A tecnologia DLT (distributed ledger technology), mais conhecida como blockchain, tem potencial para transformar toda a infraestrutura dos serviços financeiros globais. Esta é a principal conclusão do estudo “O futuro da infraestrutura financeira: como o blockchain pode transformar os serviços financeiros”, realizado pela Deloitte e pelo Fórum Econômico Mundial.
Com as opções de gestão segura para movimentações financeiras online possibilitadas pelo blockchain, o setor de serviços financeiros tem a chance de reconstruir vários processos de movimentação de recursos (como créditos, débitos, transferências, operações estruturadas à vista ou a prazo etc…) e torná-los mais simples, mais eficientes, mais baratos e, em diversas perspectivas, completamente novos.
Mas, apesar de todas as suas potencialidades, essa tecnologia não é uma panacéia: é apenas uma das muitas ferramentas que formam a base da infraestrutura de serviços financeiros do amanhã, de acordo com o estudo.
Nos últimos três anos, a DLT já mobilizou mais de 2.500 pedidos de patentes e cerca de US$ 1,4 bilhão em investimentos. Pelo menos 24 países estão investindo nessa alternativa, 50 corporações se uniram em um consórcio voltado a seu desenvolvimento e 90 bancos já estão engajados em debater suas perspectivas em todo o mundo. Estimativa divulgada no estudo “Fora dos blocos: blockchain – de tendência a protótipo” aponta que 80% dos bancos devem realizar projetos sobre essa tecnologia em 2017.
Dessa forma, o estudo da Deloitte e do Fórum Econômico Mundial considera que a DLT capturou a imaginação e as carteiras do setor financeiro. Porém há empecilhos: o ambiente regulatório é incerto; as normas estão apenas começando a ser desenvolvidas; estruturas jurídicas formais não existem; e tudo isso somado atrapalha a implementação de sistemas em grande escala.
Há, ainda, os desafios típicos da transformação. Atualizar a infraestrutura financeira por meio da DLT levará tempo e investimentos significativos. Além disso, interesses conflitantes transformarão qualquer forma de ação coletiva em um delicado jogo de equilíbrio.
Por que vale a pena?
Simplificando, o blockchain é uma tecnologia que permite a transferência de ativos entre diferentes partes de maneira confiável, por meio de uma rede de computadores, sem depender de intermediários, como uma autoridade central.
As transações são gravadas em um repositório público à prova de fraudes, organizado em blocos cronológicos. Um ativo é representado por um “token” (grupo de caracteres único destinado a garantir a segurança na comprovação de operações entre partes). Todas as partes de uma transação podem acessar esse repositório, e ele permite transparência, registros imutáveis e execução autônoma das regras de negócio, com possibilidades superiores de automação.
Vale lembrar que a tecnologia do blockchain foi criada para viabilizar a movimentação online de bitcoins, ou moedas virtuais, criadas em 2008 como alternativa para permitir trocas e operações comerciais pela internet sem o uso de moedas tradicionais.
“Além de todas as facilidades que o blockchain poderá trazer à gestão financeira global, esse tipo de tecnologia acaba funcionando de modo muito seguro por uma fração do custo dos atuais sistemas utilizados pelas instituições financeiras de todo o mundo, e com liquidação em tempo real. Esses são apelos que não costumam ser ignorados pelos gestores de bancos e os vários agentes parte de seus negócios”, diz Paschoal Baptista, sócio da área de Serviços Financeiros da Deloitte Brasil.
Diante de desafios e oportunidades, a análise da Deloitte e do Fórum Econômico mundial considera que, embora a inovação tecnológica tenha sido fundamental para transformar a indústria financeira, existem outras medidas que irão desempenhar um papel importante neste movimento disruptivo. Antes que a adoção integral do blockchain seja possível, há fatores que precisam ser resolvidos, incluindo aqueles relativos a um ambiente regulatório incerto, à falta de esforços de padronização e à necessidade de um quadro legal formal.
“Estão envolvidos nesse processo incontáveis agentes, autoridades e, até mesmo, países com prerrogativas, interesses e culturas tão díspares que transformar a DLT em ‘mainstream’ no sistema financeiro é de fato um desafio gigantesco”, avalia Paschoal Baptista.
