A recente compra pela Amazon do serviço de streaming de games Twitch, por US$ 970 milhões, foi recebida com surpresa no mundo dos negócios. Isso porque circulavam rumores de que o YouTube, que pertencente à Google, estava em negociações para adquirir o serviço.
Com o Twitch, gamers podem se filmar jogando e transmitir as competições para milhões de usuários em todo o mundo. Em 2013, os usuários do Twitch conectaram-se em média duas horas por dia para assistir batalhas de videogames, e isso poderia significar muitas visualizações para o serviço de links patrocinados da Google, o AdWords.
Entretanto, a compra do Twitch pela Amazon pode sinalizar a intenção da empresa de competir diretamente com a Google na área de receita publicitária. A notícia da aquisição veio logo após aAmazon ter anunciado a criação de seu próprio negócio de publicidade, o Amazon Sponsored Links (Links Patrocinados Amazon).
A intenção é que os anúncios do Twitch não sejam mais veiculados no Google, mas sim no portal da Amazon, segundo o Wall Street Journal, o que poderia ser uma enorme fonte de renda.
Aparentemente, a Amazon também vê o Twitch como um complemento para seus smartphones, tablets e set-top boxes da linha Fire, todos eles rodam jogos móveis. Hoje, os usuários do Twitch já têm na Fire uma plataforma fácil e conveniente para transmitir e assistir jogos, mas, em algum momento, a Amazon pode decidir integrar a tecnologia de streaming do Twitch a seus dispositivos Fire.
O Twitch foi fundado em 2011 com o objetivo de proporcionar a visualização ao vivo de videogames. Em julho último, mais de 55 milhões de usuários se reuniram para assistir, transmitir e conversar sobre videogames através do serviço. Os conteúdos foram fornecidos por jogadores individuais, editores, programadores de jogos e outros.
Batalha na nuvem
Os esforços da Amazon para expandir sua influência no mercado de jogos são apenas uma frente em seu campo de batalha contra a rival Google. Outra frente está nos serviços de computação em nuvem ou cloud computing, onde a Amazon está claramente na frente.
– O serviço de computação em nuvem é um mercado em expansão, e a Amazon é um gigante – afirma Jagdish Rebello, analista do setor de tecnologia do think tank IHS Global Insight. “Tratando-se de fornecer meros serviços de computação em nuvem, a Amazon tem mais expertise.” E a empresa não se contenta com um empate.
O Zocalo, novo serviço de compartilhamento de dados da Amazon, foi desenvolvido para competir diretamente com o Google Docs. O serviço será oferecido como parte da Amazon Web Services (AWS), plataforma de computação em nuvem. Ele roda em diferentes dispositivos e permite aos usuários compartilhar documentos, planilhas, apresentações, páginas da web, PDFs ou textos.
A Amazon também saiu na frente ao fornecer serviços costumizados de atendimento ao cliente através de sua plataforma de download de músicas e streaming de vídeos Amazon Prime.
Mas a Google está avançando no mercado de computação em nuvem, onde a gigante de buscas tem uma capacidade de armazenamento de dados significantemente maior, graças a sua rede global de servidores, onde está alocado o serviço Gmail, a rede social Google+ e outros serviços gratuitos.
Publicidade é fundamental
Especialistas dizem que a Google continuará tentando dar continuidade a suas incursões no mercado de computação em nuvem por meio da disponibilização gratuita de dados e serviços, enquanto a geração de receita fica por conta da venda de publicidade.
– Publicidade é tudo – afirma Charles Bartlett, blogueiro de ciência e tecnologia da Califórnia. Para Bertlett, publicidade é a chave para gerar receitas na web. Ele diz que a Google entende melhor do que a maioria que a propaganda online “é muito mais orientada e eficiente do que a publicidade tradicional”.
– Repare ao assistir um vídeo no YouTube que os anúncios correspondem às suas buscas recentes no Google – afirmou Bartlett.
Por isso, a Amazon começou a publicar somente anúncios da própria empresa em seu site de compras. Rebello diz que, ao usar esse “sistema fechado” em seus serviços de compra online e computação em nuvem, a Amazon está tentando replicar o que a Apple fez quando começou suas atividades. “Controlar todos os elementos em seus serviços melhora a experiência do usuário.”
Consumidores e educação
Os produtos de consumo são outra área de competição entre os dois gigantes da tecnologia. A Amazon já tem o leitor de e-book Kindle e uma linha de tablets. A Google tem a linha de smartphones Nexus e a linha Chromebook de laptops acessíveis e de alta qualidade.
Observadores dizem que a Google pode estar tentando ganhar vantagem sobre a Amazon, tornando-se a linha favorita de produtos no campo da educação. “Chromebooks são a alternativa de laptops para escolas”, diz Bartlett. “Eles são baratos, e o software é basicamente livre.”
O blogueiro afirma que o Google Blackboard, serviço da Google para aprendizagem, está sendo cada vez mais usado por professores para lidar com tarefas básicas de sala de aula, como aplicar exames e publicar notas. Para Bartlett, a mensagem da Google para os professores é “o serviço é gratuito, aqui está a sua sala de aula”. E isso, diz, pode ser uma excelente forma de construir a fidelidade à marca por parte de instrutores, administradores escolares, pais e alunos.
Guerra dos drones
Não apenas as nuvens virtuais, mas também o céu de verdade pode dar lugar à próxima batalha entre as duas companhias. Atualmente, Amazon e Google estão testando aviões não tripulados (drones) comerciais. O projeto Wing, da Google, e o Prime Air, da Amazon, já estão realizando voos experimentais simulando a entrega de pacotes de peso médio.
A Administração Federal de Aviação dos EUA vai autorizar voos comerciais de drones a partir do ano que vem. Mas alguns especialistas afirmam que ainda poderia levar vários anos para entregas em larga escala serem realizadas, considerando os problemas logísticos causados por linhas de alta tensão, árvores, aviões voando baixo e outros obstáculos.
Bartlett afirma que Google e Amazon poderiam competir por contratos de entrega por drones, advindos do governo ou de ONGs. Os drones também poderiam ser úteis na entrega de suprimentos de emergência para ajudar grupos que trabalham com vítimas de desastre em regiões de difícil acesso, acredita. Além disso, militares poderiam usar os drones para abastecer soldados na linha de frente.
As companhias de tecnologia estão sempre “de olho no próximo mercado em crescimento”, diz Rebello, e parecem não conhecer limites.