Em 2023, o TCU se tornou um dos primeiros órgãos no Brasil a oferecer tecnologia de IA generativa conectada a vários sistemas internos, para uso por todos os servidores e colaboradores. O assistente virtual ChatTCU já atende mais de 1.400 usuários no Tribunal
No último ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou avanços significativos em iniciativas de inteligência artificial (IA) e se tornou um dos primeiros órgãos no Brasil a oferecer tecnologia de IA generativa conectada a vários sistemas internos, para uso por todos os servidores e colaboradores. O conceito se refere a sistemas que têm a capacidade de criar informações, em vez de apenas analisar ou reproduzir dados existentes. O uso da tecnologia está revolucionando as práticas internas e fortalecendo a atuação no controle externo.
O presidente do Tribunal, ministro Bruno Dantas, ressalta que o investimento em tecnologia da informação (TI) é prioridade para a Corte de Contas. “Ao longo dos anos, temos investido consistentemente em TI. Para além de aportes financeiros, o TCU tem equipes altamente qualificadas alocadas nessa área, que exploram novas tecnologias e abordagens, como a inteligência artificial e a análise de dados. Posso dizer que a inovação é um compromisso de todo o Tribunal, sempre com foco na excelência da nossa atuação e no aprimoramento dos serviços prestados à sociedade”, pontua.
O destaque é a implementação do ChatTCU, assistente virtual desenvolvido com a solução Microsoft Azure OpenAI Service. Com foco no uso interno, o sistema atualmente vem sendo utilizado por mais de 1.400 usuários. O chat apoia diversas tarefas, como análise de documentos, pesquisa jurídica, tradução e consultas administrativas, por exemplo.
Em sua terceira versão, o ChatTCU está integrado a alguns sistemas do TCU, utilizando dados, jurisprudência e conhecimento dos sistemas administrativos da Casa. Com isso, a plataforma de IA generativa exclusiva para uso interno no TCU permite conectar o conhecimento institucional ao melhor motor de IA do mercado, permitindo apoiar tarefas complexas sob controle dos servidores.
“Com a integração da ferramenta a sistemas do TCU, um auditor pode tanto consultar o nosso sistema administrativo quanto ter insights para determinada fiscalização. É possível, por exemplo, extrair dados e informações sobre o assunto, a fim de planejar o trabalho”, explica o secretário de Tecnologia da Informação e Evolução Digital do Tribunal, Rainério Rodrigues.
O modelo do ChatTCU foi desenvolvido a partir da criação de Grupo de Trabalho multidisciplinar e intensos debates. Com base no processamento de linguagem natural, o ChatTCU opera na nuvem da Microsoft, sob contrato que garante segurança e confidencialidade, em que as informações são mantidas sob o domínio do TCU e passam por camadas de proteção e privacidade. Considerada um sucesso, a experiência de uso da ferramenta vem sendo compartilhada com outros órgãos da administração pública e já foi apresentada a 80 instituições federais.
“Internalizamos esta tecnologia antes que qualquer outro órgão pensasse nisso. Essa internalização baseou-se no seguinte: esta é uma tecnologia que veio para ficar e precisamos estar preparados para o uso consciente dela, sabendo dos potenciais e dos riscos e sensibilizando os servidores sobre a melhor maneira de utilizá-la”, observa Rodrigues.
O objetivo é que o ChatTCU continue a ser aprimorado à medida que novas funcionalidades forem desenvolvidas. Essas atualizações incluirão a possibilidade de incorporar normas de auditoria no futuro, proporcionando orientações para as atividades do Tribunal; capacidades de realizar buscas na internet para obter conteúdo atualizado; de responder a perguntas com base em conhecimento institucional, citando publicações de referência; de integrar-se a outros sistemas da instituição; de gerar consultas e de realizar cruzamentos em bases de dados por meio de linguagem natural.
Outro ponto importante para o aprimoramento do uso de IA generativa no TCU foi a realização de um chamamento público inédito para receber projetos de Pesquisa e Desenvolvimento por meio de Encomenda Tecnológica (Etec). Na ocasião, foi escolhida a proposta do consórcio NeuralMind & Terranova, que tem trabalhado no desenvolvimento de módulo que agregue funcionalidades baseadas em inteligência artificial à Solução de Instrução Assistida de processos do TCU.
Para garantir melhorias ainda mais significativas, recentemente, o TCU ganhou uma subunidade interna totalmente dedicada ao tema: o Núcleo de Inteligência Artificial, que tem como atribuição principal atual continuar o desenvolvimento do ChatTCU. O grupo conta com cinco servidores e nove colaboradores terceirizados. Além disso, são comuns os eventos internos para divulgação de boas práticas, compartilhamento de experiências e incentivo à inovação.
Um longo caminho sendo trilhado
Desde 2016, o Tribunal realiza investimentos em inteligência artificial. Em busca de ferramentas e tecnologias que fortaleçam a atuação no controle externo, as primeiras soluções criadas foram baseadas em IA clássica, ou seja, sistemas voltados para a classificação e categorização de dados e que tomam decisões com base em regras predefinidas e dados de treinamento.
Dentre as soluções, destacam-se os robôs ALICE (Análise de Licitações e Editais), SOFIA (Sistema de Orientação sobre Fatos e Indícios para o Auditor), ÁGATA (Aplicação Geradora de Análise Textual com Aprendizado), MONICA (Monitoramento Integrado para o Controle de Aquisições), SAO (Sistema de Análise de Orçamento), ADELE (Análise de Disputa em Licitações Eletrônicas), MARINA (Mapa de Riscos nas Aquisições), CARINA (Crawler e Analisador de Registros da Imprensa Nacional) e Zello (assistente virtual do TCU). Além dos sistemas, e-TCE, SIR, Assistente Conjur, Detecta, ALERTA, Pesquisa Integrada do TCU e o Selecionador de Atos de Pessoal baseado em risco.
Desde sua implementação, as ferramentas aumentaram a produtividade dos profissionais do TCU executando trabalhos de análise em diversas áreas como licitações, análise textual, monitoramento de aquisições, análise de orçamentos, disputas em licitações eletrônicas, análise de riscos, entre outras.