Nesta quinta-feira, 19 de novembro, é lembrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, a data visa lembrar a importância das mulheres empreendedoras ao redor do mundo. O dia também tem o objetivo de suscitar debates em torno das dificuldades vividas pelas mulheres que comandam negócios.
Apesar de representarem um pouco mais da metade da população brasileira (51,8%), de acordo com a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, somente 34% dos negócios possuem “donas” mulheres, segundo o Sebrae. Os outros 66% dos negócios possuem donos homens.
No cenário de startups, que são empresas inovadoras que possuem negócios escaláveis, a participação feminina é ainda menor. De acordo com o Startupbase, a base de dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o país só possui 16% de participação feminina nesse mercado, contra 84% de homens. Ainda segundo a Abstartups, apenas 12,6% das startups brasileiras foram fundadas por mulheres.
Cláudia Galvão, fundadora e CEO da startup de scent tech Noar, responsável pela criação da inovadora tecnologia de “cheiro digital”, faz parte das estatísticas e é uma das poucas mulheres a liderar uma empresa nesse formato no país.
Antes de finalizar a tecnologia de cheiro digital, que permite que consumidores possam experimentar fragrâncias de uma maneira revolucionária e intuitiva a partir de um dispositivo digital, Cláudia conta que superou vários obstáculos.
“Foi bastante complicado para achar uma forma que o projeto avançasse, até porque eu não tinha nenhum investidor no começo. A ideia era ousada e, só foi para frente por causa da luta que eu travei e da confiança que eu tinha de que tudo daria certo”, diz.
Segundo o Sebrae, apesar de serem menos inadimplentes que os homens (3,7% contra 4,2% de empresários homens), as empresárias mulheres pagam taxas de juros maiores (34,6% contra 31,1% de empresários homens). Por estarem à frente, na média, de negócios menores, as mulheres também recebem menos investimentos e têm menor acesso às linhas de crédito mais vantajosas.
Cláudia conta que chegou a buscar investidores fora do Brasil para sua startup e, em um desses lugares, descobriu que uma das alegações para que o projeto do cheiro digital não tivesse sido selecionado para receber investimentos, era que uma empresa liderada por uma CEO mulher “não passava muita confiança”.
“Além das dificuldades profissionais, que são naturais no mundo corporativo, eu precisei lidar com o preconceito. Esse acontecimento foi bastante chocante, mas eu consegui superar com o meu trabalho para mostrar que, sim, era possível”, afirma.
Depois de Cláudia perseverar na captação de investidor, a Noar recebeu investimentos de uma empresa brasileira que é uma das maiores do setor de embalagens de vidro no mundo, a Wheaton.
Tecnologia inovadora na mão de outras mulheres
A solução do cheiro digital chegará inicialmente no setor de perfumaria e o primeiro cliente é a Natura, que disponibilizará em breve no mercado brasileiro e América Latina a tecnologia. O dispositivo que estreará o cheiro digital é o “MultiScent 20”. Ele possui soluções como inteligência artificial, Big Data e conectividade via bluetooth, que possibilita a comunicação entre ele e aparelhos como smartphones e tablets. Essa comunicação faz com que os usuários escolham uma fragrância, através de um aplicativo, e testem o cheiro que é emitido pelo dispositivo. Além de mais higiênico, o cheiro digital permite a experimentação de vários perfumes em sequência, sem confundir o cérebro.
Além do setor de perfumaria, a Noar trabalha em produtos e experiências que utilizam cheiro digital para áreas como marketing, jogos, alimentos, segurança e mais.
No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), cerca de 52% dos mais de dois bilhões de itens comercializados por venda direta no ano passado foi representado por produtos de perfumaria, cosméticos e de cuidados pessoais. A Natura, por exemplo, possui cerca de 1,2 milhões de consultoras de beleza.
“Nesse começo, a tecnologia chegará nas mãos de milhares de brasileiras que atuam como consultoras de beleza, realizam a venda direta e retiram parte ou a totalidade da renda familiar dessa função. A ferramenta oferecerá aos clientes dessas empreendedoras uma forma moderna de experimentar e conhecer os produtos do catálogo, sem depender das revistas impressas. Será uma grande revolução para o mercado”, finaliza Cláudia.