O principal assunto da semana no mundo da tecnologia é a polêmica envolvendo o Facebook, do empresário Mark Zukerberg, e uma série de marcas importantes que estão promovendo um boicote temporário à rede social. E esse não pode ser chamado de um confronto de pequenas proporções: mais de 600 empresas transnacionais, dentre as mais importantes do mundo, aderiram à campanha para que haja um controle mais efetivo dos administradores do Facebook sobre os discursos de ódio.
Como todos sabem, nas últimas semanas o mundo foi sacudido por uma onda de protestos contra o racismo após um cidadão negro ter sido morto por asfixia, mesmo já estando rendido, por um agente policial norte-americano. A leitura feita pelos movimentos antirracistas e por cidadãos comuns, nos Estados Unidos e em outros países, foi no sentido de não aceitar a versão que o assassinato tenha sido o resultado de um episódio isolado, mas colocá-lo como parte de um problema estrutural. E esse entendimento tem como consequência estabelecer uma ligação entre a violência física das ruas e a violência simbólica das redes.
Grandes companhias, que valorizam sua reputação e o patrimônio de sua marca, tendem, num momento de crise como este, a se tornar mais sensíveis às demandas de seus públicos. Num sistema capitalista, de livre fluxo de mercadorias e de ideias, a realização de um boicote por parte de empresas que não estão satisfeitas com determinada postura a um canal de divulgação de seu nome é uma estratégia absolutamente legítima. Se há um descontentamento, ele pode ser organizado e manifestado dessa forma, já que nenhuma marca é obrigada a permanecer com seu nome em qualquer lugar que seja, e isso faz parte da democracia.
A pressão tem servido até agora para abrir o diálogo, e as partes tentam encontrar um ponto de equilíbrio. O Facebook afirma que uma triagem a respeito das postagens já é feita, e que poderia haver algum embaraço em reforçá-la, avançando para o campo da liberdade de opinião, o que não seria a intenção de Zukerberg. No entanto, as empresas reunidas no movimento chamado Stop Hate for Profit (que pode ser traduzido como: Basta de lucrar com o ódio) entendem que haveria espaço para aumentar o rigor contra conteúdos ofensivos ou ameaçadores.
Sem dúvida essa é uma disputa delicada, e que deve ser resolvida com as ferramentas da negociação e com o bom senso, para se estabelecer critérios que preservem as liberdades de expressão e compartilhamento, mas também que contenham regulações contra aqueles que querem fazer mau uso de um meio de comunicação tão potente como essa rede social. De qualquer forma, é cada vez mais claro que o mundo está sem lugar para ataques covardes a minorias, e é muito positivo que as maiores empresas globais tenham chamado para si a responsabilidade de colocar um ponto final nessa situação.