Soluções múltiplas
É por isso que, de acordo com o estudo, o blockchain não é a única solução. Em vez disso, deve ser visto como uma das muitas tecnologias que irão formar a base da próxima geração da infraestrutura de serviços financeiros.
Segundo a análise, não existe uma solução “one-size fits all” (ou uma opção atende a todos, em tradução livre). As aplicações de blockchain diferem de acordo com os tipos de uso, cada uma alavancando a tecnologia de diferentes maneiras para uma gama diversificada de benefícios.
A colaboração entre agentes produzirá o maior avanço, já que, de acordo com a Deloitte e o Fórum Econômico Mundial, as aplicações mais impactantes de cadeias de bloqueio exigirão uma colaboração profunda entre os operadores históricos, inovadores e reguladores, agregando complexidade, o que deve atrasar o horizonte de implementação.
Além disso, a nova infraestrutura de serviços financeiros construída sobre a tecnologia do DLT irá redesenhar processos e questionar as práticas que são fundamentais para os modelos de negócios atuais.
Sobre o relatório
O relatório “O futuro da infraestrutura financeira: como o blockchain pode transformar os serviços financeiros” é baseado nas conclusões de outro documento produzido pela Deloitte e pelo Fórum Econômico Mundial, “Inovação Disruptiva em Serviços Financeiros”, e analisa as implicações da DLT em nove funções dos serviços financeiros.
As conclusões da análise sugerem que esta tecnologia tem o potencial de reformular os serviços financeiros, mas requer uma colaboração cuidadosa de outras tecnologias emergentes, reguladores, titulares e outras partes interessadas para obter sucesso em sua adoção plena.
Principais conclusões do estudo:
· A DLT tem o potencial de oferecer simplicidade e eficiência, estabelecendo nova infraestrutura e processos aos serviços financeiros;
· Ela formará a base da próxima geração de infraestrutura desses serviços, em conjunto com outras tecnologias existentes e emergentes;
· Semelhante aos avanços tecnológicos do passado, a nova infraestrutura transformará e questionará as ortodoxias fundamentais para os modelos de negócios atuais;
· Os casos de uso do blockchain mais impactantes exigirão uma colaboração profunda entre os operadores históricos, os inovadores e os reguladores, aumentando a complexidade e protelando o horizonte de implementação.
As informações apuradas no relatório estudo “O futuro da infraestrutura financeira: como o blockchain pode transformar os serviços financeiros” estão incluídas no rol de temas a serem levados para debate pelos representantes da Deloitte Global que participação da edição 2017 do Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial, a ser realizado entre os dias 17 e 20 de janeiro, em Davos, na Suíça.
Representação da Deloitte em Davos
A Deloitte Global está sendo representada no Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, até esta sexta-feira, 20 de janeiro, por uma delegação de executivos seniores, que manterão contatos com lideranças dos segmentos privado e governamental. Além de tratar dos estudos desenvolvidos com o fórum, participarão de discussões sobre temas como Futuro do Trabalho, oportunidades relacionadas ao tema Smart City (cidade inteligente), Futuro da Mobilidade e o papel que os negócios podem desempenhar em torno desses assuntos.
A delegação da firma no encontro será formada por Punit Renjen, e David Cruickshank, CEO e chairman da Deloitte Global, respectivamente; Cathy Engelbert, CEO da Deloitte Estados Unidos; Prof. Dr. Martin Plendl, CEO da Deloitte Alemanha; David Sproul, CEO da Deloitte Reino Unido; John Hagel, co-chairman do Center for the Edge da Deloitte Estados Unidos e co-chair do The Global Future Council on The Future of Platforms and Systems.
A abordagem do tema Futuro da Mobilidade durante o encontro é liderada pelo diretor-gerente da Deloitte Estados Unidos Scott Corwin. O assunto Futuro do Trabalho tem como líder Brett Walsh, executivo da Deloitte Reino Unido e líder global de Capital Humano da firma. O tema Smart City é tratado pela CEO da firma nos Estados Unidos, Cathy Engelbert.
A íntegra do estudo (em inglês) desenvolvido pela Deloitte em parceria com o Fórum Econômico Mundial estará disponível no seguinte endereço: www.deloitte.com.br .