A discussão que atraiu a atenção dos participantes da Airport Infra Expo – Gestão de Aeroportos na tarde desta terça-feira, 23, foi o plano de desenvolvimento da aviação regional. Guilherme Ramalho, secretário executivo da Secretaria da Aviação Civil, falou sobre o tema para um público seleto em Brasília e salientou que “temos um desafio de aumento da oferta de infraestrutura e de serviços aeroportuários. A demanda pelo setor aéreo brasileiro triplicou nos últimos 10 anos e triplicará novamente nos próximos 20 anos e a descentralização dos fluxos e das rotas é fundamental”.
“Incentivo à aviação regular tem a ver com o direito de deslocamento de cada brasileiro”
Afirmação é do secretário executivo da SAC, Guilherme Ramalho, durante palestra da Airport Infra Expo – Gestão de Aeroportos. Diretor da Embraer fez projeções para o mercado brasileiro.
Segundo dados expostos por Ramalho, nesta última década o número médio de passageiros passou de 200/300 mil para 1 milhão e hoje o número de aeroportos regionais é menor. “Nestes últimos quatro anos foram investidos R$ 13,4 bilhões nos grandes aeroportos e com as concessões foi introduzido o conceito da concorrência, fundamental para a elevação do nível de serviços. Entretanto, temos o desafio de repetir o mesmo êxito concentrado entre os aeroportos grandes, nos aeroportos regionais agora. O que não é absurdo de se pensar considerado o aumento populacional e econômico das mais diversas regiões do País”.
No Brasil, entre 80 e 90 aeroportos oferecem voos regulares fora das capitais, o que indica que cerca de 40 milhões de pessoas (21% da população) não têm acesso à aviação regional. Além disso, as passagens aéreas de voos regionais são em média 31% mais caras que as dos grandes centros. “As rotas exclusivamente regionais representam 1% dos assentos ofertados, o que indica a grande concentração das rotas entre capitais, deixando de lado a aviação regional”, diz Ramalho, acrescentando que “para algumas regiões, o acesso à aviação regular tem mais a ver com o direito de deslocamento de cada brasileiro do que com a oportunidade econômica da atividade”.
Atenta ao cronograma do plano de desenvolvimento da aviação regional, a SAC já realizou estudos de viabilidade de 263 aeroportos e entregou 159 estudos preliminares e 55 projetos, que já foram autorizados e aguardam licenciamento ambiental. “Um dos pilares deste programa é a padronização e a modularização para o controle de custos e prazos”, afirmou.
Subsídios – O secretário falou também das políticas de subsídios de tarifas aeroportuárias e passagens aéreas em voos regionais, abordando a discussão no governo federal para reduzir a diferença de preço entre a passagem aérea e a rodoviária. Ramalho enfatizou a importância da aviação civil no desenvolvimento econômico do pais. “Um aumento de 10% de conectividade entre aeroportos brasileiros promoverá em média um aumento de R$ 2 bilhões no PIB do País”.
Extrema concentração – “O mercado brasileiro ainda está muito concentrado. Os cinco maiores aeroportos concentram 57% dos voos, sendo que nos Estados Unidos, os cinco maiores detêm apenas 21% dos voos”, afirmou o diretor da Embraer, Luis Fernando Vicente Lopes.
Além de ser concentrado na operação, o mercado brasileiro da aviação está limitado pelo tamanho das aeronaves. “Da frota brasileira, 270 aviões têm 180 assentos; 108 possuem 120 assentos e apenas 76 de aviões menores, que atendem os aeroportos regionais. Quase dois em cada três voos no País saem com mais de 160 assentos”, detalha, acrescentando, que a consequência dessa concentração é que a qualidade do serviço oferecido decai: “87% de todas as rotas saem com menos de dois voos diários”
A concentração nos grandes aeroportos brasileiros traz distorções importantes na comparação com outros mercados, como o norte americano. “A média de destinos no Brasil é de 108, cinco vezes menos que nos Estados Unidos. Lá há 6.000 rotas operadas diariamente, sendo que o Brasil não ultrapassa as 600”, diz Lopes. “Além de falta de destinos, sofremos com a falta de conexões. Nos Estados Unidos há 71 mil combinações, origens e destinos, no Brasil, apenas 4.038”, acrescenta.
Segundo a Embraer, a previsão para o aumento da demanda está na casa dos 2% até 2016, quando se espera que se regulamente a questão dos subsídios. “Serão dois anos recessivos, para depois voltarmos a crescer”, finalizou a palestra Lopes. A AIE 2015 – Gestão de Aeroportos continua nesta quarta-feira, 25, com discussões sobre a infraestrutura dos aeroportos internacionais e de conexão, além de um workshop sobre captação e qualificação de recursos humanos para o setor.