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Empresas Unicórnios vivem o mesmo movimento de mercado das empresas ponto.com

por admin

Entre os anos de 1994 e 2000, as bolsas de valores tiveram como destaque a forte alta dos preços de ações de empresas de tecnologia. Apresentadas ao mercado como empresas disruptivas e anticíclicas, elas vinham atraindo cada vez mais capital e recebendo aportes de investimento sem limites.

O que se via nas bolsas de valores, em especial a NASDAq, era uma ascensão rápida do preço das ações de tais empresas em um grande movimento especulativo, levando investidores, na ânsia de alcançar grandes lucros, a investir nas chamadas empresas ponto com (.com), sem utilizar os métodos tradicionais de avaliação dos ativos.

Esse movimento especulativo impulsionou a NASDAq, que registrou na época 83% de aumento em seu índice, resultado das valorizações extremamente altas e inconsistentes de algumas ações. Para se ter uma ideia, o ano de 99 foi o que teve o maior número de fusões e aquisições, liderado principalmente por empresas de Telecomunicações, Internet e Tecnologia, recorde (US$ 1,8 trilhões) só quebrado em 2019.

Em março de 2000, quando os primeiros resultados financeiros relativos a 1999 começaram a ser divulgados, tornou-se evidente que os preceitos básicos de economia haviam sido ignorados pelas empresas de comércio varejista eletrônico. A premissa de que graças à Internet e a inauguração de uma “Nova Economia” tudo que fosse ofertado seria consumido, começou a se mostrar falsa. Os maus resultados financeiros da maioria das empresas deram fim ao mito “Get Rich Quick” (“Fique rico depressa”).

Aliado à corrupção corporativa, aos escândalos de adulteração de números em balanços e à uma desaceleração econômica, a NASDAq, ao longo do ano 2000, chegou a perder 75% do seu valor. Esse movimento provocou sucessivos desaparecimentos das empresas ponto com. Dessas, um quinto das que abriram capital em 99 já não existiam mais em 2000.

A maioria não chegou a lucrar e os números de falência eram cada vez maiores. Nem mesmo onze cortes sucessivos nas taxas de juros pelo Federal Reserve em 2001 e o aumento do consumo conseguiram reverter o quadro de perdas, impactado ainda mais pelo atentado de 11 de setembro.

Seriam os unicórnios as novas empresas ponto com e a nova bolha da vez?

O ano de 2020 começou com más notícias para algumas empresas chamadas Unicórnios. O Softbank, um dos grandes investidores em Startups, anunciou prejuízo trimestral puxado pelo seu fundo de investimentos Vision Funds.

Empresas que estão em seu portfólio como WeWork e Uber, startups inovadoras que sempre foram muito bem avaliadas dos Estados Unidos (CB Insights), tiveram perdas relevantes em seus valores de mercado.

O fundo Vision Funds foi obrigado a injetar 10 bilhões de dólares, no ano passado, para salvar a WeWork da falência após uma fracassada abertura de capital. Essa mesma empresa teve seu valor reduzido, o que levou o banco a perdas de 8,9 bilhões de dólares e queima de caixa para sustentar suas operações, destruindo valor.

O que parece é que a maioria das startups não está gerando lucros, queimam caixa e, ainda assim, tem acesso a capital, mesmo que especulativo e volátil. Um exemplo é o caso da Grow (Yellow + Grin), que mesmo tendo recebido mais de 222 milhões de dólares de investidores, queimou todo o caixa e foi à falência. Sem um modelo de negócios bem estruturado, escalaram a operação sem dados concretos. Além disso, expandiram as atividades para diversas cidades sem ter ao menos uma operação lucrativa.

Outra organização que tem como característica queimar caixa é a Amazon, empresa que demorou anos para dar lucro. Hoje, vive se aproximando e se afastando do valor de mercado de um trilhão de dólares. Mas o que distingue a Amazon das outras startups? O poder que seu fundador tem de reinventar a empresa. Hoje, mais de 80% de sua receita e 2/3 dos lucros é advinda da sua divisão AWS (Amazon Web Services) que vende serviços de tecnologia (cloud, AI dentre outros).

Todo esse movimento das Startups se assemelha muito com o que ocorreu com as empresas chamadas pontocom. Elas não têm modelo de criação de valor estabelecido de forma clara e há ausência de estratégia. Além disso, sofrem com queima de caixa, valuation inflado e capital volátil especulativo. Talvez uma nova bolha esteja se aproximando!

Essa visão parece estar em consonância com um artigo (“Unicorns, Cheshire cats, and the new dilemmas of entrepreneurial finance”) publicado por Martin Kenney e John Zysmanb na Universidade da California, Berkeley. Nesse artigo, os autores examinam 3 fatores fundamentais na formação do ambiente atual:

  1. Custo reduzido, maior velocidade e facilidade de entrada no mercado devido à disponibilidade de software de código aberto, plataformas digitais e computação em nuvem.
  2. Crescimento no número de fontes de financiamento privadas, incluindo sites de financiamento coletivo, fundos anjos, aceleradores, capitalistas de micro empreendimentos, capitalistas de risco tradicionais e, recentemente, até fundos de riqueza mútua, soberana e private equity – todos dispostos a avançar capital para jovens empresas não listadas.
  3. Após 2013, houve um crescimento maciço no número de empresas privadas apoiadas em capital de risco denominadas “unicórnios”, que possuem capitalizações de mercado superiores a US$ 1 bilhão, isto é, avaliadas de maneira heterodoxa.

Como resultado, há grande facilidade da formação de novas empresas que, com a enorme quantidade de capital disponível, podem suportar grandes perdas por algum período queimando caixa, desalojando as empresas tradicionais ou sobrepujando outras startups.

Autor: Eduardo Santini, consultor da Bip Brasil

A Bip é uma consultoria internacional, presente no Brasil desde 2007. Fundada em 2003, na Itália, possui mais de 2700 profissionais, com projetos em mais de 40 países e 12 escritórios em países da Europa, América e Oriente Médio. Especializada no redesenho e transformação de grandes organizações para enfrentar desafios atuais e futuros.

Acesse o texto completo pelo link: https://bipbrasil.com.br/seriam-os-unicornios-empresas-pontocom/

Website: http://www.bipbrasil.com.br

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