A utilização de anticorpos monoclonais para estudos, tratamentos e terapias traz grandes benefícios para a sociedade por possuírem alta especificidade para o alvo contra o qual se destina, segundo a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – FEMAMA. De acordo com a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, aproximadamente 80% dos anticorpos monoclonais aprovados para o uso na Europa e nos EUA, também estão aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso no Brasil.
Conforme a especialista Michele Cristina Miyauti da Silva, que possui graduação em bacharelado e licenciatura em enfermagem e mestrado em ciências, ambos pela Universidade de São Paulo, para poder entender o significado dos anticorpos monoclonais é necessário compreender dois termos separados: plasma sanguíneo e anticorpos.
“O plasma sanguíneo é um dos componentes do sangue (parte líquida de cor amarelada) composto por água, proteínas, nutrientes, hormônios e resíduos de gases respiratórios. Sua principal função é transportar essas substâncias para defesa do corpo e ser responsável pela respiração das células e pela coagulação. É nele que, também, circulam os remédios que ingerimos. Dentre as diversas proteínas presentes no plasma sanguíneo está a globulina, que atua na imunidade contra infecções e doenças”, informa Michele.
Os anticorpos são uma fração das globulinas, diz a enfermeira, e possuem a forma de um “Y”, chamados de imunoglobulinas (Ig). Eles são produzidos por um tipo de leucócito conhecido como glóbulo branco (linfócito B) o qual é produzido na medula óssea (dentro dos ossos) e distribuído pelo corpo através do sistema linfático, que ajuda na defesa do organismo carregando os anticorpos por todo o corpo. “É comum vermos alguns profissionais da saúde dizendo que os anticorpos são os soldados de defesa do nosso corpo”, relata Miyauti.
Segundo a mestra em ciência, existem cinco tipos de anticorpos: IgM, IgG, IgA, IgD e IgE, cada um com uma única forma de agir contra os vírus, bactérias, toxinas, entre outros, conhecidos como antígenos. “Todo antígeno presente no organismo aumenta a produção de anticorpos para poder eliminá-los, gerando uma resposta imunológica. Com isso, é possível dizer que a substância imunogênica é capaz de gerar, também, uma memória imunológica”, explica Michele, que é membro da Sigma Theta Tau Internacional – Honorífica Sociedade de Enfermagem Internacional.
Um exemplo, dado pela profissional, de substância imunogênica são as vacinas, por serem constituídas de antígenos que estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos, assim, numa nova exposição ou contaminação a memória imunológica identificará rapidamente e o destruirá, sem tempo de desenvolver a doença novamente no organismo. “Por isso, as vacinas são tão importantes na prevenção de doenças e controles endêmicos e pandêmicos. Importante ressaltar, que os antígenos presentes nas vacinas estão inativos ou atenuados, ou seja, mortos ou sem força, sendo incapazes de causar doenças”, explana Miyauti.
No Brasil, a Anvisa além de aprovar as vacinas no combate à pandemia da COVID-19, também aprovou o uso emergencial de anticorpos monoclonais para o tratamento. Conforme a agência, a combinação de casirivimabe e imdevimabe já havia sido aprovada emergencialmente por outras agências regulatórias internacionais, como a Food and Drug Administration (FDA) e as agências do Canadá e Suíça. A indicação é para casos confirmados laboratorialmente classificados como leves ou moderados em pacientes a partir de 12 anos de idade e com no mínimo 40kg, e que sejam considerados de alto risco de progressão para formas graves da doença.
“Quando falamos em anticorpos monoclonais estamos nos referindo a um tipo de medicamento, e o seu uso é conhecido como imunoterapia. Eles são gerados em laboratório e produzidos por meio de uma clonagem de um único anticorpo em resposta imunológica a uma substância causadora de doença. Assim, são idênticos ao biológico, porém mais eficientes e capazes de tratar várias doenças como alguns tipos de cânceres, doenças crônico-neurodegenerativas e autoimunes”, declara Michele.
Nesse processo, menciona a mestra em ciência, os pesquisadores primeiro identificam o antígeno que deve ser atacado para poder produzir um anticorpo monoclonal específico para ele, e isso é considerado atualmente um tratamento altamente avançado e preciso. “É como se o corpo recebesse um batalhão extra de soldados para acabar com o antígeno que está causando a doença, poupando o organismo do trabalho exaustivo na produção de anticorpos pela medula óssea”, acrescenta a enfermeira, com experiência há 10 anos em multinacionais farmacêuticas de ciência e biotecnologia e no acompanhamento a pacientes que utilizam Terapias Monoclonais pelo Brasil.
A especialista também lembra que os primeiros estudos sobre os anticorpos monoclonais aconteceram no ano de 1975, e foi premiado com o Nobel de Medicina em 1984 entre os pesquisadores europeus. “A imunoterapia ainda é muito recente e muito cara. No Brasil, o Instituto Butantã pretende iniciar a produção de anticorpos monoclonais no final desse ano (2021), o que significará um grande avanço para a ciência e para a saúde brasileira. Hoje, o tratamento com anticorpos monoclonal já existe no Sistema Único de Saúde (SUS), mas é um tratamento importado e por isso é considerado um medicamento de alto custo”, finaliza Michele Miyauti.