, se a aceleração da digitalização permanecer, a gente pode ter mudanças grandes para o setor”, sinaliza o Roberto Dumke.
Outro cenário esperado pelos players do setor é o de fusões e aquisições, principalmente no ensino superior. A ofertas de ativos e a necessidade do crédito tornam-se muito palpáveis, segundo eles, à medida em que empresas encontram dificuldade no fluxo de caixa, habilidade de retenção e investimentos em plataformas tecnológicas. Mesmo que haja uma sinalização positiva para consolidar o negócio da educação no país, no pós-crise há também a tendência das fusões ou da própria saída do mercado de pequenas e médias empresas do setor. “Fica a reflexão da necessidade de conduzir com profissionalismo e agilidade esse plano de contingência e adaptação, bem como o cenário positivo para investimentos em crédito para as empresas que seguirem a cartilha do que está sendo exposto neste momento de pandemia”, conclui o Head de Research do Banco ABC Brasil.
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