Os sites e aplicativos de comunicação em redes digitais, as chamadas “redes sociais”, mudaram os padrões de comportamento de grupos sociais inteiros. Inovações como essas vêm acompanhadas de soluções incríveis para velhos problemas, mas também de possíveis consequências negativas – às vezes provocadas pelo mau uso de alguns indivíduos e amplificadas pelas possibilidades de anonimato na internet.
Durante a atual crise do coronavírus, a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, tornaram-se evidentes as faces positiva e negativa das novas formas de conexão. Se, por um lado, as redes sociais tornaram-se o abrigo quase exclusivo da produção econômica e intelectual, da troca de afetos, da diversão, da arte e da informação, por outro lado houve um derrame de notícias falsas que desinformam e até mesmo criam riscos à saúde de muitas pessoas. As fake news colocam em questão os limites éticos desse ambiente de troca ilimitada de mensagens.
O tema da desinformação deliberada na internet é há muito tempo objeto de debates entre especialistas e também pela sociedade civil em geral. E não é realmente uma decisão fácil traçar uma linha entre aquilo que é liberdade de expressão e o que passa a ter o caráter inadmissível da violência simbólica e da mentira. Mas essa dificuldade não deve servir para nos afastar do debate e da definição de algumas formas de ação, como autodefesa diante de pessoas mal intencionadas, que não se importam em ultrajar, pela confusão, valores preciosos para o bom funcionamento da sociedade: o compromisso com a verdade e a capacidade de diálogo.
Recentemente boas iniciativas têm surgido para combater as fake news tanto no âmbito do Estado, como a aplicação de leis contra o uso de informações deliberadamente falsas e ataques virtuais, quanto no âmbito privado. Há grupos de jornalistas dedicados à pesquisa e esclarecimento sobre as notícias falsas mais difundidas, o chamado fact checking. Além disso, surgem também iniciativas para alertar empresas a respeito da alocação, feita de forma automática, de publicidade que pode eventualmente alimentar sites de notícias falsas, como o Sleeping Giants, iniciativa que chegou recentemente ao Brasil. Nesses casos, a reputação de uma empresa, por vezes arduamente conquistada ao longo de décadas de trabalho sério, pode ser posta em cheque pelo patrocínio involuntário, escolhido por algoritmos, em domínios que criam fake news escandalosos para garantir mais cliques.
A Covid-19 foi alvo de inúmeras fake news, mas também motivou diversas ações de esclarecimento. Dessa forma, é uma oportunidade de reflexão para repensar atitudes e voltar à normalidade a partir de um novo patamar.