A previsão de início de operação das usinas de geração de energia elétrica, tendo a biomassa como fonte, deverá acrescentar ao Sistema Elétrico Interligado Nacional 2.169,93 megawatts (MW) até 2028, com acréscimo de mais 41 usinas. Apenas em 2022, o volume previsto a ser adicionado ao sistema deve atingir 602,17 MW. Os dados fazem parte do acompanhamento da implantação das centrais geradoras, previstas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e divulgados em fevereiro.
Atualmente, segundo a Agência, a energia gerada por meio de biomassa corresponde a 8,8% do total da matriz energética brasileira. No planejamento de acréscimo de potência em megawatts ao sistema até o ano de 2028, a fonte por biomassa supera a expectativa de incremento de fonte por hidrelétrica, que não deve passar de 1.406,14 MW. O maior incremento deverá vir das fontes eólicas (13.123,78 MW) e solar (32.284,36 MW).
O gerente de projetos, com especialização em fontes renováveis de energia, Marcelo Paiva Ultra, lembra que o incremento de energia elétrica por fontes renováveis na matriz brasileira faz parte do compromisso com a redução da geração de energia por fontes que emitem gases de efeito estufa, como as de origem fóssil, a exemplo do carvão mineral e derivados do petróleo.
“Esse assunto tem sido tratado gerando compromissos e acordos entre vários países, tais como o Protocolo de Quioto, Acordo de Paris, COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, 26ª conferência), entre outros, com o objetivo de reduzir as emissões dos gases que geram o efeito estufa e assim limitar o aumento da temperatura média global”, destaca.
Considerada uma fonte com emissão praticamente nula, a biomassa tem grande potencial de complementar a matriz energética nacional. Segundo Ultra, a emissão de dióxido de carbono (CO2) durante a combustão da biomassa é neutralizado pela captura do gás realizado pela vegetação de onde foi extraída durante seu ciclo de vida. “Entende-se que a quantidade de dióxido de carbono gerado na combustão da biomassa é a mesma quantidade de CO2 que a vegetação absorveu no processo de fotossíntese, durante todo seu ciclo de vida. Desta forma, na combustão desse tipo de biomassa pode-se considerar que a emissão de CO2 é nula, face ao balanço exposto”, diz.
Uso de pellets de madeira tem potencial para incremento de energia gerada via biomassa
O uso de pellets de madeira para a produção de biomassa e uso como fonte energética vem crescendo no mundo todo. No Statistical Report 2021 – Report Pellet, publicado pela Bioenergy Europe, os países da Europa continuam sendo os maiores produtores de pellets do planeta, atingindo cerca de 23 milhões de toneladas em 2020, registrando o crescimento de 5% na produção em 2020, quando comparado com 2019. Os 27 países da União Europeia foram responsáveis por 44% da produção mundial, 18,1 milhões de toneladas no ano de 2020. A produção mundial de pellets, em 2020, acompanhou o mesmo índice de crescimento da Europa, ou seja, aumento de 5% em comparação com o ano de 2019.
O produto é bastante utilizado naquele continente de forma a atender as demandas por energia limpa, onde em 2020, foram consumidos 30,1 milhões de toneladas. Os 27 países da União Europeia consumiram naquele mesmo ano 19,3 milhões de toneladas, o que representou 49% do total consumido no mundo.
De acordo com Marcelo Paiva Ultra, no Brasil, o uso dessa fonte tem bastante potencial. Em projeto desenvolvido no curso de pós-graduação em Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no ano passado, foi proposta a construção e operação de uma fábrica de pellets de madeira a partir dos resíduos de poda de árvores urbanas. O desenho do projeto mostrou que há viabilidade desse processo.
“A poda urbana é um dos manejos vitais e inerentes a todo o ciclo de vida das árvores na urbanização das cidades. Os resíduos, fruto da poda urbana, são uma realidade nas cidades e precisam ser tratados ou descartados. Infelizmente, em algumas cidades brasileiras, grande parte dos resíduos são descartados de forma incorreta em aterros e lixões, sem o aproveitamento do imenso potencial para a geração de energia. Com o projeto proposto, todos esses resíduos deixariam de ser um “problema”, sendo utilizados na fabricação de pellets de madeira e transformados em energia limpa”, atesta o profissional, que também tem formação em engenharia eletrônica.
Ele ressalta que a adoção do sistema, porém, deve ser precedida de licenças ambientais e obedecer à regulamentação segundo as normas vigentes. “É preciso garantir a utilização dos filtros, dispositivos e controles necessários para conter os fumos, gases tóxicos, partículas e a correta destinação dos resíduos sólidos após a queima dos biocombustíveis”, conclui.