O glifosato, principal ingrediente do pesticida RoundUp, utilizado massivamente em todo o mundo, não deverá ser classificado como substância cancerígena, afirmou nesta quarta-feira (15) a Agência europeia de Produtos Químicos (ECHA).
“A conclusão é baseada em testes realizados com humanos e animais”, afirmou Tim Bowmer, presidente do órgão responsável pela avaliação de riscos da ECHA. A decisão tem um histórico complexo. Em julho de 2016, a Comissão Europeia aumentou para 18 meses a autorização para vender o glifosato, famoso pesticida da RoundUp, do polêmico grupo Monsanto.
Os resultados contraditórios de cientistas sobre o potencial cancerígeno do produto fizeram com que a indústria química e alguns agricultores se posicionassem contra ambientalistas e associações de consumidores que se manifestam contra a utilização do famoso pesticida. O parecer da ECHA será encaminhado para a Comissão Europeia, que será responsável por tomar uma decisão final sobre o caso.
Em março de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (CIRC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o glifosato como substância “provavelmente” cancerígena.
Sete meses depois, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (Efsa), que depende da União Europeia, concluiu, no entanto, que a substância seria inofensiva para os seres humanos, e, em maio de 2016, uma comissão conjunta da OMS e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estimou que, “provavelmente”, não haveria indício da substância ser cancerígena.
Histórico da disputa
Os ecologistas e opositores aos agrotóxicos esperavam há anos a chance de poder bloquear o glifosato, o herbicida [um dos tipos de pesticida] mais usado no mundo, nas lavouras europeias. Mas a União Europeia renovou a licença para a utilização do produto na agricultura do bloco, uma decisão que tem provocado polêmica e oposição declarada de alguns países, como a França.
O glifosato, mais conhecido como RoundUp, é uma das estrelas da multinacional americana Monsanto. Usado intensivamente por agricultores dos cinco continentes, o produto é apreciado pela eficiência no combate a ervas daninhas e por reduzir os custos da produção.
No Brasil, o herbicida também é usado em larga escala: 90% das lavouras de soja e 70% das de milho produzidos no país são tratadas com o produto. O glifosato revolucionou a maneira de cultivo no país, ao viabilizar o plantio direto, com pouco tratamento prévio do solo. O produto da Monsanto se generalizou nos países que adotam cultura de soja transgênica, que são resistentes ao herbicida. É o caso, por exemplo, do Brasil e dos Estados Unidos.