Depois de se consolidar no uso compartilhado de bens entre as pessoas, o conceito de pagar pelo que precisa e quando precisa evoluirá para os negócios. Em breve, também as empresas deixarão de adquirir ativos de uso não permanente, tornando-se mais eficientes.
A recessão do final dos anos 2000 deu início a uma mudança na sociedade, introduzindo o conceito de economia compartilhada. Parte dos millenials, preocupados com os custos e ambientalmente conscientes, passaram a buscar formas de evitar a posse de objetos físicos, como carros e imóveis. Eles passaram a optar por usá-los somente quando necessário, pagando proporcionalmente pelo uso.
Surgiram as plataformas para uso de carros, com ou sem motoristas, e aluguel de imóveis por temporada, como Uber, Lyft e Airbnb, acessíveis por smartphones na palma da mão. O uso compartilhado de bens, como carros e casas, também criou uma fonte de receita adicional para seus proprietários, que mantendo a propriedade (e usando-os quando quisessem), maximizaram o valor de seus ativos e monetizaram ativos não utilizados ou subutilizados.
A chamada economia de compartilhamento, seja de uma pessoa física para outra (peer-to-peer – P2P) ou de uma empresa para pessoa física (business-to-consumer – B2C), disseminou-se tão rapidamente que, em 2015, a PwC projetou que a economia de compartilhamento B2C cresceria de US$ 15 bilhões, em 2013, para US$ 335 bilhões, em 2025.
Talvez as cifras não cheguem a esse patamar, porque praticamente todos os negócios, com raras exceções, e setores de atividade desse segmento tiveram redução nas receitas e perdas com as limitações impostas pela pandemia da covid-19. As projeções terão de ser revisadas, mas isso não significa que esse modelo deixará de crescer. E, tão logo a sociedade retomará as rotinas e atividades, e também retomarão a trajetória de crescimento e expansão.
Depois de ter permitido às pessoas compartilharem bens e serviços, a economia compartilhada, como conceito e na prática, está consolidada e tem credibilidade e potencial para alçar novos patamares. E, segundo especialistas, esse novo patamar é o compartilhamento B2B.
Compartilhamento B2B
Em vez de consumidores comercializando bens e serviços, a economia de compartilhamento B2B é quando as empresas compartilham serviços e ativos entre si. Isso permitirá às empresas se tornarem mais eficientes, pagando pelo que precisam e quando precisam e evitando alocar recursos investindo em ativos de uso não permanente.
Com o compartilhamento B2B, as empresas podem se concentrar em seus pontos fortes e terceirizar o resto, desenvolvendo produtos melhores para os consumidores e, ao mesmo tempo, proporcionando a mesma experiência que uma organização tradicional faria. Esse modelo operacional enxuto garantirá que as empresas reajam rapidamente às mudanças do mercado de maneira mais econômica e eficiente. Ele possibilita, por exemplo, que pequenas e médias empresas tenham acesso a recursos aos quais não teriam se tivessem de adquiri-los.
Os modelos P2P e B2C estabeleceram novas relações sociais entre as pessoas. As relações entre empresas também vão exigir mudanças e adequações e, é claro, trazer novos riscos. Uma das premissas é que toda a organização tenha disposição e esteja ciente dos benefícios de compartilhar com outras, que podem ser inclusive concorrentes.
A princípio, a economia de compartilhamento B2B deve girar em torno do ganho de eficiência pelo uso conjunto (ou alternado) de materiais, equipamentos e espaços. Mas, certamente, evoluirá para o compartilhamento de conhecimento e talento, nos levando a um nível de complexidade e causando ruptura não apenas nos negócios, mas nas relações de trabalho.