Não é novidade que o Brasil passa por um momento delicado na sua economia, as previsões para o crescimento do PIB não chegam nem ao 0,05%, e há poucos tempo os especialistas têm considerado, inclusive, a probabilidade de zerar essa porcentagem.
Por outro lado, o IDC Brasil aponta um crescimento de até 5% no mercado TIC (TI e Telecomunicações) no país, em 2015. Obviamente isso não significa que as empresas de tecnologia vão investir ainda mais no país; agora é o momento de manter, ou quem sabe até retrair, alguns dos investimentos já planejados. Mas, além dos números, na prática, como é que as indústrias e os serviços de empresas de TI pretendem se comportar esse ano?
As soluções voltadas para Business Intelligence e SMACIT (Social, Mobile, Analytics, Cloud and Internet of things são cada vez mais procuradas, a demanda por ferramentas que disponibilizem informações estratégicas para tomada de decisão, bem como àquelas que visam endereçar as novas necessidades de seus clientes permanece contínua. As companhias buscam maneiras de ter uma visão holística do seu negócio, bem como uma análise cada vez mais assertiva dos dados do negócio, de seus seus processos e de seus clientes, bem como dos meios de como interagir com estes clientes exigem uma composição diferenciada que suportem algo que vem sendo chamado de Digital Strategy.
Um novo papel e posicionamento são requeridos por parte dos CxOs, para que elaborem uma estratégia que atenda aos novos requisitos de informação dispersa em vários meios.
Esta estratégia necessita de uma nova abordagem e suporte voltado para a definição de uma Digital Marketing Strategy que enderece os anseios de seus clientes fiéis, bem como possibilite a expansão para novos clientes através dos novos meios; além disso há também a necessidade de uma Estratégia de Operações Digitais que contemple uma plataforma tecnológica compatível, possibilitando o processamento descentralizado, ágil, seguro e escalável nas mais diversas plataformas e localidades; finalmente, é necessário que se viabilize a diversidade de interações de seus clientes, contemplando uma Estratégia de Local de Trabalho Digital heterogêneo permitindo o acesso dos mais diversos dispositivos, aos mais variados meios tais como via mobilidade, mídia social etc.
Vemos no caso das empresas de varejo um claro exemplo da necessidade de inclusão de uma estratégia digital que inclua soluções que atendam à crescente demanda por soluções M-Commerce, que vão além do E-commerce tradicional e que possibilitam, através de dispositivo móvel a navegação nos catálogo de produtos, realização de check-outs e pagamentos eletrônicos integrados à rede bancária, além da retirada da mercadoria em uma localidade próxima ou mesmo na casa do cliente; este exemplo representa o atual esforço destas empresas em alcançar a excelência da experiência do consumidor.
Desta forma o Customer Experience deixou de ser uma busca e torna-se cada vez mais uma realidade e uma necessidade a ser atendida pela área de tecnologia, seja para a indústria de varejo como em todas as demais.
Para a elaboração de uma abordagem baseada nestas novas experiências exigidas pelo consumidor, uma Digital Strategy passa invariavelmente pelo alinhamento dos investimentos de TI com as demandas essenciais de sustentação e crescimento do negócio suportado com estas novas tecnologias. Neste sentido, novas terminologias tais como Demand Shaping, ou, em tradução livre, modelagem por demanda, começam a ser inseridas no jargão tecnológico. Esta abordagem nada mais é do que desenvolver uma governança clara e transparente, utilizando ferramentas de planejamento já existentes, tais como roadmaps, mapeamento estratégico e monitoramento de valor, de modo a apresentar ao alto escalão onde os investimentos de TI estarão sendo canalizados, quais programas e quais benefícios aos negócios serão atingidos e quais metodologias deverão ser empregadas, de modo que este entendimento mostre a clara necessidade de um novo aporte em tecnologia para suporte ao negócio. Em seguida, deve-se realizar o engajamento das pessoas chave para avaliação e ajuste (shaping) das iniciativas farão parte da estratégia a ser seguida. Ao final, para adoção destas novas tecnologias há a necessidade de recursos devidamente capacitados, como parte de equipes solucionadoras com o conhecimento técnico especializado necessário para sua rápida implementação.
Portanto a contratação de serviços especializados para suporte de uma Digital Strategy é algo presente no contexto deste e dos próximos anos.
Além disso, considerando-se um portifólio de programas e projetos sólidos e alinhados estrategicamente, há também a necessidade de incorporação de iniciatiavas que garantam a qualidade de sua implementação. Neste sentido, muitas empresas estão buscando serviços complementares às iniciativas estratégicas, tais como Testing Services que garantam a qualidade dos entregáveis. Neste sentido, já há alguns anos, as empresas de TI têm investido fortemente em sólidas metodologias e ferramentas para suportar estes serviços que, inclusive, incluem alternativas para redução de custos rodando na nuvem, possibilitando um baixo investimento em ferramentas e dedicando maior montante ao aporte de serviços, neste caso serviços de testes. Na área financeira, os bancos têm se destacado com altos investimentos de forma contínua, visando estruturar sua área de desenvolvimento de aplicações com equipes especializadas na elaboração de requerimentos, no desenvolvimento de testes, ou mesmo na contratação de fábricas de testes (testing factories) para a realização de verificação e validação de um grande volume de aplicações, garantindo que as funcionalidades novas e as já existentes não sofram impactos.
Oportunidade de crescimento
Desta forma, um ponto que deve ser considerado nas empresas de TI, em específico para as companhias de outsourcing, é que em tempos de economia incerta e previsões pessimistas, as empresas de terceirização ainda encontram uma grande espaço para crescimento. A procura por redução de custos, redução de investimento em capital e preferência pela contratação de serviços que não representam o Core Business, mas que sejam essenciais para garantia da continuidade do negócio trazem às empresas de outsourcing um aumento de demanda diferenciada, mesmo em momentos de crise. Também em uma crescente, temos a terceirização de processos das áreas de negócio (como finanças, controladoria, compras) através serviços de BPO (Business Process Outsourcing), passando o controle de processos administrativos para empresas especializadas permitindo um ganho siginificativo ao deixarem de se responsabilizar por funções de suporte. Neste quesito, muitas empresas de TI também têm investido consideravelmente em oferecer os serviços de BPO como um atrativo às empresas que buscam otimização de processos e redução de custos.
O mercado de tecnologia em 2015
O panorama do cenário atual se mostra desafiador, particularmente com as retrações econômicas e necessidades de ajustes apresentadas neste início de 2015, porém há uma perspectiva muito promissora para as empresas de tecnologia que forem capazes de fazer um alinhamento de seu portifólio às novas necessidades dos seus clientes, cuja demanda por novas tecnologias continua em franca expansão, e cujo papel do CIO se torna cada vez mais fundamental no direcionamento estratégico do uso destas tecnologias, focando nas demandas essenciais ao negócio, no uso de ferramentas e no serviço de apoio à realização desta estratégia.
*Mauricio Pontes é General Delivery Head para South LATAM na Wipro.