Nos últimos sete anos, os reservatórios das hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da energia gerada no Brasil, receberam um volume de água inferior à média histórica, gerando uma crise energética no país, segundo o levantamento feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico. Em maio deste ano, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico do Ministério de Minas e Energia, em razão da estiagem, deliberou sobre a necessidade de acionar usinas termelétricas para que fosse possível abastecer o país. Conforme o relatório do Ministério de Minas e Energia em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2020, a dependência das hidrelétricas caiu para 65,2%. O principal motivo é o aumento da capacidade de produção de outras fontes: biomassa (9,1%), eólica (8,8%), gás natural (8,3%), carvão e derivados (2,7%), nuclear (2,2%), derivados de petróleo (2,1%) e solar (1,7%), mesmo assim, ainda é muito alto o nível de dependência das hidrelétricas.
A política adotada para o mercado livre de energia no Brasil é importante para incentivar a expansão de fontes renováveis, mas acabou por criar grandes distorções no setor, grandes consumidores migraram do mercado cativo para o livre aproveitando os subsídios setoriais e fiscais, resultando em custos menores para esses agentes e custos maiores para os consumidores cativos (em geral pequenos e médios consumidores), afirma José Roriz Lustosa Cantarelli Junior, graduado em Engenheira Civil com ênfase nas áreas de geração de energia elétrica, construção civil, agricultura e indústria.
“O impacto não é apenas financeiro, ele também reflete nos leilões de contratação de energia nova os quais dependem da demanda das distribuidoras, que por perderem mercado para o ambiente livre, tornam-se cada vez menores, resultando em contratação de termoelétricas aquém do necessário para garantir a segurança do sistema”, explica o engenheiro civil de energias.
José Cantarelli esclarece que, nos últimos anos, houve um incremento significativo na capacidade instalada de fontes limpas no Brasil, porém intermitentes (eólica e solar), e relata que neste último mês o país está passando pela pior crise hídrica, em 91 anos. Ele também observa que o motivo principal é a dependência dos reservatórios para geração de energia hidrelétrica, e a solução é contar com fontes alternativas complementares para suprir a necessidade deste e dos próximos anos, evitando racionamentos e apagões momentâneos, que somados ao momento pandêmico da covid-19 e a necessidade de retomada do crescimento econômico, será imprescindível para credibilidade dos investidores e o suprimento necessário de energia.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), se no ano de 2001 as usinas movidas a petróleo (diesel), carvão mineral ou gás natural eram a única saída, em 2021 o país pode contar com complexos eólicos, usinas termelétricas e até biomassa para gerar eletricidade. A estimativa do Plano Decenal de Expansão de Energia 2029 é de que o setor energético vai precisar de R$ 2,34 trilhões de investimentos para atingir os objetivos traçados. Desse valor, quase 2 trilhões seriam aportados em segmentos do petróleo, gás natural e biocombustíveis e cerca de R$ 450 bilhões em geração e distribuição de energia e linhas de transmissão.
Conforme o especialista, nesse cenário atual, a única fonte alternativa que poderia atender a demanda de energia no Brasil é a geração térmica, pois possui um atributo fundamental para a segurança de um sistema elétrico (por ser despachável), por não depender de nenhuma fonte natural como água ou vento, além de poder ser implantada em curto prazo com eficiência e segurança necessária.
“No presente ano o Ministério de Minas e Energia (MME) estabeleceu os critérios para o primeiro leilão de capacidade, que será responsável por contratar potência através de termoelétricas, algo muito bom para o país. Venho investindo no setor de energia elétrica, há quinze anos, com implantação de projetos termoelétricos, e posso afirmar que a geração térmica é a única fonte para suprir em curto prazo a geração de energia no país, porém teremos que contar com boas chuvas nos próximos anos”, conclui José Cantarelli.