Startups da Amazônia avaliam salvaguardas em cadeias produtivas da bioeconomia
O Idesam é parceiro, desde 2022, do Projeto Floresta+ Amazônia, iniciativa que incentiva quem conserva e recupera a floresta, além de contribuir para a redução de emissões de gases de efeito estufa. Entre um conjunto de ações dessa parceria, está o Programa de Aceleração, no âmbito da Modalidade Inovação que tem como foco a valorização e o apoio a empreendimentos de impacto socioambiental na Amazônia. Entre esses negócios estão a Moma Natural e a Cacauaré – Cacau Nativo da Amazônia, empresas de bioeconomia que carregam o compromisso com a sociobiodiversidade amazônica.
Sociobiodiversidade
Em 2024, as empresas passam por um novo processo dentro do Programa, a criação de uma matriz de salvaguardas que, entre outros elementos, identifica possíveis impactos socioambientais negativos e positivos dos negócios, assim como ameaças ao desenvolvimento desses empreendimentos, mensurando o potencial de risco que elas trazem. Para essa identificação, estão sendo realizadas entrevistas com os líderes dos negócios e oficinas de campo com os fornecedores de insumos da sociobiodiversidade amazônica para essas empresas.
Projeto floresta+
Para esses pequenos negócios apoiados pelo Projeto Floresta+, por meio do Programa de Aceleração, as matrizes de salvaguardas são importantes ferramentas para demonstrar a potenciais financiadores e consumidores a importância e preocupação dessas iniciativas com questões socioambientais, principalmente em se tratando de iniciativas que estão na Amazônia. Elas definem medidas, a serem adotadas de forma proativa, para mitigar ou prevenir potenciais danos e maximizar benefícios sociais e ambientais ao longo de toda cadeia produtiva dos negócios acelerados’’, explicou a assessora técnica e especialista em Salvaguardas do Projeto Floresta+, Luiza Barcellos.
Segundo mapeamento do Idesam, atualmente existem cerca de 200 startups de bioeconomia na Amazônia Legal. De acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), a Região Norte reúne 5% das startups brasileiras dos vários setores de negócios, com investimento médio de R$ 850,5 mil.
“Um dos dramas dos negócios da Amazônia é o desafio da perda de cobertura vegetal, seja por mudanças climáticas ou pelo desmatamento.
Bioeconomia mas mantendo a floresta em pé
Se queremos trabalhar com bioeconomia precisamos da floresta em pé. Todas as empresas de bioeconomia têm algo em comum: o propósito de manter a floresta de pé”, afirma Leonardo Rodrigues, consultor do Idesam responsável pela criação da matriz de salvaguardas.
Na visão do Idesam, a região vive um desafio em gerar valor econômico para as cadeias e com liquidez, fazendo com que os atores tenham receitas que atendam suas necessidades, tanto em volume quanto em frequência. Ao mesmo tempo, ações de curto e médio prazo de comando, controle e gestão territorial devem ser desenvolvidas.
Mitigação de riscos
No que se refere exclusivamente ao enfoque de riscos, ao se descobrir o nível de risco, é feito o mapa com todos eles apontando qual é a probabilidade de ocorrerem e em quanto tempo. Assim, é possível definir uma estrutura de ações de mitigação, adaptação ou reversão desses riscos e qual seria a ferramenta de gestão a ser incorporada pela empresa.
“O Brasil tem uma característica nacional, que é o estímulo para as pessoas se virarem. Como se o brasileiro precisasse ser um autoempreendedor, aprender na raça. Com esta iniciativa, queremos facilitar a gestão dos negócios na Amazônia. Olhar, identificar ameaças e mensurá-las e as formas de maximizar as oportunidades e benefícios dos negócios”, reforça Rodrigues.
