A pane que afetou o Google e deixou os diversos serviços da gigante de tecnologia fora do ar ou com instabilidade em vários países do mundo fez acender mais uma vez a luz amarela para a concentração e a dependência criada pelas grandes empresas de tecnologia.
Serviços como Gmail, Calendar, Google Drive, YouTube, Google Assistant e Google Home, largamente usados para agendar compromissos, realizar reuniões, enviar mensagens e documentos e controlar a iluminação e a temperatura internas, entre outros, simplesmente ficaram inoperantes. De acordo com a empresa, uma falha no sistema de autenticação devido a um problema na cota de armazenamento interno afetou os serviços durante 45 minutos.
Em alguns países, há relatos de que a falha perdurou por mais tempo. A duração do problema, no entanto, não é o ponto central. Sem poder realizar tarefas profissionais ou pessoais, se comunicar ou mesmo acender as luzes da sala, quando as pessoas estão acostumadas a fazer várias atividades ao mesmo tempo, usando diferentes serviços e dispositivos, poucos minutos seriam suficientes para causar alarme.
Alguns números dão uma ideia da dimensão desse fato. O DownDetector, um serviço on-line de monitoramento e detecção de falhas em tempo real registrou mais de 100.000 usuários com problemas para acessar o YouTube.
A extensão da falha, que revelou o substancial volume de atividades on-line que pode ser interrompido por um problema em uma única empresa, trouxe à tona o evidente risco subjacente à concentração digital. A dependência da tecnologia cresceu muito e os investimentos em testes de qualidade e confiabilidade não aumentaram na mesma proporção. Isso talvez seja um importante gap a ser preenchido.
Concentração no alvo dos reguladores
Poucos dias antes da interrupção nos serviços do Google, um dos data centers da Amazon, na Virgínia, apresentou falha durante uma hora e meia. O problema afetou não apenas os usuários da empresa, mas também vários outros serviços e websites que usam o sistema de computação em nuvem AWS. Essas falhas fizeram com que muitas pessoas percebessem o quanto dependem de uma empresa para realizar tarefas básicas do dia a dia.
O questionamento em torno da concentração das gigantes de tecnologia está também no alvo de autoridades reguladoras em vários países. Na semana passada, a Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos (Federal Trade Comission) e 46 estados americanos abriram processos contra o Facebook por violar as regras antitruste com a aquisição do WhatsApp e do Instagram. Esta é a segunda acusação que as autoridades regulatórias norte-americanas fazem este ano a uma empresa do Vale do Silício. Recentemente, o governo apresentou queixa contra o Google por acordos que excluem concorrentes do negócio de buscas.
A pandemia da covid-19 deixou claro para todos que a conectividade e a mobilidade proporcionadas pelas plataformas e serviços em nuvem são importantes e foram substanciais para manter a atividade e a produtividade. Muitos negócios cresceram ou sobreviveram graças às plataformas digitais de serviços e de comércio eletrônico disponibilizadas justamente por empresas como Google e Amazon, entre outras. Foram elas que possibilitaram o ecossistema digital que minimizou os efeitos da pandemia.
A questão dos limites da dependência põe a sociedade diante de um dilema cuja solução exigirá de toda a população uma profunda e ponderada reflexão para minimizar não somente a ocorrência, mas a extensão e os efeitos delas em suas vidas.
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