A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e a Nokia Networks (uma das principais fornecedoras de estrutura para redes fixas, móveis e convergidas no mundo, do grupo Nokia) anunciaram a inauguração do Laboratório de Estudos Avançados em Redes Móveis de Telecomunicações para incentivar, entre outros projetos, o desenvolvimento de redes de internet 5G.
Quase simultaneamente, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Ericsson revelam que estão juntas em projetos de pesquisa da tecnologia 5G desde 2012, já com três projetos em andamento, e explicam que, com a proliferação de smartphones e tablets e o aumento da demanda pela qualidade do serviço e da experiência do usuário em ambientes externos e internos, as atuais redes não serão suficientes para atender às necessidades e expectativas futuras.
Além disso, novos tipos de tráfego e conexões são esperados, como os provenientes da sociedade conectada e da internet das coisas (leia mais abaixo).
Mas espera aí! Internet 5G como, se a 4G ainda engatinha no país como substituta da velha 3G, que nunca chegou a todos os cantos do país e há muito não atende às necessidades?
Para o professor do Departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais Daniel Fernandes Macedo, as tecnologias 5G talvez sejam oferecidas daqui a uma década e, por isso, o máximo que se pode fazer agora é especular.
“Sempre há alvos de desempenho para cada tecnologia que guiam o seu desenvolvimento. Por exemplo: na época dos primeiros celulares digitais, esperava-se que o telefone pudesse transmitir, em forma digital, a voz com a mesma qualidade de um telefone normal. Considerando as necessidades futuras do usuário, pode-se esperar que a 5G seja capaz de transmitir, em tempo real, vídeos de alta resolução no novo padrão 4K, tecnologia de transmissão que foi testada nesta Copa do Mundo e que já conta com aparelhos de TV no Brasil”, diz.
Para chegar a essa velocidade, segundo ele, as empresas e universidades estão estudando diversas outras tecnologias.
“As antenas inteligentes podem direcionar o sinal para o receptor de forma a diminuir as interferências, permitindo mais transmissões ao mesmo tempo”, informa, lembrando que o uso de frequências mais altas do espectro também será explorado, porque essas frequências são capazes de transmitir maior capacidade de dados. Porém, frequências mais altas são absorvidas mais facilmente, diminuindo a área de cobertura das torres de celulares.
Desafios
De qualquer forma, seja qual for a abordagem tecnológica escolhida, os desafios vão ser grandes. “Praticamente, não existem mais espaços vazios no espectro eletromagnético a serem explorados”, afirma o professor da UFMG, ressaltando que um exemplo é a 4G no Brasil, na faixa de 700MHz. “O governo estuda usar a mesma faixa da 4G dos Estados Unidos para baratear os aparelhos, mas as empresas de televisão já indicaram que existem canais sendo transmitidos em frequências próximas, o que poderia gerar interferência entre a televisão e a telefonia. O mesmo deve acontecer na 5G.”
Para Daniel Fernandes, outro desafio da 5G é aumentar a velocidade de transmissão sem aumentar o consumo de energia. Para transmitir dados em velocidades maiores, é preciso um sinal com maior nitidez, o que é feito muitas vezes com um aumento da potência do sinal. Isso gera maior consumo de energia. “Todo mundo conhece esse efeito de perto: um celular 2G precisava ser recarregado uma vez por semana; hoje, um celular 3G típico pede carga a cada um ou dois dias. O 5G terá que transmitir mais dados e continuar consumindo níveis de energia bem similares aos atuais”, afirma.
Mas, enquanto a 5G procura mais velocidade, segundo o professor, há também tecnologias que buscam o menor consumo de energia e, por isso, transmitem muito menos dados. “Quando pensamos em transmissão de dados com menor consumo de energia, pensamos nos dispositivos compactos, que se alimentam por baterias. É a chamada internet das coisas: um sensor de presença, um medidor cardíaco ou de passos, um alarme doméstico. Para esses dispositivos, uma carga da bateria deve durar de dois a cinco anos e, por isso, todo uso de energia é otimizado. As ‘coisas’ seguramente não vão usar 5G, exceto algumas ‘coisas’ grandes, que serão ligadas à tomada, como uma TV”, completa.
Mais rapidez e estabilidade na conexão
Quando a tecnologia 5G estiver devidamente implantada, tudo vai ser conectado. Para Wilson Cardoso, diretor de tecnologia da Nokia Networks para a América Latina, uma das grandes premissas no desenvolvimento da 5G é oferecer maior velocidade para os usuários combinada com mais estabilidade nas conexões. “Os trabalhos iniciais buscam conectar nossos dispositivos móveis no futuro com velocidades acima de 1GBps, ou seja, as mesmas que são alcançadas com fibras ópticas hoje nas conexões das nossas casas ou empresas”, explica. Segundo Cardoso, outra área que pode ser usada como exemplo é a de internet das coisas, que envolve a conexão de máquinas com a internet, tais como sensores, carros, máquinas de cartão de crédito etc.
“Atualmente, uma máquina de cartão, por exemplo, gasta muita potência para transmitir, pois a rede não tem cobertura perfeita. Com a 5G, imagina-se que a cobertura estará tão avançada que não será preciso despender quase nenhuma potência para transmitir, além de haver uma diminuição na latência (intervalo em que se solicita algo da internet e recebe a resposta)”, revela, salientando que será possível criar softwares cada vez mais inteligentes e capazes de reagir em tempo real, possibilitando, por exemplo, que um carro não colida com outro.
Por falar em internet das coisas, indústrias e especialistas apostam que haverá com a 5G uma verdadeira avalanche de produtos que se integrarão a ela. Apenas como exemplo, isso significa que, com os dispositivos e a tecnologia à mão, o usuário vai poder receber pelo smartphone ou outro gadget informações da sua geladeira – que determinado produto está acabando ou que o prazo de validade de outro está expirando. Também com a velocidade e capacidade de armazenamento propiciadas pela tecnologia, as cidades poderão ficar inteiramente conectadas. Uma cidade inteligente vai poder, dessa forma, identificar situações anormais e enviar informações que ajudem ao usuário, desde que ele também esteja conectado. Situações de trânsito ruim e de como se safar dele são um exemplo de como a tecnologia poderá atuar.
Uso de bandas diferentes
O diretor da Nokia diz ainda que não existe uma definição totalmente clara do que é a 5G, mas que há algumas coisas que começam a ocorrer com a 4G que nos levam a vislumbrar a próxima geração. “E, por isso, talvez essa tecnologia não esteja tão longe. Um caminho seria combinar as diferentes redes hoje existentes (2G, 3G e 4G) em uma rede única, o que levaria as operadoras a oferecerem uma velocidade maior ao usuário. Estamos hoje num processo de pesquisa sobre o que vamos colocar no mercado entre seis a 10 anos, como ocorreu com o 4G.”
Por colaboração agenciada: Silas Scalioni – Estado de Minas