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Cacauaré
Exemplo disso está na Cacauaré, criada por uma família de produtoras de cacau há quatro gerações, mulheres que decidiram empreender em 2020, mas sem saber como iriam construir o negócio. Localizada em Mocajuba, no Pará, a empresa surgiu em um momento de transformação da cidade, do ponto de vista urbano e do desenvolvimento econômico. A cidade saiu de uma economia baseada na pesca e no agroextrativismo, para um modelo de fazenda de monocultura de açaí. Com este desafio, as empreendedoras tinham a preocupação em trabalhar com produtos da Amazônia, como o cacau, sustentando o negócio a longo prazo.
“A aceleração foi excelente. Entendemos a questão ambiental que trabalhamos e o impacto que teríamos que desenvolver na nossa comunidade para alcançar a sustentabilidade financeira. Conseguimos nos posicionar enquanto uma empresa. Hoje, celebramos: o que era apenas uma produtora rural se transformou numa cadeia com 18 produtores trabalhando direta e indiretamente conosco. Além disso, desenvolvemos novos produtos que impactam outras cadeias, como castanha-do-pará, a pimenta e o maru” afirma Noanny Maia, fundadora da Cacauaré.
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Agroextrativismo na raiz da bioeconomia
Hoje, a empresa colabora com seis comunidades agroextrativistas da região, impactando mais de 60 famílias ribeirinhas com o aproveitamento integral da produção de cacau. Com a realização de oficinas presenciais, empreendedores de outras cadeias e realidades também ficam em alerta para ações que podem incorporar em suas atividades.
“Com as salvaguardas, foi possível dar retorno para nossa comunidade, aos produtores de cacau com quem a gente se relaciona. Eles compreenderam a nossa relação com o meio ambiente e como podemos usar nossos recursos de forma eficiente. Foi muito bom poder compartilhar o conhecimento com todos para que eles tenham o mesmo cuidado que a gente”, finaliza Noanny.
Negócios amazônicos de bioeconomia
“Além da Cacauaré, o Programa de Aceleração apoia outros negócios amazônicos como Deveras Amazônia, Atlas Florestal, Amazônia Bee, Moma e Passiflora. Estamos constatando diversas realidades e estruturas de empreendimentos. Existem outros negócios Amazônia afora que também precisavam acelerar sua maturação, outros que mudaram a sua origem territorial, até mesmo aqueles com dificuldade em fazer fluxo de caixa. É importante cada vez mais apoiarmos a sustentabilidade e perenidade desses empreendimentos’’, completou o assessor técnico da Modalidade Inovação, Giuliano Guimarães.
Com sua iniciativa, o Idesam pretende criar um histórico com literatura e jurisprudência para que outros negócios possam adotar a mesma medida e se tornar algo perene. Com isso, as empresas podem refletir para tomadas de decisões mais assertivas, como o alcance do preço justo, o pagamento pelo conhecimento tradicional, a repartição de benefícios, uma logística inteligente – fundamental na Amazônia -, entre outros pontos.
Fundo verde
Implementado com recursos do Fundo Verde para o Clima (GCF), o Programa de Aceleração é uma iniciativa Projeto Floresta+ Amazônia, em sua Modalidade Inovação, é resultado da parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A iniciativa fomenta o sistema de impacto para a sociobiodiversidade da Amazônia, com apoio do Idesam e Sense-Lab. Até 2026, serão investidos 96 milhões de dólares em ações e projetos com foco na conservação da Amazônia.
Sobre o Idesam
O Idesam é uma ONG amazonense com atuação na Amazônia Legal desde 2004 e trabalha pela conservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia e suas populações.
Possui a qualificação de Organização Social de Interesse Público (Oscip) e possui o reconhecimento como uma das 100 melhores ONGs do Brasil em 2022 e como a melhor organização ambiental da Região Norte pelo prêmio Melhores ONGs 2020. Recebeu o Prêmio Empreendedor Social 2022, promovido pela Folha de S. Paulo e Fundação Schwab, na categoria ‘Inovação e Meio Ambiente’; e é credenciado como ator da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030).
Coordena as iniciativas Amaz Aceleradora de Impacto, Inatú Amazônia, Café Apuí Agroflorestal, Programa Carbono Neutro, Programa Prioritário de Bioeconomia e Observatório BR-319.
Para saber mais, acesse: www.idesam.org.