A formação de panelinhas (grupos fechados) é um fenômeno comportamental generalizado. Ocorre no ambiente escolar, no mundo do trabalho e é também recorrente nos condomínios. A existência desses grupos pode acarretar em prejuízos à vida numa comunidade condominial? Sim, segundo a longa experiência do professor Maurício Jovino, diretor do Centro de Capacitação de Síndicos, em alguns casos.
Afinidades e antipatias resultam em conflitos nos mais diversos graus. Até que ponto o síndico deve tolerar essas condutas? “Não há como evitar a formação de panelinhas nos condomínios. Mas o síndico deve procurar agir com a razão, inteligência, deixando de lado reações emocionais diante de eventuais ações ou ataques verbais de condôminos”, observa Jovino.
O professor, com mais de 3 mil alunos formados em seus cursos, afirma que o primeiro passo a ser dado pelo síndico é analisar e distinguir entre a chamada crítica construtiva e o puro deboche ou até “sabotagem”. Para Jovino, fica claro que quando alguém faz uma crítica ao valor da cota condominial, desempenho de funcionário, higiene do condomínio ou outro aspecto o mais importante é procurar rebater, mas rebater com argumentos consistentes. “Há muitos condôminos que reclamam com interesses próprios, relatando que conhecem fornecedores de serviços que fazem melhor e mais barato. No fundo, são interesses particulares.”
É importante que o síndico promova enquetes, pensa Jovino. Assim, é possível captar a opinião do público condominial de forma mais precisa. “Se alguém estiver questionando o trabalho de um porteiro ou zelador, o síndico pode responder de imediato que tal funcionário é bem avaliado e que aquela é uma opinião isolada. Isso não significa ignorar a reclamação, mas contextualizá-la”, explica. Os aplicativos condominiais mais completos possuem a função “Enquete”, que permite ao síndico fazer pesquisas de satisfação sistematicamente.
Conselho
Mas o síndico não deve ser passivo. Tem de ir atrás. Ao primeiro sinal de descontentamento ou da formação de grupos que se manifestem contra sua gestão é importante chamar para o diálogo. “Na conversa direta a gente percebe o teor da crítica. Já cheguei a convidar condôminos descontentes para o Conselho. É curioso ver que, depois de alguns meses, esses novos conselheiros costumam admitir: ‘não sabia que era assim difícil a administração do prédio!’ Isso acaba tendo um efeito didático e calmante.”
As novas tecnologias de comunicação, como aplicativos de telefonia, potencializaram a capacidade das panelinhas. “É algo parecido com o que ocorre com as redes sociais. Vieram para o bem e para o mau, mas o mundo passou a ser diferente, mais conectado.” Para o professor do curso de síndicos, tal como ocorre nas empresas o ideal é ter uma comunicação oficial forte e periódica. “Os aplicativos condominiais acabam combatendo aquilo que no passado era chamado de ‘Rádio Peão’, ou seja, fofocas e, eventualmente, intrigas.”
Assembleias
O melhor lugar para o debate de ideias nos condomínios é mesmo a assembleia, pondera o professor. “Nela, é possível colocar posições de forma clara, debater temas e decidir segundo a vontade da maioria.” Jovino também aposta que o modelo de assembleia condominial a prevalecer daqui em diante será o misto, presencial/virtual.
Por último, um recurso preventivo que pode e deve ser usado pelos síndicos para evitar comportamentos predatórios, apregoa o diretor do Centro de Capacitação de Síndicos, é a realização de eventos coletivos, como churrascos, comemorações de datas, como Dia das Crianças, e outros. “Essas festividades permitem a quebra do gelo entre condôminos, inclusive o síndico. Conhecendo-se melhor, num ambiente informal e festivo, a hostilidade e o estranhamento tendem a diminuir.”
Website: http://www.acresce.org.br