As consequências da crise econômica mundial, potencializada pela pandemia da Covid-19, ainda será sentida por algum tempo pelo setor produtivo. No caso de aquisição de peças, insumos e matéria-prima, as dificuldades de abastecimento reportadas pelas empresas durante todo o ano de 2021, deverão continuar, pelo menos, até abril de 2022. É o que atestou levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em dezembro passado. Pelo menos sete em cada 10 indústrias apresentaram dificuldade para adquirir insumos e matérias-primas.
O problema foi relatado por 68% das empresas das indústrias da construção e de extração. Segundo a CNI, o percentual é um pouco menor do que o relatado em fevereiro passado, quando as dificuldades de abastecimento de insumos e matérias-primas atingiram 73% das empresas pesquisadas. De acordo com o levantamento, as dificuldades de aquisição ocorrem tanto na importação do exterior quanto no mercado interno.
Uma saída para tentar driblar o problema é fortalecer as estratégias do setor de compras das empresas, pesquisando fornecedores e preços alternativos. Para empresas que dependem de reposição de peças, por exemplo, especialmente a indústria de bens duráveis, a experiência e o conhecimento do mercado de quem atua nesse setor, com foco nas chamadas estratégias de sourcing (ou abastecimento) são fundamentais. “A participação especializada de compradores que conhecem os processos e materiais envolvidos na aquisição dos insumos garante que a empresa compre com prazos e preços competitivos para o sucesso do produto, avalia Flávio Cunha Cé, que atua há mais de 10 anos nas áreas de compras, sourcing estratégico e comercial.
Ele explica que existem ferramentas e técnicas já utilizadas por algumas empresas que podem ajudar a encontrar os fornecedores. Uma dessas ferramentas é a planilha de custos abertos (cost breakdown), onde são inseridas todas as informações do produto e fornecedores, possibilitando analisar diversas variáveis e encontrar a melhor opção disponível para compra. “É possível entender o processo de fabricação, máquinas utilizadas, tempo de ciclos, mão de obra empregada, custos administrativos, lucro e custos de componentes. Em posse dessas informações pode-se fazer uma análise crítica dos custos, procurar alternativas de materiais e componentes que gerem economia sem perda de qualidade de produto, além de discussões sobre melhora de processos e redução de ciclos, tornando a produção mais eficiente”, atesta.
A redução de custos como uma das vantagens em se analisar a melhor escolha de fornecedores de peças, insumos e toda matéria-prima necessária para produção, sem perda de qualidade, é outro desafio das empresas, especialmente em 2022, quando ainda não há perspectiva de total recuperação da economia brasileira frente aos últimos cinco anos antes da pandemia da Covid-19. Com projeção de crescimento do Produto Interno Bruto em 1,1%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a tendência é que as empresas adotem mais cautela em relação a gestão de custos e investimentos.
Na experiência de Cunha Cé, para evitar prejuízos e garantir compras assertivas é importante que o setor de compras tenha o apoio das áreas técnicas da empresa. “Isso é importante para que o alinhamento dentro da companhia seja uniforme e se tenha uma conclusão comum sobre as necessidades comerciais e os requisitos específicos do produto”, recomenda.
Falta e alto custo de matérias-primas desafiaram a indústria em 2021
Na pesquisa Sondagem Industrial, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a escassez e o custo alto de insumos e matérias-primas foram problemas recorrentes enfrentados pelas empresas ao longo do ano de 2021. No segundo trimestre do ano, a dificuldade em conseguir compras para viabilizar a produção foi relatada por 68,3% das indústrias. A causa é atribuída às paralisações de produção de insumos, fornecidos tanto no mercado interno quanto no externo, ocasionadas pela pandemia da Covid-19.
A escassez prejudicou os níveis de estoques das indústrias. Segundo o levantamento da CNI, em junho, o chamado indicador de estoque efetivo em relação ao planejado pelas empresas ficou abaixo de 50 pontos, número desejado para a segurança da produção. Em novembro de 2021, os níveis dos estoques voltaram a subir, chegando a 50,6 pontos. Apesar do índice positivo, o setor ainda está cauteloso em relação aos próximos meses.
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